Rose of Nevada é tecnicamente ousado, nada além disso
O longa britânico “Rose of Nevada” é, antes de tudo, uma demonstração cinematográfica de apuro técnico e estilo singular, já que foi filmado em 16mm com uma clássica câmera Bolex. O resultado é uma razão de aspecto reduzida, cores intensamente saturadas e aquele encantador grão de película que confere à imagem uma textura quase tátil.

Essa escolha estética se justifica plenamente, pois o tema central do filme dirigido por Mark Jenkin é o impacto corrosivo do tempo. Assim, o visual envelhecido da fotografia contribui para narrar a história de uma embarcação que retorna ao porto de um vilarejo pesqueiro após anos desaparecida, sem qualquer sinal de sua antiga tripulação. Pouco depois de sua reaparição, o barco é novamente lançado ao mar, desta vez com dois jovens marinheiros e um capitão experiente encarregados de obter uma boa quantidade de peixes. O dilema surge quando, após dias em alto-mar, eles retornam para descarregar a carga e percebem que viajaram no tempo, regressando ao passado.
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É digno de reconhecimento o fato de os realizadores de “Rose of Nevada” optarem por uma abordagem técnica arrojada para contar sua história, ao mesmo tempo em que se aventuram pelo terreno instável das viagens temporais — elemento que pode transformar a obra em um cult admirado ou em um fracasso retumbante, do ponto de vista artístico. No entanto, o filme não se enquadra plenamente em nenhuma dessas categorias. Há aqui uma ideia promissora e uma execução visual ousada, mas o restante é envolto em uma camada de enigma tão densa que dificulta qualquer elogio ao conjunto.

Ainda assim, é possível destacar a poesia das imagens impressas nas películas antigas e desgastadas, que revelam a ferrugem dominando uma cidade esquecida pelo tempo, ou o drama de um pai que deseja retornar ao lar e reencontrar sua esposa e filha. O entrave está na ausência de vínculo emocional com esse vilarejo ou com o protagonista, tornando “Rose of Nevada” uma obra essencialmente desprovida de alma: visualmente deslumbrante, especialmente para o cinéfilo fascinado por discussões técnicas, mas consideravelmente monótona em sua entrega final.
A impressão que fica é a de uma peça de pesquisa acadêmica, que utiliza tecnologia analógica para evidenciar a beleza dos filmes do passado, livres da assepsia digital contemporânea, mas que falha em envolver, comover ou surpreender artisticamente — o que, sem dúvida, é lamentável.
Este filme foi visto durante a 49 Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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