Servido da metalinguagem, o curta “Ryan” emprega
parte da história de Ryan Larkin
“Ryan” é um filme de animação em curta-metragem de 2004, dirigido e escrito por Chris Landreth. O curta venceu o Oscar, em 2005, de melhor curta-metragem de animação. Nele, é relatada a trajetória de um artista magnífico e problemático que poderia ter terminado uma carreira brilhante. Porém, teve o seu destino mudado. Landreth e Larkin executaram projetos de animação juntos, realizados com a assistência da National Film Board do Canadá. Entretanto, o estilo próprio e a substância dos dois artistas são distintos, mesmo com ambos criando produções psicodélicas.
Em seu trabalho, Chris Landreth usa animação CGI padrão (sigla em inglês para o termo Computer Graphic Imagery), junto com o elemento em que Chris nomeia de “psicorealismo”, colocando um caráter surrealista em seu trabalho. Em “Ryan” os traumas psicológicos das pessoas são representados por despedaçamento e deformidades tortas e surreais. Quando as pessoas no filme ficam perturbadas, seus rostos distorcem. Chris Landreth identifica a sua obra como psicorealista para se referir a como “a gloriosa complexidade da psiquê humana é representada através do meio visual da arte e da animação.”
No espectro artístico da forma animada, o trabalho de Ryan Larkin traz imagens frenéticas e também psicodélicas. A composição deslumbra os olhos com um fluxo visual hipnotizante, e, muitas vezes, a consciência se move mais rápido do que a capacidade da mente para processar. Ao mesmo tempo em que as imagens do filme conduzem a sensações de desconforto, a experiência emocional definidora do trabalho animado de Larkin também é estimulante. Ele se distancia das limitações da narrativa tradicional a favor de uma inserção abstrata do espectador. Essa inserção se consegue melhor com uma música comum do que com uma narrativa.
Walking – Ryan Larkin (1968)
O artista pareceu destinado a uma carreia bem-sucedida depois dos influentes curtas-metragens “Walking” (1968) e “Street Musique” (1972). Com estéticas muito semelhantes, os filmes apresentam formas fluidas contra fundos brancos. Ambos apresentam uma animação rotoscópica que foi desenhada à mão em cima das imagens filmadas e destacam a dança e o movimento físico. No entanto, em “Street Musique”, Larkin tem um segmento mais lento e carrega formas biológicas para imagens cósmicas e celestes.
Ryan chegou a consumir substâncias alucinógenas para criar “Walking” e “Street Musique” que influenciaram o estilo visual de seus filmes. Quando foram lançados nos anos 60 e 70, os filmes foram celebrados e concorridos. Eles ofereciam uma agitação de energia criativa crua, sem um significado prescrito, permitindo um número infinito de possíveis interpretações. As imagens se dissolvem e se reconstituem criando uma sobrecarga que mistura felicidade e ansiedade. É uma maneira familiar para aqueles que experimentam inebriantes que alteram a mente.
O vício e o trauma emocional acabou interrompendo a vida criativa de Ryan Larkin. O artista passou a ter que pedir esmola nas ruas de Montreal, no Canadá. E na animação experimental feita pelo companheiro animador Chris Landreth, Ryan aparece sendo entrevistado por Landreth falando sobre a sua vida e a sua carreira de animador antes de ter que se confrontar com o alcoolismo. O enredo passa-se em um mundo em que as cicatrizes emocionais se manifestam em todos como aberrações físicas surreais. No curta, Ryan é um vislumbre estranho e impressionante de Larkin, incluindo a relação às vezes pesada entre criatividade e saúde mental.
Após essa gravação, Landreth constrói algumas maravilhosas e inquietantes imagens geradas por computador. Nelas, fibras de arco-íris traiçoeiras parecem representar a escravidão da dúvida própria. Landreth externaliza o dano emocional passado com desfigurações físicas tanto sobre ele quanto sobre Larkin – a quem retrata com membros magros e esqueléticos e falta a maior parte de sua cabeça. Esse estereótipo tenta demonstrar como um ser humano imensamente talentoso chegou a um lugar em que todos os artistas secretamente temem. Larkin estava diminuído, destituído e consumido com amargura.
Ryan – Chris Landreth (2004)
Quando o filme foi concluído, Larkin, que na época estava com 60 anos, reviveu sua carreira de animador. Em 2002, O artista começou a colaborar com a cantora Laurie Gordon e sua banda Chiwawa. Na parceria, ocorre a criação de um curta-metragem chamado “Spare Change”. Como seu trabalho mais aclamado, “Spare Change” começa com uma sensibilidade no nível da rua antes de se aventurar em uma jornada interna. Ao contrário do trabalho anterior de Larkin, “Spare Change” aparece mais como um videoclipe para a canção ‘Do It For Me’ de Chiwawa. A música é ampliada com alguns momentos autobiográficos sobre a falta de moradia. Em 2007, o animador morreu de câncer no pulmão. O vídeo foi completado por Laurie de acordo com os projetos de Larkin e lançado em 2008.
Por Graziella Ferreira
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