Pelo Bem de Adam é sobre mães de todos os tipos
O filme belga “Pelo Bem de Adam” narra a trajetória da enfermeira Lucy, interpretada por Léa Drucker, durante seu turno noturno em uma ala pediátrica de um hospital público que atende, em sua maioria, imigrantes e pessoas em situação de vulnerabilidade. Um dos pacientes sob seus cuidados é o pequeno Adam, um garoto que sofre de desnutrição devido à negligência alimentar de sua mãe — uma ex-detenta vivida pela promissora estrela do cinema francês Anamaria Vartolomei — que se recusa a oferecer ao filho os alimentos prescritos pelos médicos.

Ao longo da breve duração do longa, Lucy dedica-se intensamente às diversas ocorrências que chegam à emergência, mas é em Adam que concentra seus maiores esforços. Caso o menino não apresente melhora, e considerando o histórico criminal da mãe, ele corre o risco de ser encaminhado à guarda do Estado.
É nesse cenário que a cineasta Laura Wandel estrutura sua narrativa, fortemente influenciada pelo cinema realista dos irmãos Dardenne. A câmera acompanha a protagonista em planos-sequência pelos corredores do hospital, registrando cada atendimento com evidente sensibilidade, especialmente porque Lucy, também mãe, projeta seu instinto de proteção sobre cada criança e adolescente que assiste.
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Os travellings e o uso de câmera na mão por Wandel, somados à ausência quase total de trilha musical, intensificam não apenas o realismo, mas também a sensação de urgência e tensão. Os planos fechados na nuca da protagonista reforçam a ideia de que todo o peso daquela realidade recai sobre seus ombros.
Essa atmosfera dramática não seria eficaz sem o desempenho excepcional de Drucker e Vartolomei. A primeira dispensa longos diálogos para transmitir sua determinação em cuidar dos pacientes, já que seu olhar expressivo comunica mais do que palavras. Vartolomei, por sua vez, entrega mais uma atuação marcante como uma mulher encurralada, constantemente vigiada pelas autoridades. Seus olhos azuis profundos e frequentemente marejados, despertam empatia por uma mãe que, apesar de seus equívocos, não merece ser privada do filho. Merece destaque também o trabalho do jovem Jules Delsart, que interpreta Adam com uma surpreendente profundidade e carisma, convencendo plenamente em sua dor.

“Pelo Bem de Adam” reúne todas essas qualidades e ainda aborda com sensibilidade o tema da maternidade, tocando especialmente plateias de mães ao redor do mundo. A obra talvez não desperte uma comoção generalizada, sobretudo entre espectadores de países como o Brasil, onde as disparidades sociais superam aquelas retratadas em uma nação desenvolvida como a Bélgica. Ainda assim, a trama construída é, acima de tudo, intensamente humana, e isso se sobrepõe a qualquer outra coisa.
“Pelo Bem de Adam” foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Vídeo: Divulgação/Memento

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