Definido pelo autor como um ‘horror de coming of age’, “O Verão que Hikaru Morreu” é o queridinho da temporada
Japão e horror têm uma relação quase simbiótica — os japoneses são conhecidos pelo seu talento com o perturbador, tanto em obras quanto em lendas urbanas. Quando falamos, porém, de anime, a história parece mudar de figura: parece até difícil elencar uma boa dúzia de obras com a mesma facilidade que temos, por exemplo, com mangá. Junji Ito? Mestre do horror. Suas adaptações? Deus nos acuda.
Tendo já cinco episódios lançados, “Hikaru ga Shinda Natsu” quebrou até o momento duas importantes regras não ditas da indústria. A primeira e mais óbvia é trazer um título de terror em evidência no mainstream — chegando em primeiro lugar da Netflix em alguns países, além dos meios não-oficiais —, a segunda diz respeito a excepcionalidade dos protagonistas serem gays.
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Dando um breve resumo da trama, Yoshiki e Hikaru são amigos de infância inseparáveis. Em um certo dia de inverno, Hikaru desaparece nas montanhas após um acidente de bicileta e morre. Tempos depois ele reaparece, mas seu Yoshiki percebe que tem algo de errado e aquele com quem está conversando, apesar de idêntico, não é seu querido Hikaru e decide confrontá-lo. ‘Hikaru’ mostra sua verdadeira aparência, um monstro eldrítico que confessa ser uma criatura que possuiu o jovem, porém que não se lembra de mais nada, e aos prantos ameaça Yoshiki de matá-lo caso não guarde segredo.

Com o medo de nunca mais ver o anime, Yoshiki aceita, mesmo que a criatura que retenha as memórias do amigo seja um lembrete constante de sua perda. Em paralelo, ele tem que lidar com as dificuldades e estranhezas de amadurecer enquanto casos misteriosos começam a tomar conta de sua cidadezinha, tornando cada vez mais óbvio que a presença desse novo Hikaru tem trazido calamidade entre os vivos.
Envelhecer é assustador
Mas essa não é uma história gay.
Quer dizer: depende. Nas palavras da pessoa quem criou a obra, Mokumokuren, a obra é um “horror adolescente”, ainda que acredite que o gênero da história esteja aberto para debate entre os leitores. Deixamos abaixo a declaração completa.
Minha opinião sobre o gênero de O Verão Que Hikaru Morreu é que os leitores têm liberdade para pensar e isso não mudou, mas como acredito que seja ressoe com pessoas que foram deixadas de fora de histórias sobre amor e sexo, a descrevo como um “horror adolescente”.
Acho que o ponto é o medo comum a muitas pessoas, independente de quem sejam, de não conseguir se tornar “normal”, de não ter o seu lugar no mundo.Acho que não há nada de errado em haver histórias queer que não sejam de romance.
Então, oficialmente, tenhamos cuidado a princípio a colocá-la como uma história de amor.
Além disso, acho que não compreender sentimentos românticos ou desejo sexual é um contexto importante em histórias queer.
Entendo que isso é uma deixa a ser mal interpretado, mas…Criador da série em sua conta no BlueSky; tradução nossa.
Feita essa colocação, dá para entender melhor como a trama ganhou tanta popularidade nas redes, fora da comunidade BL. Desde o começo há algo errado com Yoshiki, ainda não sabemos bem o porquê até o segundo episódio, quando as referências a sexo e atração ficam mais óbvias, porém, como dito, essa não é uma história de amor.

O segundo episódio é também ponto de partida para entender quais são essas angústias e como todo o trauma geracional vai se conectando a algo maior, grande demais para ser ignorado pelo protagonista. Yoshiki é a figura tradicional de um jovem paralizado pelo medo de mudança: noites de insônia, olhos profundos, tentando abafar o som da briga dos pais, e tendo que ouvir a sua vila falar coisas horríveis de sua irmã mais nova, uma hikikomori. E mais óbvio: ele não quer aceitar que Hikaru se foi.
Ao mesmo tempo, o sol nasce no outro dia e o verão continua: cigarras, sorvete, gatinhos; convite para formação de memórias inesquecíveis da juventude dourada (em japonês, juventude forma-se com os caracteres para azul/verde/imaturo, e de primavera), mas esse é igualmente um lugar de horror: esse novo Hikaru é vívido e também ama o amigo, está cheio de encanto juvenil por primeiras experiências que ele já teve, teoricamente, outrora: e isso é desconcertante, mas, novamente, Yoshiki não é capaz de largá-lo.
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A paleta de cores brinca muito com isso, em uma produção que esteticamente não sai muito da caixinha, porém que convence na construção de ambiente. O horror de The Summer Hikaru Died é mais melancólico que gráfico, e não obstante cresçam os paralelos entre a sexualidade e o monstro, não são paralelismos e alegorias que prevalescem, mas o desconcertante medo de crescer.
“O Verão Que Hikaru Morreu” está disponível na Netflix com novos episódios lançando todo sábado.
Imagem Destacada: Divulgação/Netflix

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