Sant Jordi: conheça o festival na Espanha que celebra a literatura

A Diada de Sant Jordi (do catalão “Dia de São Jorge”) é a principal festa catalã do ano, homenageando o santo padroeiro da região. O curioso dessa data? Embora celebrada de maneiras diferentes por regiões membras da antiga Coroa de Aragão, é na Catalunha que a data ganha potência de Festa do Livro.

A data é celebrada todo ano no 23 de abril, coincidindo com a morte de Miguel de Cervantes e William Shakespeare, dois dos maiores autores da literatura mundial, remontando a uma iniciativa de livreiros em 1929 de promover uma iniciativa do tipo.

Porém, as festividades do santo padroeiro se misturam ainda mais quando retornamos ao Século XV, quando surgiu a tradição dos apaixonados trocarem rosas em uma feira de Barcelona. Assim, o Dia de Sant Jordi mistura igualmente a distribuição e troca de livros entre amantes e colegas, recebendo o alcunha de “Dia de la Rosa“.

Celebrando autores locais

A maior parte das pessoas provavelmente deve passar a vida sem saber da existência da língua catalã, ou pensando se tratar de um dialeto do espanhol, quando na verdade ela é tão incompreensível para falantes de castelhano quanto para nós.

Apesar disso, o povo catalão possui um forte senso de valorização cultural, mantendo a língua viva e forte a despeito de séculos de domínio (linguístico, social) espanhol, e mesmo proibida durante a ditadura (1939–1975), o que conversa com como, apesar de poucos, são tão onipresentes na cultura pop.

Dom Quixote? Teve influências de Tirant lo Blanch, clássico livro de cavalaria de Joanot Martorell. “A Pele Fria” e “A Praça do Diamante”? Todos grandes clássicos modernos, respectivamente de Albert Sánchez Piñol e Mercè Rodoreda. Há recomendações para todos os gostos, e valorizar as letras nacionais é uma forma de manterem-se conscientes e ativos.

Algumas recomendações

É sempre interessante fazer a reflexão sobre quais são as nossas referências; são, afinal, as vozes que ecoam dentro de nós. Quais os países de origem? Que línguas fala? Qual seu gênero? E etnia? Nessa subseção, deixaremos três pequenas recomendações de autores catalães — os três acima citados — pois, apesar de serem populares, são uma ótima oportunidade de abrir portas para leituras além do rígido ciclo Brasil-Portugal-Inglaterra-França-Rússia-Alemanha.

1 – Joanot Martorell

Se Cervantes é o pai do romance, possuindo o feito de ter a obra não religiosa mais traduzida do mundo, Martorell possui seu lugar de prestígio na literatura mundial por ser um clássico de seu tempo, a ponto de influenciar o autor de Dom Quixote de la Mancha a debruçar-se sobre seu estilo de escrita engenhoso.

A referida obra, em português “Tirante o Branco” é uma extensa épica medieval das peregrinações do protagonista homônimo, que se consagra nobre cavaleiro de suas terras, a Inglaterra, duelando com outros cavaleiros, mas também, posteriormente, retomando Bizâncio do controle dos “temidos turcos”.

2 – Mercè Rodoreda

Tida como a grande dama da literatura catalã, Mercè Rodoreda é imbatível nas vendas mesmo após sua morte, e é até uma injustiça que se fale de literatura da Espanha sem citar esse fenômeno que é a autora. Já mencionamos em outro artigo sobre a maestria em capturar a essência de sua época no seu mais famoso romance, “La plaça del Diamant“, então por que não citar outro?

Em um favorito pessoal deste quem vos fala, “La mort i la primavera” acompanha uma vila passadista na qual não sabemos bem onde está, mas que os habitantes possuem algumas crenças estranhas envolvendo vida e morte. Meio a isso, o jovem Colometa irá desabrochar ao que descobrirá os segredos deste lugar que imaginava conhecer. Gosta de “A loteria” de Shirley Jackson? Essa ambientação pode te empolgar.

3 – Albert Sánchez Piñol

Mais conhecido pelo best-seller “La pell freda”, adaptado para o cinema, acompanha a história de um rapaz que aceita uma proposta de emprego como meteorologista numa isolada ilha no Ártico. Lá, ele entra em contato com criaturas meio-humanas e meio-monstro, com as quais sua aproximação lhe farão questionar os limites de sua sanidade e humanidade.