O punk não envelhece; palco The One encerra dia com show grandioso de Iggy Pop
Não é todo dia que se pode presenciar o show de uma lenda viva. Leia-se lenda no sentido mais literal, afinal de contas, poucos no Rock tem histórias tão inacreditáveis quanto Iggy Pop. Só o fato de ter chegado vivo, ao 78 anos, após um histórico de excessos com substâncias que parecem invenções de ficção científica já justifica essa classificação. Mas ainda há de se considerar que ele está em atividade, gravando e fazendo shows…
Quem literalmente pagou para ver não se arrependeu. Presenciou um show histórico do precursor do Punk, o tema do segundo dia de The Town 2025. Sete anos antes do Sex Pistols (que cancelaram a vinda ao festival na última hora) xingarem a Rainha Elizabeth de fascista, Iggy já estava à frente dos Stooges. E nem precisa dizer que todas as bandas e artistas que se apresentaram nos dois palcos principais tiveram influência dele. Mas o que ele trouxe para o evento?
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Essa já é sua quinta vez no Brasil, sendo a primeira em 1988. Com os Stooges esteve duas vezes: no Claro Que É Rock em 2005 (São Paulo e Rio de Janeiro) e no Planeta Terra em São Paulo, em 2009. O show se iniciou pontualmente às 21h55, hora marcada para o início, já com um clássico essencial, “TV Eye”.
Na sequência, outro petardo da fase Stooges, “Raw Power”. Apesar de ser um quase octogenário, Iggy mantém seu “modelito” célebre: calça e sem camisa. E também nenhum constrangimento em relação às dobras, rugas, além da pele queimada por excesso de exposição ao sol, afinal, as marcas do tempo devem ser ostentadas já que denotam histórias para contar, e ele tem muita.
“The Passenger” foi a faixa mais reconhecida pelo público mais amplo, muito também por conta da versão em português do Capital Inicial. “Lust For Life” também animou a plateia. Parte da trilha de “Trainspotting”, é frequente em festinhas de rock.
O repertório que fez um apanhado da carreira, era executado quase como um medley. Apenas uma ou outra faixa que era precedida de alguma fala como “Some Weird Sin”, quando ele diz que quando vai dormir pensa em vários pecados belos, pecados universais, em uma conversa típica de quem está sob efeito de algum psicotrópico ou só viveu muita loucura mesmo. Em um momento, entre “Down On The Street” e “1970” e puxou uma garrafa dizendo que a ocasião merecia uma água especial, o que fez vários na plateia rirem especulando sobre o conteúdo. Em outros ele apenas acenava e saudava expressando uma alegria genuína que só os loucos demonstram sem filtros.
A idade fez o iguana ficar um pouco mais contido. Não se atira mais no público como fazia até poucos anos, muito menos se corta com vidro como nos anos 60 e 70, mas mantém sua postura rebelde e a performance de palco vigorosa — até se atira no chão —, amparado por uma banda afiadíssima (incluindo metais), que brilha sem roubar o protagonismo do dono da festa.
Ouvir Iggy Pop vociferando o refrão de “I Wanna Be Your Dog” mesclando acinte juvenil com ar de um senhor que esteve lá e venceu o desafio é um privilégio que alguns ali talvez nem tenham se dado conta. O show do The Town foi mais do que um passeio por um catálogo lendário: foi um lembrete vivo de que a força do punk não está na perfeição, e sim na persistência.
O carisma desleixado, a irreverência e a atitude do iguana seguem tão magnéticos quanto há seis décadas. Ali vimos de perto alguém que ajudou a redefinir o que é estar em um palco desafiando, de peito aberto, literalmente, esse tal de tempo que para muitos é encarado como um limite. Não para um sobrevivente como Iggy.
Imagem Destacada: Divulgação/The Town 2025 (Moriva/Fotografia: Wesley Allen)
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