Existia cinema antes de 1990?

Cinema é uma arte contemporânea e que evolui gradativamente. Bons filmes foram feitos nas últimas décadas transformando a 7ª arte em um campo produtivo de cinéfilos que adoram falar sobre os mais variados longas e seus conhecimentos. Mas, toda sabedoria parece ir apenas até a década de 90, deixando os anos anteriores para fora de muita área de conhecimento.

Não é incomum ver pessoas dizendo que o melhor filme de todos os tempos é alguma produção dos últimos 20 – no máximo 30 – anos. Não é pouco usual ouvir que o melhor Coringa dos longas do Batman é Heath Ledger. Ou, que o filme mais cult de todos é “Donnie Darko” ou “Clube da Luta”. Não que não sejam bons exemplos de que os longas estão indo bem, apesar de que Hollywood parece estar com problemas de criatividade há algum tempo com vários roteiros ruins e remakes desnecessários. São ótimas obras.

Porém, antes dos anos 90, antes de filmes como os citados acima, o cinema já existia e estava em plena produção de bons projetos. Ledger é um baita ator e fez um Coringa excelente, mas o sempre extraordinário Jack Nicholson esteve perfeito como o personagem no filme Batman de 1989.

Perde-se tanta coisa ao ver filmes a partir da década de 90 que são incontáveis os títulos que fizeram a diferença no cinema mundial antes dessa época. Os melhores filmes de Spielberg, que passam por vários gêneros como Terror, com “Tubarão” e “Poltergheist”, Drama, com “A Cor Púrpura”, e Infantil (com um pé na ficção científica) com “E.T.”, estão nas décadas de 70 e 80. O diretor foi responsável por grandes blockbuster que mudaram de maneira inequívoca a indústria do cinema.

A discussão de Cannes deste ano, que debatia se o fim do cinema está ou não próximo devido ao sucesso de serviços de streaming como a Netflix, acabou gerando inúmeros comentários dos mais variados sobre a 7ª arte. Os mais estranhos vieram de jovens adultos, que mesmo gostando de filmes e gastando boa parte de suas vidas dedicando-se a vê-los, não sabem de onde surgiu ou como surgiu e fazem comentários pitorescos. Não incomumente já disseram que o cinema tem medo de se inovar. Ou que é modinha. Sim, em fóruns da internet disseram que a 7ª arte é uma coisa passageira.

Ironicamente falando, o mesmo foi dito há 120 anos, quando as primeiras exibições de filmes foram lançadas. A grande dúvida das pessoas de 1897 era: quem deixaria o conforto de seu lar, para assistir uma projeção, em uma sala apertada e ainda com pessoas estranhas? Naquele tempo, muitas eram as apostas de que aquilo não chegaria a lugar nenhum, seria apenas mais uma invenção esquecida da humanidade e teria tanta serventia quanto um carro, que era visto como uma criação sem propósito algum e que não teria utilidade perto de carroças com cavalos, que eram muito mais confiáveis.

Pois bem, alguns séculos depois ambas as invenções estão aqui. E a 7ª arte faz milhões de pessoas saírem de suas casas todos os dias, e o que se é gravado ali, fica para eternidade, ainda que algumas pessoas optem por não acessá-las. Não é fácil fazer uma lista sobre os melhores filmes da história do Cinema. Há muitos longas que são obras-primas e a disputa para o primeiro lugar seria incansável e injusta. Mas, certamente, se uma lista definitiva fosse feita, muitas produções seriam de antes da década de 90, até mesmo de antes dos anos 80.

“Cidadão Kane”, por exemplo, já foi eleito – merecidamente – mais de uma vez como o melhor filme de todos os tempos. E o filme data de 1941. As décadas da grande depressão, da Segunda Guerra e da Recessão que se seguiu ao fim dela foram responsáveis por grandes obras. Lendários. Se antes a invenção já produzia certo interesse, durante esses anos os estúdios receberam ainda mais atenção, pois tinham como propósito o divertimento da população.

Pode ser que o cinema esteja passando por uma transformação sem volta, mas ele se adaptou até aqui. E, apesar de que algumas vezes jovens possam ter uma opinião meio superficial sobre o assunto, ele está em constante renovação de público. Além, é claro, de manter o que já tem. A conclusão dos fatos é que nós, seres humanos, somos modinhas, mas o cinema parece que não.