Às vezes é fácil achar que a cultura nerd e geek finalmente é aceita. Mas, nas últimas semanas, observamos situações que fazem parar e pensar: sim, há um lugar para o “ser nerd”, mas parece ser apenas um lugar de tolerância. Se acostumaram conosco, e desde que fiquemos ali no canto, quietinhos, está tudo bem. Se não exigirmos ou invadirmos espaços, ninguém nos incomoda mais. É claro, existem preconceitos mais sérios (e muito mais graves), mas quando a cultura “nerdeira/geekeira” se torna um estilo de vida, vale a discussão sobre o quanto ela significa.
Uma das situações que serviu de “combustível” para este texto de hoje, foi aquela sobre a mãe que brigou com uma conhecida, pois o filho dela quis mexer, sem permissão, em sua réplica do Gavião Arqueiro, avaliada em mais de R$300. Todo mundo teve uma opinião sobre assunto, mas não viemos aqui hoje para falar diretamente da mãe – até porque, principalmente na internet, para julgar mães, sempre há uma imensa fila. A menção a este episódio, na verdade, é evidenciar como ainda não se entende o tamanho de uma das maiores “atividades” da cultura nerd e geek.
Nem todos que se consideram parte desta cultura colecionam. Nem todo mundo tem dinheiro ou espaço para tal. Tampouco interesse, se possível. A gente até admira as coleções alheias e se pega pensando, que se tivéssemos um dinheirinho extra por aí, poderíamos, afinal, colecionar os doze cavaleiros de ouro… Mas isso não impede a gente de chegar e entender o cuidado de um colecionador. Do tempo e dinheiro. Do valor muito além do material que aquele “bonequinho” tem.
O que mais incomoda é a falta de empatia das pessoas que optaram pela desvalorização do “brinquedinho” alheio, que não passa nem pela tentativa de pensar ao menos no valor “material” da peça. “Não interessa, é brinquedo de criança, não é nada demais”. Desvalorização por falta de empatia.
E é esse o valor atribuído ainda pela cultura “nerdgeekwhatever”. Muita gente não entende porque alguns de nós, pagamos certos valores, por exemplo, num jogo original, seja para consoles ou para PC, em vez de simplesmente baixar uma versão “pirata”, de graça. É claro que o valor do produto é subjetivo. E não é de surpreender, principalmente num ambiente como a internet, que as pessoas tentam impor suas subjetividades em detrimento das demais.
“OK”, você diz. “Defendeu-se o direito de querer ficar bravo porque alguém mexeu no seu brinquedinho de trezentos reais, mas ainda não entendi o que há demais”. Esta pequena situação-que-viralizou (que já está até bem esquecidinha, enquanto você lê isto), se estende a outros destes “produtos” da cultura nerd e geek: os videogames. Talvez para a galera mais nova, a discussão não seja tão marcante, mas nos anos 90, principalmente, houve uma grande discussão sobre a necessidade de censura aos jogos violentos.
Poderíamos explicar como ela surgiu, poderíamos discutir a necessidade e validade de classificação etária. Sim, há conteúdos no entretenimento que não deveriam ser expostos a pessoas de certa idade. Há quem negue, mas a verdade é esta. Mas, porque há a sensação coletiva de que, no final das contas, ninguém liga? Vemos muito por aí, crianças jogando livremente títulos bem acima de suas faixas etárias. Reforçando: não entraremos no mérito de discutir quem deveria estar jogando o quê. Queremos que você pense: será que a necessidade de realmente prestarmos maior atenção ao que os mais jovens jogam é posta de lado, porque achamos que “são apenas brinquedos”?
A resposta vai de cada um, mas a impressão que temos é que este “rebaixamento” dos videogames, implica na ignorância pelo poder que esta mídia tem de influenciar – positiva ou negativamente aqueles que consomem.
E o último exemplo de desvalorização da cultura “nerdgeeketc” a ser citado hoje é a questão da representatividade. Direto ao ponto: quando pessoas dizem que reclamar da falta de representatividade no último filme da “Marvel, DC e similares”, podemos ver novamente o velho argumento de que “é mimimi, é tudo brinquedo, é um filme bobo, é um desenho, que não é nada demais”. Existem estudos por aí que buscam provar que este assunto importa sim. Mesmo que seja um filminho pipoca com heróis. Mesmo que seja um jogo. Para pouca coisa, eles parecem segurar uma grande responsabilidade, não? De nos influenciar, de nos dar uma visão de como o mundo é, mesmo pela ficção… A lista é imensa.
Retomando uma frase lá no primeiro parágrafo: é claro que existem preconceitos mais sérios. O próprio meio geek e nerd precisa ainda evoluir muito porque pratica muito daqueles mais graves entre si – porque justamente deveria saber como pode ser ruim ter seu estilo de vida, escolhas e identidade constantemente desvalorizados.
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Gostei muito da estrutura do texto e os mais variados exemplos. Ultimamente tive reparado mais nos detalhes desse universo, visto que comecei a produzir conteúdo também. Um dos maiores defeitos, ou falhas humanas que podemos perceber em várias relações é a falta de empatia. Muitas vezes enfatizada em sua produção. As pessoas não conseguem pensar no outro, nos sacrifícios, nas escolhas e motivações, simplesmente querem que sua zona de conforto, sua bolha, fique em primeiro lugar. Muitas vezes é necessário falar menos e ouvir mais. Ouvir para aprender e respeitar. As ideias estão aí para serem refutadas, os comportamentos para serem mudados, desde que não se agridam as pessoas.
Sua produção é muito importante, nos faz refletir, me fez refletir. Sou grato por isso.
O que você falou sobre falar menos e ouvir mais é a chave pra empatia, concordo absolutamente contigo! FIco sinceramente feliz em saber que esse #textão ajuda na reflexão sobre isso, porque tentei tomar o máximo de cuidado ao escrever. Obrigado!
Oi, tudo bem? Acredito que cada pessoa tenha direito de pensar da sua própria maneira é isso que nos diferencia dos animais concorda? Somos racionais, temos sentimentos, porém o que está faltando e muito em nossa sociedade é a tal da empatia. As pessoas querem ser compreendidas porém não se dão ao trabalho de entender os demais. Para uns é brinquedo, para outros é cultura, independente do significado que damos aos objetos é importante que todos sejam livres para pensar do jeito que quiserem. Pra mim alguns “bonequinhos” representam minha geração, meus gostos, meu crescimento como pessoa. Mas se os outros não concordam… paciência. Beijos, Érika =^.^=
Pois é, Erika, acho que a empatia vem justamente de não impor subjetividade, de dar um espaço para as outras. É claro que cada um vai achar… o que achar! Mas se a pessoa está pensando de forma preconceituosa, talvez precise repensar seus conceitos. Enquanto isso… vida que segue!
Abração!
por vivemos em um mundo onde se gasta milhões e em um filme cheio de referencias, nos acostumamos a acreditar que ser nerd é pop, mas sabemos que no geral ainda somos uma subcultura, com vertentes mainstream do qual nos nerds, gamers, otakus nunca faremos parte por entender o real valor do que gostamos e os valores que isso nos traz. devido isso textos como este são importantes para refletimos sobre a sociedade e o impacto na nossa subcultura
Maurício, vc não poderia ter resumido melhor a mensagem central desse post! É claro que muitas outras subculturas e tribos urbanas sofrem diferentes graus de desvalorização e de preconceito. Assim, se torna MUITO importante darmos espaço para discutirmos todos!
Abraços!
Quando li achei que seria apenas sobre o caso da mãe e da garota do Gavião, mas você tocou em outros pontos bem importantes. Esse negócio da faixa etária é algum bem importante, inclusive hoje em dia a grande parcela de jogos de PS4 por exemplo é maior, temos Witcher, Mortal Kombat, Uncharted, Tomb Raider, na minha época eu só jogava jogo de bichinho colorido, agora vejo crianças de 8 anos matando outras no GTA e isso realmente me preocupa, as empresas tem desenvolvido mais jogos para a adultos mas muitas pesssoas não reparam nisso. E esse negócio da representatividade também é complicado, o meio nerd por muitas vezes tendem a ser machista e preconceituoso, então muita coisa vem até de dentro, isso acaba ferrando com quem quer ser direito e desvalorizando mais também.
Bites!
Então, era justamente isso que eu queria explorar: como uma coisa leva a outra! Muito obrigado mesmo pelo comentário!
Pois é… Eu acho natural que algumas coisas tenham mais valor para alguns do que para outros, mas realmente, desvalorizar a cultura nerd dizendo que é só um brinquedinho é extremamente ofensivo. Afinal, todos temos o direito de valorizar os colecionáveis ou os games originais. Faz parte da nossa cultura, não é mesmo?
Beijos
Mari
E isso termina sendo apenas uma faceta da desvalorização. Quando essa falta de empatia evolui para a visão de certas coisas como menores, desconsidera-se suas capacidades de influenciar as pessoas…
Grande abraço, Mari!