Springsteen: Salve-me do Desconhecido revisita o processo criativo do álbum Nebraska, revelando os conflitos internos de Bruce Springsteen, mas sem alcançar a profundidade que sua trajetória merece.
Baseado no livro de Warren Zanes, “Springsteen: Salve-me do Desconhecido” revisita o período de criação do emblemático álbum “Nebraska”, lançado por Bruce Springsteen em 1982. Naquele momento, o artista ainda consolidava sua trajetória, dividindo-se entre turnês e sessões de gravação, enquanto enfrentava os fantasmas de uma infância marcada por conflitos familiares — especialmente com seu pai alcoólatra. Em busca de introspecção e cura emocional, Springsteen se recolhe em sua casa na sua cidade natal, onde decide gravar um disco profundamente pessoal, com letras que evocam memórias dolorosas e relações familiares complexas. O projeto, concebido de forma caseira e sem apelo comercial, contrariava as expectativas da gravadora e de seu empresário. Ainda assim, tornou-se um marco artístico e um clássico cultuado.

Sob a direção de Scott Cooper (“Coração Louco”, 2009), o filme adota uma estrutura narrativa convencional, típica das cinebiografias hollywoodianas. A obra não se arrisca em termos formais, preferindo seguir uma linha segura e linear, com início, desenvolvimento e desfecho bem definidos. Embora o roteiro introduza elementos ficcionais — como a personagem Faye Romano, interpretada com sensibilidade por Odessa Young (“A Ordem”, 2024), uma figura composta a partir de diversas mulheres que passaram pela vida do músico — essas liberdades criativas não comprometem a integridade da narrativa clássica adotada, tampouco causam estranhamento entre fãs ou espectadores menos familiarizados com a história real.

Há tentativas de inserir tensão dramática, especialmente nas cenas que retratam a resistência de Springsteen em preservar sua visão artística para “Nebraska”, e nos flashbacks da infância com o pai — vivido por Stephen Graham (Série “Adolescência”, 2025) que se empenha em conferir densidade ao papel. No entanto, essas sequências não alcançam o impacto emocional esperado, e o filme, infelizmente, não consegue traduzir a complexidade e a grandeza do artista retratado. Ao final, a sensação é de ter assistido à história de um músico genérico, e não de uma das figuras mais influentes da música americana.
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Apesar dessas limitações, a atuação de Jeremy Allen White (Série “O Urso”, 2022) merece destaque. Com carisma e entrega, ele honra Springsteen ao interpretar diversas canções e buscar profundidade emocional em sua performance. Sua presença salva a produção do esquecimento completo e pode, inclusive, render-lhe uma indicação ao Oscar.
“Salve-me do Desconhecido” é, portanto, uma cinebiografia contida em excesso, e que se apoia no talento de seu protagonista para não se perder na superficialidade.
Este filme foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Imagem em destaque: Divulgação/20th Century Studios Brasil

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