O que a gente tem a ver com a Janis?
Certas vezes estamos ouvindo uma lista de músicas e, muitas vezes, parece que o cantor está nos lendo, incrivelmente sabe tudo que estamos passando e desaguam nossa realidade presente numa melodia que nos agrada e descobrimos várias músicas “companheiras”. Vale a questão, o quanto há de sinceridade nessa relação?
Se tem algo que dá vida ao trabalho de um cantor e músicos em geral, é a sinceridade. A arte da música é um trabalho feito por alguém e então é posto no mundo e cada um irá captar esse trabalho a partir do seu ponto de vista pessoal e único. Portanto, quanto mais sincero o artista for com seu trabalho mais inesquecível ele será. Eles nos marcam ao ter coragem de dizer certas coisas e partilhar conosco sentimentos, sem que seja só pra vender uma mercadoria, mas que seja por amor a arte. Quanto mais amor, mais respeito, não é?
O trabalho realizado por Janis Joplin sempre me cativou. Ela teve uma carreira curta mas muito sincera. Os anos 60 foram gloriosos, o mar estava cheio de bons peixes para quem gosta muito da arte da música. Em muitos aspectos, nós nos parecemos com ela.
Janis teve uma trajetória intensa. Sua saúde mental/psicológica foi extremamente bombardeada durante muitos anos de sua vida, principalmente antes de ser conhecida como cantora. Se sentiu como se não houvesse lugar ou um grupo social em que pudesse se encaixar, uma vez que os estudantes da mesma escola em que Janis estudou chegaram a eleger ela como a pessoa mais feia da escola. Tinha muitas dificuldades em aceitar sua aparência, sendo ela tão rejeitada por colegas de turma e até professores. Esse sentimento de rejeição é avassalador a mente das pessoas e o que varia muitas vezes, é o que vamos fazer com ele.
Veja bem, ela sempre teve um estilo de se vestir menos comum pra sua época, por isso considerado diferente. Tinha um comportamento considerado rebelde. Nasceu em Port Arthur mas se mudou pra Austin. Não foi uma mudança simples, só para ir pra faculdade, foi uma mudança carregada de sentidos. O quanto a mente dela se sentia oprimida por estar na mesma cidade que aquelas mesmas pessoas que tanto a agrediram psicologicamente?
Em Austin ela pôde se organizar de uma forma que fez muito sentido pra sua vida. Ela não idealizou desde muito nova ser cantora, tampouco ser uma cantora imortalizada pra música, ser A maior cantora da época de 60. Mas tudo se encaminhou para isso quando começou a cantar blues e folk com amigos. Ela ainda não tinha consciência do seu potencial, começou a cantar por amor a arte, por precisar nos dizer algo, pra lidar com aquela rejeição que a acompanhou por muitos anos, por querer se divertir e ser feliz. Provavelmente não sabia o potencial de sua voz.
Na música ela era aceita. Como ela se vestia não era o mais importante, se ela tinha espinhas no rosto ou não, o potencial musical não se afeta por isso. Ela poderia ser bonita ou feia, as pessoas se tornaram fãs porquê, indiscutivelmente, sua arte é linda.
Joplin teve muitos ganhos ao se juntar com os rapazes de Big Brother ande The Holding Company, em São Francisco. Tendo seu auge no festival de Pop de Monterey, o potencial vocal de Janis Joplin jamais passaria desapercebido em festival algum.
Ela mudou de cidade pois sua cidade natal se tornou um tanto insuportável de se viver, ela foi morar com amigos num ato de coragem, tendo em vista que ela não tinha garantias indo morar em Austin e São Francisco, ela precisou das drogas para suportar a sociedade, ela não se sentiu aceita, ela descobriu sua vocação, abraçou-a com amor e com sinceridade fez o melhor trabalho possível.
“Não entendeu? A música é apenas sentir as coisas e ter prazer nelas!” Disse Janis Joplin em 1968.
Em 1968 estava com os rapazes de Kozmic Blues Band, com eles cantou no Woodstock, ganhou um globo de ouro. Em 1970 veio a falecer e teve um de seus melhores álbuns lançado, postumamente. O inesquecível Pearl.
E você ainda se pergunta o que tem a ver com a Janis?
Apesar de desaguar em nós uma arte divina, o que levou ela a isso, foi ser a pessoa mais humana possível. Tendo em vista que ela não se negou, mesmo sendo tão difícil ser ela. Assumiu seu estilo diferenciado com relação as mulheres da época, assumiu seus próprios conceitos, se abateu com a crueldade da sociedade, precisou de drogas pra sobreviver e em contrapartida falecer muito jovem por conta delas. Nós não somos iguais em todos os quesitos, mas se tem um, é sofrer pela ignorância alheia em algum momento da vida. Uma pequena parcela da população, brasileira por exemplo, não está dentro dos padrões bem quistos pela sociedade.
Assim como nós, meros mortais, Janis também foi uma que lidou com a arte na medida em que ela precisava ser aceita. Dessa forma, pôde realizar um trabalho sincero que influencia tantos outros até hoje. Influencia musicalmente e como pessoa.
Se tem algo em que almejo parecer com ela, é na sinceridade de conseguir se ‘abraçar’ mesmo com seus defeitos e ser capaz de produzir um trabalho que ajude tantas pessoas. E veja bem, não precisa ser cantora ou famosa para fazer um trabalho que ajude os outros, o que precisa realmente é sinceridade.
Por Letycia Miranda
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