A primeira vez que estive no Sarau Tá No Ponto, foi por indicação de um amigo poeta, Fillipe Henrique. Sentei às 19 horas e 20 minutos, num dos bancos coloridos que estavam debaixo do Viaduto Negrão de Lima. O palco montado, junto a caixa de som que ecoava até a estação de trem de Madureira, deixava nítido que o evento se mantêm independente, sem nenhuma ajuda governamental. Nesse dia, chorei umas 2 vezes, comedida no meu banco cor verde, por ouvir José Mauricio, O Mestre Zelão do Berimbau. A música se tratava de Zumbi dos Palmares, ainda não havia sido finalizada, mas ele quis cantar pela a felicidade de estar a ponto do fim. Depois em uma conversa com Diogo Viana, o apresentador e um dos produtores do evento, pude entender ainda mais a importância daquele homem.
O sarau nasceu há 2 anos, tendo sido planejado e organizado por Anderson Reef, Jessé Andarilho e Max Volume. Depois de 2 semanas, Diogo Viana se uniu ao grupo como apresentador e aos poucos, segundo ele depois de muito aprendizado, como produtor do evento. A proposta era que fosse aberto a todos, e que organizassem diversas intervenções artísticas, como por exemplo o rap, que se consolidou fortemente no espaço. Madureira, ponto efervescente da Zona Norte, vem se tornando espaço de voz e de representatividade do preto suburbano que trabalha e luta, resistindo as diversidades políticas e econômicas que o Estado produz diariamente. O Sarau Tá No Ponto deixa o microfone aberto para que os artistas possam falar, seja para quem está no ponto de ônibus, para os passageiros do trem, brt ou para a senhora que vende cachorro quente na barraquinha.
Eu, entrei e sai nas duas vezes apenas para escutar o que eles diziam, a beleza estava muitas vezes nos ruídos que eles provocavam com a boca. A língua, por vezes morta, tomou vida na Batalha do Sangue Bom, onde quem perde, ganha. A iniciativa, original do sarau, era para que os rappers na fluição do momento, ao invés de falarem mal do adversário, tratassem um ao outro como amigo, e sendo assim, se elogiassem. Além disso, existe também a iniciativa dos livros da bibliotecadeira, em que diversos livros doados ficam expostos em umas cadeiras ao lado do palco, para quem quiser levar. O que sobra, fica para quem ganha a Batalha do Sangue Bom.
O percurso é longo, antes a maior dificuldade ocorria pela falta de equipamentos, na procura de artistas, na identidade e fixação do evento todas as segundas feiras. Hoje, é pela policia que manda desligar o som, sem antes conferir a documentação em dia com a prefeitura, como aconteceu no última edição do evento. Mas tudo foi resolvido, porque tem vezes, que a lei ainda faz jus ao seu nome nesse país. Os jovens que são os residentes do sarau, não só fazem daquele o seu espaço, mas também contribuem dando voz a resistência.
Logo abaixo, o Facebook e o Instagram do evento. Compareçam!
Por Valeska Torres
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