Dia desses estava distraída vendo televisão, zapeando os canais sem um mínimo de compromisso, quando parei em “A pele que habito” (La piel que habito, 2011) de Pedro Almodóvar (roteirista, diretor, compositor e ator Espanhol). O filme já havia começado há certo tempo, mas não tinha problema porque o enredo eu já sabia de cor. Estava passando uma cena forte – bem forte – diga-se de passagem.
Na tela, um estupro.
Lembro que assisti essa película no cinema. E eu, no papel de professora de espanhol, fiquei toda orgulhosa que finalmente estava vendo um filme legendado, no qual, não precisava das legendas.
É sério! Quem mora em bairros como Realengo, Bangu e adjacência, tem uma enorme dificuldade de assistir filmes legendados. Porque simplesmente não nos dão essa opção nos cinemas, e quando passam, são em sessões tarde da noite. E no fim, por questão de tempo ou distância a gente acaba se acostumado com os dublados mesmo. Mas Almodóvar não… Almodóvar é um ícone que precisa ser respeitado. E eu… eu precisava tirar onda com o meu espanhol.
Quem assistiu ao filme sabe que esse é aquele que entra para lista de clássicos só pela estirpe. No elenco: Antônio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes e Cornet Janeiro. E quanto ao enredo (e não! Não darei spoiler), ele precisa ser assistido (ponto!).
Mas porque é que a Érica está falando de um filme, quando o nome da coluna é Literando?
É que na verdade, a Pele que Habito foi feito a partir do romance Tarântula (Mygale, no original) de Thierry Jonquet. Autor francês que fez escola no que chamamos “Novela Negra”; ou popularmente: aqueles romances onde o leitor precisa desvendar um mistério.
A leitura é rápida, apenas 158 páginas.
Mas diferentemente do filme, onde vamos descobrindo cena a cena o que está acontecendo, o livro é narrado em duas vozes simultaneamente. O que no começo, admito, pode ser um pouco confuso. Mas depois que o leitor entende sua dinâmica é questão de tempo até se envolver por completo.
Não estou dizendo que é fácil, mas também não é impossível. O que acontece é que temos a voz do narrador que está em terceira pessoa, e a voz do pensamento do prisioneiro, que está em primeira e terceira ao mesmo tempo. (Quase um trava-línguas).
Ah! E sim… os personagens são clássicos. Ou melhor… são personificações literárias, ou melhor ainda: são personagens clichês. Nós temos um médico, que poderia facilmente ter saído do romance O Estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde de Robert Louis Stevenson. Temos a empregada, que é cúmplice (quer mais clichê do que isso?), há também a louca, o vilão (ou vilões), a mocinha, o mocinho (?)… enfim… só com muita reticência.
Os capítulos também começam com nomes interessantíssimos: “A aranha”, “O veneno”; “ A presa”. E “Tarântula” é, na verdade, como um dos personagens é chamado.
“Tarântula saiu. Você não sabia o que pensar desse novo contato, verdadeira revolução no relacionamento de vocês. Mas esse esforço de reflexão era angustiante e teria exigido um dispêndio de energia mental de que você não dispunha fazia tempo.” (p.67)
Em suma, clássicos são duais. São do tipo “ame-o ou deixe-o”. Capitu e Bentinho (Personagens de Dom Casmurro de Machado de Assis) são modelos chavões desse tipo de discussão. Mas até para amar ou odiar alguma coisa, é preciso experimentá-la.
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Adorei a dica!!!
Sempre cheia de novidades e com um comentário maravilhoso!!
Obrigada Jordana… =)
Quando quiser emprestado é só dizer.
Nunca assisti, tenho uma certa resistência à lingua espanhola…
Mas um livro de 158 em português, quem sabe?
Quem sabe?! Falta o que pra você pegar na minha bagunça??
Eu adorei o filme e não sabia q era uma obra de origem literária. Acho o filme sinistrao e amei ler sobre esse livro ‘! ❤
Um filme chato com um roteiro estranho e sem noção. Só mulheres mesmo é que podem gostar dessa porcaria.