Deixando de lado musicais e filmes sobre dança, por motivos óbvios: eles não existiriam se as músicas não fossem 2/3 do mais importante em suas produções, há canções que mudam completamente a composição de uma cena, que se torna tão importante quanto qualquer outro elemento utilizado para construí-la, elas estão dentro do filme, mais do que estariam se fossem apenas parte da trilha sonora. Para elucidar o tema, serão citados quatro filmes com momentos memoráveis.
O primeiro é o juvenil marcante dos anos 80 “Curtindo a vida adoidado“. Ferris Bueller resolve tirar um dia de folga acompanhado de seu melhor amigo, Cameron, e sua namorada, Sloane. O trio acaba parando Nova York, aproveitando o dia ensolarado longe da escola e desfrutando de seus últimos meses como alunos do Ensino Médio. Mas Ferris não é uma pessoa comum. Ao invés de tentar passar escondido durante sua pequena traquinagem ele acaba sendo peça central de um desfile de rua e fazendo uma das cenas mais icônicas do filme.
Ao som de “Twist and Shout”, dos Beatles, o protagonista canta e dança, fazendo um grande (e naquela época inexistente) flash mob com a música, e ninguém em cena fica parado, interagindo com a animada canção do grupo britânico. Sem dúvida nenhuma, qualquer outra melodia aqui não daria o mesmo sentido à cena. Ela funciona no contexto do filme porque é animada, contagiante e nenhum pouco clichê: Twist and Shout conversa inclusive com o tema do longa, que é o trio de amigos aproveitando seus últimos momentos de amizade juntos antes do fim das aulas para se agitar e gritar tanto quanto podem.
O segundo é um dos queridinhos dos anos 90, “10 coisas que eu odeio em você“. Conforme foi dito em outra coluna, o filme é uma adaptação bastante moderna de “A Megera Domada”, de Shakespeare. Com todo o imbróglio que há, a produção funciona de uma forma marcante, seja pelo carisma que Julia Stiles e Heath Ledger têm, ou pela química que eles construíram juntos, quem sabe simplesmente por fazer um filme divertido e despretensioso, que funciona e não cai na mesmice ou na pieguice dos filmes adolescentes.Uma de suas cenas é simplesmente maravilhosa demais para ficar guardada dentro do longa: depois de uma briga entre o casal protagonista, Patrick e Kat, ele tem que fazer algo grande e forte para conquistá-la, uma vez que ela não é o tipo de garota que aceita brincos de diamantes como pedido de desculpas. O galã tem a brilhante e louca ideia de cantar para ela “Can’t Take My Eyes Off of You” enquanto ela está na aula de Educação Física. Totalmente proibido, Patrick passa metade da música fugindo dos bedéis, mas Kat acaba perdoando ele. E a cena vira um dos pedidos de desculpas mais fofos de todos os tempos!
O divertidíssimo “De repente 30” traz a talentosa e carismática Jennifer Garner no papel principal de uma mulher que “de repente” acorda com 30 anos, saída diretamente de seus 13 nos anos 80. Diferente de tudo aquilo que ela era, mas igual a tudo que tinha planejado, Jenna tem o emprego dos sonhos, é melhor amiga da garota que sempre desejou quando era uma pré-adolescente e namora um grande astro do esporte. O problema é que ela não lembra de nada daquilo e ainda tem as referências de quase 20 anos atrás (o filme é de 2004).
Tentando se encaixar no emprego que tem, ela acaba fazendo uma performance divertidíssima, com parte do elenco do filme, da música “Thriller”, do rei do pop Michael Jackson. Definitivamente, nenhuma música funcionaria naquele momento como “Thriller” funcionou. Primeiro que sem dúvidas a canção marcou a década de 80. Seja seu ritmo inconfundível, que literalmente podia fazer mortos dançarem, seja Michael que sabia disso e espertamente imaginou um dos vídeos mais memoráveis de todos os tempos, a canção funcionou de uma maneira inenarrável e é possível perceber que os atores desfrutaram muitíssimo a gravação da cena.
O quarto filme reserva um dos momentos mais incríveis de um longa nos últimos tempos. A cena do túnel de “As Vantagens de Ser Invisível“. O filme acompanha os desajustados e desregulados Sam, Patrick e Charlie, seus momentos, dramas e a amizade inquebrável que eles constroem. Com vários personagens, tramas e cenas importantes e interessantes, seria possível discorrer de maneiras infinitas sobre isso.
A obra foge totalmente dos três primeiros exemplos: nada de músicas animadas, nada de declaração de amor. Aqui temos David Bowie tocando na rádio, interagindo diretamente com a cena, montando-a de fato. Esse pedaço só existe porque é “Heroes’ que está sendo tocada e como diz Sam; aquela é a música perfeita para que eles atravessem um túnel saindo em uma ponte que daria uma fotografia impressionante, enquanto eles veem e sentem o infinito. Não fosse por essa música, não fosse por Bowie, a cena não seria tão inesquecível assim.
Às vezes, uma trilha sonora pode realmente ser parte de um filme, mas outras vezes uma música pode ser o gás de uma cena. Claramente, existem outras produções, até mesmo clássicos com momentos musicais inesquecíveis. Porque de música também vive o cinema.
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