Assistido na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário “Salão de Baile” traz para as telas a cultura ballroom, que é um movimento político e de entretenimento que surgiu na década de 1970 nos subúrbios de Nova Iorque, criado por mulheres trans afro-latinas e americanas.
No Brasil, essa cultura se espalhou rapidamente por todas as regiões do país, vem se reinventando e é baseado em batalhas de danças para apresentações em grupos que se definem por nomes de “Casas”.

O filme dirigido por Juru e Vitã, é vibrante, nos coloca no meio da cena e nos fornece todo o contexto que precisamos para entender o que realmente é uma cultura de resistência em forma de dança e performances tão divertidas que invadiram a sala do cinema na mostra, arrancando aplausos e torcidas, pois embora destaque um momento de reunião no Rio de Janeiro, tenta fazer justiça às histórias dos participantes de todo Brasil que em sua maioria que são negros e da comunidade LGBTQIAPN+.
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Filmado no ano de 2022 em São Gonçalo, Niterói, é um convite à platéia e ao público em geral para conforme apresentação das diretoras em exibições pela Mostra, trazer o conhecimento do que é o ballroom em todo seu contexto, sobre o tempo que separou as filmagens das exibições e que por isso, informam que muitas coisas mudaram no filme, pois até 2024 Casas surgiram, mudaram ou se extinguiram.
E é nesse ambiente de cor e brasilidade, que as histórias das participantes cariocas são contadas, contrastadas e reveladas, pois mesmo em um ambiente de dança e diversão entre iguais, há disputas de vaidade, rivalidades hostis e até conspirações que denotam as tensões pessoais entre seres humanos marginalizados pela sociedade e cujas preocupações vão além de existir e sobreviver.
Nos registros das batalhas entre as Casas é que reside a parte da diversão, filmadas com uma límpida fotografia a permitir que todos os detalhes das performances sejam capturadas das formas mais criativas e cinematográficas possíveis, com cada passo trazendo os melhores dos estilos de dança sendo o destaque maior o Vogue , que não foi inventado pela Madonna, que aliás, o pessoal da cena trata como uma apropriadora, visto que a origem é justamente nos primeiros ballrooms de Nova Iorque nos anos 70 como mostra uma passagem filmada como um sonho, um conto de fadas em que o a Princesa e a fadas são LGBTQIAPN+, deixando claro que essa é uma história deles e delas e há também desfiles como Runway ou Catwalk, Concurso de Beleza, Batekoo, etc!
Como o mais importante são as percepções das pessoas que assistem, as atenções são voltadas para histórias de luta, resistência e ancestralidade que reside naqueles corpos que dançam, vibram, se requebram e vivem, em uma espiral de consagração e pertencimento onde são elus quem decidem e executam as regras de convivência nesse espaço que criaram.
As histórias dessas pessoas marginalizadas pela sexualidade não são novidades no cinema e nem nas experiências de vidas dos que nunca assistiram um filme na vida, estão por todos os lares desfeitos, na falta de emprego e nas oportunidades escassas pelo preconceito.
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Filmes como esse ajudam a expandir a percepção de todas as pessoas, ainda mais por todo cuidado, carinho e admiração pela forma que o tema é abordado pelos diretores eles próprios da cena ballroom, entendem do que mostram e traçam um caminho claro das suas pretensões, trazendo as agruras, dificuldades, e perrengues, mas com a esperança de conseguirem através da sua arte, um caminho de resistência pacífico, feito de arte, esperança para divulgação da cena e mais uma oportunidade de reafirmar a humanidade das pessoas que deveria ser natural, mas pela nossa sociedade preconceituosa é uma batalha diária.
Porém, faltou a visão de mais pessoas fora da comunidade abordada, para um constraste sobre a luta dos participantes do ballroom.
De qualquer forma convite aceito e missão cumprida diretoras, pois troxe toda potência cultural e artística da comunidade LGBTQIAPN+ periférica, mas sempre resistente.
Imagem Destacada: Divulgação/Couro de Rato

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