De início, assistir a uma série, com uma língua tão peculiar, vai assustar. Os aparentes grunhidos que saem nas falas e até mesmo o ritmo tão peculiar de cada cena fará com que o telespectador, acostumado com tudo “made in USA”, ache que não vale a pena continuar. “Skam”, apesar de destoar da lista dos demais programas em vários quesitos, vai marcar seu lugar vip entre os dramas adolescentes.
Com cada temporada sendo a perspectiva de um personagem específico, a obra juvenil de Julie Andem, passada na Noruega, especificamente, em Oslo, mostrará a vida cotidiana dos adolescentes do colégio Nissen. Com todos no ensino médio, até mesmo o jeito de se referir aos anos terá uma diferença. Os alunos do primeiro ano são conhecidos como os nascidos em 99’; os do segundo, em 98’ e os veteranos são os de 97’, com quem não se deve sonhar em mexer.
Na primeira das quatro temporadas, o foco é na personagem Eva (Lisa Teige), uma garota de 16 anos que namora Jonas (Marlon Valdés) e tem o mesmo círculo de amizade do namorado, isto é, Isak (Tarjei Sandvik). O trio vive colado, o que acaba sendo um tanto desconfortável quanto a falta de privacidade e momentos sozinhos entre o casal. Dessa forma, o bloco de dez episódios, vai narrando as complicações no relacionamento de Eva e Jonas, assim como os novos contatos da protagonista com um grupo feminino. Devido à necessidade de achar um ônibus para ir a formatura, Eva acaba se juntando a mais quatro garotas, que nunca haviam se falado: Vilde (Ulrikke Falch) e sua melhor amiga Chris (Ina Svenningdal), a muçulmana Sana (Iman Meskini) e Noora (Josefine Frida Pettersen). Apesar da ausência de similaridades de personalidade e estilo de vida, elas se unem e criam uma forte amizade.Quanto a segunda temporada, o olhar de todos é o mesmo da personagem de Josefine, melhor amiga de Eva. Com os pais ausentes, Noora vive em um apartamento compartilhado com mais dois estudantes, Eskild e Linn. Apesar de não aparecerem na temporada de estreia, os dois participam recorrentemente da vida da colega de quarto, sempre opinando e servindo de ombro amigo quando o relacionamento com William (Thomas Hayes) tem seus altos e baixos.
Já na terceira, a história sai do grupo das meninas e resolve invadir a privacidade de Isak, o melhor amigo de Jonas. Essencial para entender todo o antes e o depois, essa terceira temporada contará, para o público, a visão de como é se assumir para as pessoas que você convive e quanto sofrimento existe por trás de cada decisão. Sendo o período da transição do protagonismo feminino, ela vem para abalar os tabus e esfregar na cara de todos que, não importa o quão difícil seja, Isak vai conseguir ser feliz.
Em sua quarta e última temporada, apesar de voltar para o clube da Luluzinha, contar a história de Sana não foi fácil. Uma muçulmana em um grupo de meninas tipicamente norueguesas fará com que, esperançosamente, haja uma humanização entre os telespectadores. A atriz, que também é muçulmana, sensibilizará a todos e mostrará que, não importa a sua fé e seus costumes, Sana é uma garota de 17 anos que também sonha em se casar e também tem medo de não ser correspondida pelo garoto bonito que anda com seu irmão.
Ao todo, com os quarenta e três episódios disponíveis, a série trouxe cenas mais longas que o costume e não se preocupou com nenhuma padronização quanto ao tamanho dos episódios. Podia ser de 15 a 50 minutos, dependia do que era preciso ser contado. Inédito de tudo aquilo que os amantes de séries já testemunharam, a história do grupo de amigos do Nissen veio para se certificar de que ninguém está sozinho no mundo; todos passam por desilusões amorosas e términos; o que, agora, é o fim do mundo, amanhã, você vê o arco-íris. Ou seja, a lição que a obra norueguesa oferece está nas entrelinhas. Não é óbvio, mas dá para captar.Da forma que Julie Andem disponibilizou os conflitos e dilemas dos personagens, seria possível ter inúmeras temporadas a mais – o que até era o combinado. Além de organizar toda a linha do tempo de forma original, o conteúdo existia fora desses minutos oficiais oferecidos. Com a tecnologia da transmídia, Eva, Noora e os demais ganhavam vida e tinham contas no Instagram e ainda era viável receber prints das conversas particulares entre os casais da série. Em certo momento, essa escolha até prejudicou o entendimento de certas situações, como o caso entre Eva e um amigo de William.
Apesar de alguns detalhes modificáveis, a obra acerta em cheio na tentativa de conquistar um público tanto adolescente quanto adulto. Finalmente, a utilização de atores compatíveis com a idade proposta na ficção é um dos pontos importantes a serem destacados. Afinal, é sempre bom deixar mais verossímil com o mundo que vivemos.
Como uma espécie de obra de arte e sabendo que esta foi feita para tirar as pessoas de sua zona de conforto, “Skam” atinge uma análise excepcional do microcosmo adolescente e nos mostra que não sabemos ao certo o que o outro, ao nosso lado, está tendo que lidar. Sendo assim, seja gentil. Sempre.
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