“Não é cinema?” O que é então?
Nos últimos dias, a internet tem andado polvorosa com o lançamento de “Coringa” e com os comentários de Martin Scorsese sobre as produções da Marvel. Muito tem se discutido sobre o real valor dos filmes de homens fantasiados de colã, e como diria Jack, o Estripador: vamos por partes.
Sobre os comentários de Scorsese; aqui partiremos de um ponto básico que muita gente leiga parece não ter entendido. Sim, os filmes do MCU são “cinema”! No sentido mais puro da palavra. Mas o que ele está se referindo, obviamente, é um sentido mais interpretativo. Quando ele diz “não é cinema, é espetáculo” está deixando claro que sua crítica é ao teor industrial dos longas
Dito isso, ele está errado? não! De fato, a Marvel tem prezado cada vez menos por uma identidade artística, e mais por características mercadológicas (a demissão de Edgar Wright, e a briga de Joss Whedon são bons exemplos disso). Adotando essa abordagem não é de se estranhar o comentário “não é o cinema de seres humanos que tenta transmitir experiências emocionais e psicológicas a outro ser humano”.
Claro que o boom da discussão vem por conta do momento. Boa parte dos comentários feitos por defensores do corporativismo cinematográfico da Marvel (sim, essas pessoas existem), tem louvado o “Coringa” como “o melhor filme baseado em quadrinhos nos últimos anos”. Boa parte disso vem do filme adotar elementos da Nova Hollywood (movimento de qual Scorsese fez parte); além dos paralelos com “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia”.
O mais irônico, porém, é que poucas pessoas parecem notar sobre o “Coringa“. Ele basicamente recusa seu status de baseado em quadrinhos. Como apontou o crítico de cinema e ensaísta João Paulo Viana (“Tralhas do Jon“). O “valor artístico” do longa, vem justamente da emancipação de signos, características e temas frequentemente abordados em filmes de super-herói. Fazendo assim do filme uma tentativa de arthouse, envergonhado de seu material original.
Essa discussão sobre o valor “artístico” de determinado filme, é muito válida, mas quando ela é aplicada a super-heróis, soa um tanto quanto antiquada. Se em 2008 “O Cavaleiro das Trevas” provou a capacidade dramática do gênero, em 2016 “Legion” cimentou de uma vez por todas qualquer limitação. Se há, porém, algo que impede os super seres de serem, definitivamente, vistos como arte, é o tratamento industrial/mercadológico de seus filmes – o que, por coincidência, é crítica feita Scorsese.
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