O curta de terror “O Limiar da Meia-Noite” está em fase de pré-produção e busca apoio através de financiamento coletivo
Fazer cinema no Brasil é algo de extrema dificuldade e também um sinal de amor ao audiovisual. Por isso, Matheus Magre e o Coletivo Belacqua estão realizando, com muito esforço e busca de apoio de financiamento coletivo, o curta-metragem de terror O Limiar da Meia-Noite.
O curta tem vertentes que envolvem folclore e contos de fadas clássicos com diversas inspirações.
A Woo! Magazine conversou com o ainda estudante de Produção Cultural Matheus Magre para saber um pouco mais sobre essa produção.
Confira abaixo a entrevista
Dan Andrade: Matheus, conta pra gente sobre as suas inspirações para o curta metragem de terror “O Limiar da Meia-Noite”:
Matheus Magre: O curta tem inspirações em algumas fontes bem diversificadas, desde folclore brasileiro até os contos de fadas antigos, que costumavam ser mais brutais, mais misteriosos. Assustadores mesmo. Você percebe muito essa natureza sendo evocada nos filmes do Guillermo Del Toro, por exemplo, que é a principal referência. Algo como “O Labirinto do Fauno” ou “A Espinha do Diabo” misturam essa aura gótica e fantasiosa, com algumas amarguras da vida infantil, e acabam funcionando como rituais de passagem.
Eu gosto muito da maneira como ele constrói criaturas e monstros, e como os universos das histórias deles oxigenam esses seres. Então muito de “O Limiar da Meia-Noite” vem disso. E não só disso, mas de filmes como “As Boas Maneiras”, que faz algo parecido num contexto urbano e brasileiro.
O roteiro original do filme era bem diferente, até que eu vi “Veneno Para Fadas”, filme de terror mexicano, também sobre a infância. Aí eu comecei a olhar a história por outro ângulo. No campo visual, “Suspiria do Argento” é uma referência forte também.
D.A.: Quais são os desafios de produzir um produto cultural como esse, que permeia também outras vertentes, de forma independente?
M. M.: A gente teve muita sorte de conseguir o apoio da Riofilme, por meio de um edital. Mas realizar é, ainda, muito complicado. A gente vive um período de efervescência do terror e do fantástico no cinema brasileiro. Tem muito cineasta fazendo filme no gênero, abraçando as divisões do terror e entregando coisas bem distintas. “O Limiar da Meia-Noite” é um filme com efeitos e criaturas, que tenta replicar essa natureza bem artesanal que a gente vê do Del Toro ou de um “A Hora do Pesadelo”, e por isso, é um projeto ambicioso. Por isso mesmo que buscamos diversas outras formas de complementar a renda, por que geralmente, com curta, a gente tenta fazer algo relativamente mais simples. “O Limiar da Meia-Noite” tem diversas complexidades técnicas, mas também é uma oportunidade boa de aprendizado.
D. A.: Como estudante de Produção Cultura no atual cenário nacional, quais são suas perspectivas para esse projeto e projetos futuros?
M. M.: Bom, eu quero muito fazer um filme satisfatório, tanto pra mim como pra equipe. Isso é importante. Além disso, eu quero que seja um filme onde cada área seja contemplada. Então tem elementos de som, de fotografia, de figurino, de maquiagem, que eu acho que conseguem fazer ele se destacar um pouco e que obriga a gente a pensar em maneiras criativas de executar. Por isso, eu espero que o filme seja um trabalho que ajude a equipe a criar ou desenvolver essa bagagem, e que ao mesmo tempo abra portas pra se inserir no mercado. Principalmente veiculando a obra em festivais e mostras. As vezes alguém desconhecido vê o filme, e se impressiona com algum elemento específico e fica com vontade de trabalhar com a pessoa que cuidou daquela parte, sabe?
D. A.: Sabemos que você possuí um interesse muito grande pelo folclore nacional. De onde surgiu esse interesse e como esse universo rico inspira sua criação?
M. M.: Bom, os contos de fadas, antigamente, eram histórias folclóricas mesmo, contadas oralmente e que depois passaram a ser coletadas em livros. E parte do filme bebe dessa tradição antiga e mórbida. Ao mesmo tempo que influencia o tom e atmosfera (eu sempre me refiro como uma obra de terror e fantasia), o folclore brasileiro tem personagens bem marcantes.
Na primeira versão do roteiro, o vilão principal era o “Homem do Saco”. Eu fui mudando isso, por que queria um personagem diferente, mas a construção da mitologia por trás dele ainda evoca muito do “Homem do Saco”, “Papa Figo”, esses bichos papões, sabe? O corpo seco também influenciou muito a narrativa de origem do Costureiro, o antagonista principal, e até um pouco do design.
Folclore brasileiro é algo que sempre me inspirou e fascinou muito, desde a infância. Eu costumava ficar lendo livros ilustrados, abecedários, sobre esses personagens. Gosto de estudar e traçar as participações deles em obras audiovisuais, por exemplo. E acho que reimaginar, filtrar o folclore brasileiro é um exercício constante de imaginação.
D. A.: A gente sabe que seu projeto atual passa por um financiamento coletivo. Como as pessoas que possuem interesse podem encontrar vocês? E, além de recursos financeiros, como produto independente, quais outras formas de apoios vocês estão buscando?
M. M.: Estamos fazendo a campanha de financiamento coletivo pela Benfeitoria. O link pode ser acessado na descrição do nosso Instagram. Além disso, nós estamos elaborando uma cartilha pra buscar possíveis apoiadores e patrocinadores pro projeto, especialmente apostando na visibilidade que o gênero tem, dentro de mostras e festivais. Essas parcerias visam, tanto apoio financeiro, como materiais, para maquiagem ou figurino. O filme é uma realização do Coletivo Belacqua, então estamos buscando apoio de algumas marcas que transitam nosso entorno.
D. A.: Agora, enquanto não está pronto “O Limiar da Meia-Noite”, quais outros projetos que você já fez ou está fazendo as pessoas pode conhecer? E como é possível encontrá-los?
M. M.: Eu dirigi, anos atrás, um documentário sobre a dublagem brasileira, chamado de “Versão Brasileira“. Também roteirizei e produzi um curta de ficção científica chamado “Manual de Sobrevivência dos Ratos Modernos”. Ambos estão no Youtube.
Nesse mês de maio, eu lancei um podcast sobre Zé do Caixão, chamado “Mojicast“, e vão ser 07 episódios, com diálogos entre eu e o Daniel Gomes, criador do Cultural Reset, outro podcast que trabalho com ele. Além disso, meu último trabalho como diretor foi o curta de terror “As Ruínas do Cinema Khouri”, através do EncontrArte Audiovisual, que estamos enviando para algumas mostras e festivais. Sempre que ele é colocado em uma eu divulgo.
D. A.: E imaginando o futuro, como descreveria o resultado final de “O Limiar da Meia-Noite”?
M. M.: Eu até falei sobre isso, ao inscrever o projeto em edital. Mas eu torço por um filme que valorize e de alguma forma influencie entusiastas a buscarem formas de trabalhar com efeitos de maquiagem em produções, mesmo independentes. É algo bem caro e complicado, mas acho bem interessante, principalmente esse aspecto de criação de monstros, justamente pela natureza artesanal.
Quero muito que o filme seja essa obra de horror e fantasia melancólica sobre a infância, afinal, ela lida com esses conflitos entre o mundo adulto e o mundo das crianças. Toda a equipe está se esforçando bastante para fazer um filme bonito de se ver, de se ouvir, e que seja uma referência positiva no gênero, especialmente em meio a tantas dificuldades.
D.A.: Por fim, reservamos esse ultimo espaço para você divulgar o seu trabalho, as redes sociais onde a gente pode encontra-los e, caso queira, pode deixar uma mensagem para quem está lendo:
M. M.: Bom, meu perfil no Instagram é @majortom_42. O curta é uma realização do Coletivo Belacqua, e dá pra encontrar tanto no Instagram como Facebook. O filme tem perfil próprio nas duas redes e também no TikTok.
Lançamos a chamada de elenco agora em maio e queremos focar num elenco majoritariamente negro, então é uma boa chance para atores e atrizes se inscreverem.
Quanto a mensagem, eu gostaria de pedir que cada um que leia, se possível, contribua com a nossa Benfeitoria, pra gente poder realizar o filme da melhor maneira possível, mas também o apelo para maior visibilidade e apreço pelo cinema brasileiro, especialmente nas dificuldades que nos encontramos. Tem muita coisa boa sendo produzida, que as vezes passa completamente despercebido. Cinema brasileiro não é só comédia ou palavrão, como o senso comum costuma ditar. E tem muita coisa nossa que dá um banho em filme estrangeiro.
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