Você sabe como aqueles que eram tidos como loucos eram tratados no século passado? Com intuito de informar a respeito, a autora e historiadora Patricia Lessa em parceria com a ilustradora Jéssica Fiorini Romero lançam a biografia “Nise da Silveira“, primeiro volume de um projeto promissor — seguindo a toada desta primeira edição.
O livro, que abre a coleção “Lute como uma garota” da Editora Appris, é um acerto em várias frentes. Em primeiro lugar a escolha de como começar essa coleção: apesar de Nise ser uma das vozes mais importantes do Brasil, deve-se admitir que é uma heroína relativamente apagada na história, sendo esta uma oportunidade para os mais velhos também se interessarem e conhecerem mais a respeito da principal causa por qual lutou.
Em uma época em que estudar era coisa apenas para homens, Nise ingressou na faculdade de medicina e, contrariando as expectativas, não apenas se formou como era destaque no que fazia.
Essa não é, contudo, a única frente do livro. Ao que a história de Nise seja o título e destaque, em segundo plano temos a moldura da narração de Dona Ivone Lara, que não é apenas a autoridade no samba, mas também personagem importante no quebra-cabeça da luta antimanicomial, afinal, esteve na linha de frente pela causa, enquanto profissional da saúde.
Há de se levantar a razão de sua escolha para agregar a história – pontualmente esclarecida na primeira página – e que deixa no ar um gosto de quero mais. Sendo Ivone, que agrega também poeticamente, já não dá para evitar comparações sobre futuras sequências sem esse bônus de duas histórias em uma. Veja bem: pontuada apenas na abertura, fica também a curiosidade dessa história que é pouquíssimo lembrada.
Dizem, com razão, que forma e conteúdo são indissociáveis. A impressão que um leitor adulto tem da obra é de que imagens e texto não foram produzidos à duas mãos, mas uma — com a exceção, claro, dos demais profissionais que compõe a edição e finalização de um livro – dada a sintonia dessas linguagens.
Falar com crianças não é uma tarefa fácil – e quem trabalha ou as tem na família sabe bem. Um bom livro para este público é provocativo, ao que estimula e não subestima suas capacidades – sem fugir de uma linguagem própria que os atravessa, que apenas parece simples (mas não é).
Se hoje, apesar de retrocessos, o tratamento psiquiátrico não há de ser uma torturante sentença de morte como há não muitos anos atrás, isso é graças à Nise e outras tantas pessoas que estiveram ao seu lado e vieram depois. Temos aí uma prova que é possível (e devemos) tratar temas delicados com os mais jovens sem perder a espirituosidade quando possível; e quem sabe também um presente diferente para aquela sobrinha ou sobrinho na fase das primeiras descobertas?
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