Canção do exílio
Para Gonçalves Dias
Minha favela tem miséria,
Onde sofre Mariá.
As pessoas que aqui descansam
Saem daqui, sem querer, para trabalhar.
Nosso bolso tem tristeza,
Nossa gente tem mais dores,
Nossos filhos não têm mais vida,
Nossa vida só horrores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá.
Minha favela tem miséria,
Onde sofre Mariá.
Minha favela tem pavores,
Que tais não encontro lá.
Em cismar, sozinho, á noite,
Mais sufoco encontro cá.
Minha favela tem miséria,
Onde sofre Mariá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu saia de cá;
Sem que eu desfrute os primores
Que só encontro por lá.
Sem que ainda rico eu volte,
Onde sofre Mariá.
André D’Soares
Não é todo mundo que lê poesia, como também não são todos que são capazes de escrevê-las. E é com um poema do livro de André D’Soares que iniciamos essa resenha. Em “Poesias que escrevi com fome” – seu segundo livro – temas, como desespero e denúncias de diferentes tipos, entre eles, machismo, preconceitos e o sofrimento com a indiferença que o mundo nos mostra vêm a tona.
Nascido na periferia da grande São Paulo em meio à pobreza – lugar onde ainda vive –, André D’Soares escreve para se refugiar de todo o sofrimento que já passou, isso tudo se deu quando perdeu o seu irmão para a depressão e seu amigo para as drogas em 2014. A sua escrita começou como uma forma de desabafo, em meio ao luto, pois foi a forma que encontrou para diminuir a sua dor.
O lugar onde vive, um ambiente hostil, principalmente para um escritor e para quem deseja viver de literatura, é o lugar de onde tira a matéria-prima para as suas poesias.
“A poesia, para mim, representa uma espécie de êxtase, prazer. Vá lá: uma anestesia que trata as minhas dores” André D’Soares
As suas poesias trazem temas de extrema relevância na sociedade em que vivemos hoje em dia. Principalmente, porque vivemos em meio a tantas injustiças e preconceitos, diante de um mundo informatizado e de luta por direitos. Assim, ele mostra todo o seu humor corrosivo e um senso de realidade quase que pessimista. É importante ressaltar que ele e suas poesias são um só, trazendo um eu-lírico angustiado e inquietante, em busca de justiça.
Em “Poesias que escrevi com fome” é impossível não sentir empatia e muito menos não sentir o tom de desespero em que o autor se coloca e que expõe em seu livro.
Assim, ele perpassa entre poesias que mostram o seu desespero em viver em um lugar em que não tem nenhuma proteção, dos amores mal-resolvidos e de todas as suas decepções.
A poesia por si só já faz com que paremos para raciocinar, independente de qual tema seja, e nesse livro não é diferente. Pois, mesmo com uma estética simples mostra para o que veio. Além disso, o livro é muito bem feito, em preto, branco e tons de cinza, além de ser muito fácil de ler e com um vocabulário simples.
Publicado pela pela Editora Penalux e lançado esse ano (2017), é um livro que vale a pena ser lido. A Editora fez um ótimo trabalho, mostrando o quanto o simples pode ser tão rico, investindo em um escritor que se encanta com as poesias e investe nelas com o intuito de causar reflexão diante de todos os problemas que vivemos no curso de nossa vida. André tem como principal objetivo, por meio de sua poesia, tocar o leitor, de forma que o derrube, obrigando-o a pensar. E é isso que acontece em “Poesias que escrevi com fome”. E mais, o autor é um exemplo de quanto a literatura pode ajudar a se reerguer:
“Foi um prazer que encontrei sob os escombros. E é um prazer que tentarei manter durante toda a vida. Escrever, revisar, montar uma obra e compartilhar com amigos, com alguns leitores.” André d’Soares
*As falas de André D’Soares foram retiradas do site “Divulga escritor”, que podem ser encontradas em “Divulga escritor – André D’soares”.
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Lindo! Lindo!
Muito obrigado, Sabrina!
Que bom que gostou!