Saiba mais sobre Leo Justi, o maior produtor musical da cena funk/eletrônica carioca que você respeita
Contra fatos não há argumentos: quem nunca arriscou um “quadradinho de oito” ou uns passinhos mais despojados quando tocaram funk naquela balada, que atire a primeira pedra. É (quase) impossível não se deixar levar pelas melodias e energia contagiante das músicas em qualquer situação. Agora, imagine esse ritmo somado ao estilo único do eletrônico? Sensacional, né?
E é justamente isso que Leo Justi faz habilidosamente. Nascido e criado no Rio de Janeiro, se apaixonou cedo pelas batidas do funk como um bom carioca que é, mas teve que esconder o gosto de início, porque a galera do colégio era mais voltada para o rock. Anos mais tarde, Leo se tornaria referência por seu estilo único nos remix e nas criações, o que chamou a atenção até mesmo da cantora inglesa MIA. O produtor fez o remix oficial da faixa Bad Girl da cantora e, recentemente, trabalhou em parceria com ela em outra faixa, com a colaboração de Skrillex, a A. M. P. (All My People) – (clique nos links).
Se você não conhecia o trabalho desse jovem músico até hoje, caro(a) leitor(a), para tudo! Arrasta o sofá e, enquanto confere essa entrevista com um dos melhores produtores musicais da atualidade, já vai escutando seu mais novo trabalho em parceria com MC Carol, Karol Conka e Tropkillaz clicando aqui.
Michele Matos – Como você começou a se interessar pelas batidas do funk? Você sofreu preconceito por gostar do estilo?
Leo Justi – Comecei a me interessar pelo funk cedo, no colégio. Era uma época de sucesso do funk e sofri preconceito de um vizinho com quem eu brincava sempre. E ele falava que era música ruim, que rock que era música boa, aí eu reprimi meu gosto pelo funk.
MM – Quais as influências em suas produções? O Heavy Baile é um termo que foi criado por você. Como é esse estilo? Como são as festas do Heavy Baile, que apareceram posteriormente?
LJ – Acho que a influência fundamental do Heavy Baile foi o trabalho do Diplo no ano de 2006/2007, os mashups que ele estava fazendo de funk. E os remixes dele em geral me introduziram para o mundo da música eletrônica, voltada para o house, que nunca tinha me interessado. Através do trabalho dele eu conheci mais coisa, como por exemplo, o som de Baltimore, Filadélfia – de onde ele vem inclusive. E então fui fazendo essa ponte com o funk. A influencia do Dance Hall também sempre foi forte, desde antes da música jamaicana. Essas são as bases do Heavy Baile. As festas começaram em 2014 e trazem tudo isso, um pouco de hip hop e um pouco de funk de favela também.
MM – Você percebe diferenças entre o público de classe média alta e da favela em suas festas?
LJ – Percebo sim. Esteticamente já se nota a diferença, como as roupas. Na dança também, o pessoal da favela é sempre mais solto. Se bem que até essa regra cai por terra, às vezes todo mundo acaba se soltando e tem uma galera de favela que é tímida também. Acho que em termos de comportamento é menos óbvio, mas a grande questão é esteticamente mesmo.
MM – Como você vê a cena atual do funk? O preconceito ainda é muito explícito?
LJ – Acho que hoje existe menos preconceito com o funk. Mas ainda existem pessoas de poder e influência na mídia e na sociedade que desprezam o funk. O prefeito eleito João Dória concedeu uma entrevista, há pouco tempo, para o Dattena, falando que o ‘pancadão’ é nocivo e que deve ser reprimido. Basicamente criminalizando o baile funk. Infelizmente tem muita gente de poder que vê o funk como algo ligado ao crime e não como uma música.
MM – Como foi trabalhar em parceria com a MIA e o Skrillex?
LJ – Trabalhar com a MIA foi uma experiência interessante. Em 2011 quando encontrei com ela e depois, em 2012, foi muito legal o contato, principalmente na Índia, com os músicos indianos, foi muita viagem! O Skrillex não conheci pessoalmente, quer dizer, até conheci depois em um festival, mas não trabalhei com ele no estúdio. Ele trabalhou em cima de um material que eu fiz com a MIA em 2011. Ele finalizou algumas faixas que entraram nesse disco dela.
MM – Você pensa em um dia trabalhar com outro tipo de som? Qual?
LJ – Penso sim. Eu na verdade tive bandas de rock a minha vida inteira, antes de começar a fazer som de música dançante, som de pista. Penso em voltar a fazer música com guitarra. Tenho vontade de fazer coisas com mais harmonia, mais relax e menos neurótico. Mas como eu estou em um processo agora do Heavy Baile, não tenho muito tempo para fazer isso. Mas em algum momento eu quero voltar a fazer.
MM – Quais os novos nomes da cena musical do funk que você acha que vem fazendo um som legal?
LJ – O difícil da cena funk pra mim é a falta de consistência, especialmente de produção. O grande barato da produção do funk é que sempre é muito ousado. Essa ousadia é o que empurra o estilo para frente, faz o estilo evoluir. Mas muitas vezes têm muitas falhas técnicas, que me incomodam. Muitas vezes, por exemplo, tem um MC com uma música foda, mas a produção é ruim. Ou o contrário, um produtor faz um beat foda, mas a música do MC é ruim. É muito raro conseguir uma combinação de um MC e produtor bom. É menos que 10% do que é produzido no funk. Assim como é no Dance Hall da jamaica também. Música de favela é isso, acaba sendo uma hiperprodução sem muito controle de qualidade. É muito raro artistas se estabelecerem com consistência. De MC’s que se estabeleceram mais recentemente com uma qualidade leagl eu citaria MC TH e o MC Tchelinho.
MM – Você trabalhou recentemente com a MC Carol. Quais os planos para projetos futuros? O que vem em 2017?
LJ – Agora que terminei o álbum da MC Carol, vou tentar entregar o meu finalmente. Em janeiro ou fevereiro do ano que vem eu quero estar soltando ele. Também estou produzindo uma música com a Lila, uma cantora aqui do Rio; Já temos várias músicas prontas do MC Tchelinho e em dezembro queremos lançar um single dele, com um EP em sequência. Estou sempre conversando com outros produtores Sidney, Omulu, do Arrastão, o Huxxel, DJ Thai, com quem lançamos recentemente uma música em parceria com o MC Tchelinho. Estou nessa frente de produzir meu material, meu disco, lançar coisa do Tchelinho, de outros artistas com quem eu me identifico.
Para fechar sua playlist até aqui com chave de ouro, mais um som do Leo.
Por Michele Matos
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