Medi 1 xícara e meia de açúcar, 100 g de manteiga, misturei até ficar enfarinhada, juntei 3 ovos, misturei novamente, adicionei 2 xícaras e meia de farinha de trigo e 1 xícara e meia de fubá. Misturei. Deitei o leite e o fermento. Forrei a forma com papel manteiga e levei ao forno. Fui até a  janela, não sem antes lavar a louça e limpar a pia. Da janela, eu via a vizinhança quieta e as árvores sendo embaladas pelo vento, e o dia passava lentamente. Mas a vida não é tão simples como uma receita de bolo.

Mais uma vez, o ano começou tudo sempre igual. Acordei às 6 horas da manhã para constatar o de sempre: o ano novo é apenas o dia seguinte, os problemas continuam os mesmos. No meu peito, uma estranha solidão. Estranha, porque eu gosto de ficar sozinho. Era uma solidão diferente. Eu estava sentindo falta das coisas que eu queria, que eu sempre busquei, e até agora não encontrei. Acho que sentia falta de ser feliz, ou de estar ao lado de alguém feliz.

Uma vez, eu ouvi alguém dizer que não devemos acreditar em tudo que os outros dizem a nosso respeito, até mesmo quando falam coisas boas, porque nem sempre são verdadeiras. Nem sempre somos capazes de fazer as coisas que as pessoas dizem que somos. Pessoas que estão à nossa volta, por gostarem de nós, elas superestimam a nossa inteligência e sabedoria, e as vezes nos tornamos seres de vidro, frágeis e sujeitas a uma miríade de frustrações. Mas antes de decepcionar as pessoas, nos decepcionamos a nós mesmos. Nossa vida não reflete a nossa fama de sábios, de pessoa preparada, próspera e capaz. A gente muitas vezes ajuda a construir o caminho dos outros, contudo, não conseguimos o nosso próprio caminho. Nossas veredas parecem tortuosas e nos afastam cada vez mais dos nossos fins.

Outro dia, eu descobri algo a respeito de um amigo, a quem eu amo muito. Ele não me tem como amigo. Eu sei que ele pode fazer muitas coisa por mim. Porém, ele capaz de ver meu sofrimento e não fazer nada, ficar impassível. Entretanto, eu posso estar errado. Ele é muito rico e nada do que ele der vai lhe fazer falta. Ele tem tudo o que deseja e nada lhe é impossível. Digo isso com um pouco de mágoa, não nego. Tenho, mesmo, muito medo de estar errado. Infelizmente, não existe uma fórmula mágica para tocar o coração desse amigo, como uma receita de bolo.

A passagem de ano é uma data que exige uma manifestação de alegria, de felicidade, e nesses dias eu prefiro me ausentar do mundo. Não fosse a esperança de que tudo que eu estou passando acabe em breve, muito em breve e que eu possa contar com a mão fraterna do meu amigo, que eu possa ter a constante presença dele na minha vida.

Bolo assado, bolo pronto. Por que não é assim tão simples com a minha vida? Não me resta outra opção senão continuar  a semear de manhã e ao entardecer, e lançando o meu pão sobre as águas… Bolo frio, pronto para comer. O que você prefere? Chá, suco ou café? A felicidade poderia ser assim (quem sabe é), feita de escolhas, simples, como uma receita de bolo.

Por Ivo Crifar