De perto ninguém é normal. Esse é o dito popular que mais se encaixa na vida de 99% das pessoas. Mas… a gente ainda tem aquele 1% … enfim!
Numa outra coluna eu falei que “Memórias de minhas putas tristes” estava no top five dos livros da minha vida. Sybil é um dos nobres ocupantes dessa lista também.
Baseado em fatos reais, Sybil é o pseudônimo de uma paciente da Doutora Wilbur, famosa psiquiatra especializada em casos de múltiplas personalidades. Que, junto com a jornalista Flora Rheta Schireiber (autora do livro) fez história dentro e fora dos consultórios psiquiátricos.
Agora pensa: um dia você acorda em um hotel e não faz a menor ideia de como foi parar lá. Pior, você não bebe… não usa drogas… não há qualquer histórico psicotrópico que te faça perder o prumo. Você simplesmente apaga e não sabe o porquê.
Essa é a nossa personagem de hoje (ou personagens!). Sybil tem nada mais, nada menos que dezesseis outras personalidades dentro dela. Cada uma com uma vontade, cada uma de um jeito e todas elas lutando para sair.
O livro demorou 10 anos para ser escrito. Precisava ser algo mais que uma notícia jornalística. Devido a sua grandiosidade também não podia fulgurar apenas nos consultórios psiquiátricos. O mundo precisava saber. Isso precisava fazer história. Chegar a pessoas com problemas semelhantes a auxiliá-las. Mostrar que elas poderiam sim, ter sua vida de volta. E principalmente, contar a todos os principais motivos que nos leva a criar esse tipo de subterfúgio na mente. O mais normal, ou melhor dizendo… o mais comum, é escutarmos que pessoas desenvolvem duplas personalidades; mas múltiplas… dezesseis… é realmente um caso raríssimo.
Os transtornos de Sybil começaram ainda no berço. Para fugir da mãe extremamente controladora, e do pai e do avô que não tinham autonomia e poder para salvá-la, ela acabou criando em sua mente personagens que se sairiam melhor do que ela mesma naquelas situações. O problema, é que acabou se dissociando dessas pessoas. E quando uma personalidade tomava conta, ela, Sybil, não lembrava de nada.
O interessante é que cada personalidade “nasceu” em uma época diferente. E todas elas têm características bem particulares. Inclusive, algumas delas assumem gêneros masculinos. Outras são crianças…
Há também mudanças em traços físicos, como por exemplo, Helen Dorsett que é descrita como cabelos castanhos-claros, olhos castanhos, nariz onduco, e lábios finos. Ou… “A Loura”, que não possui um nome, mas é a eterna colegial, de cabelos loiros e voz cadenciada.
O modo como a narrativa é conduzida é leve e interessante. Porque se passa fácil por um romance inventado. Evita termos técnicos e difíceis, mas mesmo quando isso é feito, a autora nos explica detalhadamente para que nada nos escape.
O livro foi me indicado por uma terapeuta da época (porque lembram que de perto ninguém é normal né?!), e eu a louca dos sebos o achei por apenas R$8,00. São 462 páginas bem densas, mas não se deixe espantar pelos números. É a real história de alguém. É a real história de SUPERAÇÃO de alguém.
O Transtorno Dissociativo de Personalidade – que é o seu nome mais bonitinho – é de difícil diagnóstico, porque os sintomas são diversos. E apesar de Sybil ter sido escrito em 1971, tal enfermidade só se tornou um diagnóstico oficial no ano de 1980.
O tema também já fulgurou em outras obras como The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde (O estranho caso de Dr. Jekyl e Mr. Hyde), escrito pelo escocês Robert Louis Stevenson, em 1886. E o famoso Norman Bates de Psicose.
Para você que se interessa pelo assunto, para você que gosta de uma boa literatura… para você, que como eu, faz parte dos 99%; Sybil é o livro da semana.
“Qualquer coisa que seja fria não é amor.” (p.147)
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