Tiger tenta expor, mesmo que simplóriamente, as mazelas de uma comunidade maltratada
Ser parte da comunidade LGBTQIA+ em qualquer país, mesmo nos considerados mais progressistas, está longe de ser uma experiência simples, mas no Japão, um local muito ligado aos seus costumes ancestrais e que mantém uma sociedade hipermasculinizada, a vida dessas pessoas deve ser uma luta diária pela existência.

Com o intuito de dar visibilidade a esse grupo historicamente marginalizado, “Tiger” apresenta a trajetória de Taiga, um jovem gay que busca um relacionamento estável enquanto enfrenta a complexa disputa pela herança de seu pai, gravemente enfermo. Para garantir a posse da casa, ele precisa se casar e formar uma família, algo que sua irmã mais velha já realizou, e ela não demonstra qualquer disposição em ceder a propriedade ao irmão, mesmo tendo assegurado a clínica odontológica como parte da herança.
A narrativa do filme dirigido pelo cineasta indiano Anshul Chauhan concentra-se nas tensões familiares, enquanto o protagonista atua em uma clínica de massagem e inicia sua carreira na indústria pornográfica, adotando o nome artístico que dá título à obra. A relação entre Taiga e sua irmã é marcada por conflitos, e sua vida pessoal atravessa um período de intensas transformações — seja pelas constantes viagens entre cidades, realizadas de trem e carro, seja pela incursão em um novo campo profissional. Entre embates e deslocamentos, o personagem é utilizado pelo roteiro como uma espécie de porta-voz da comunidade gay japonesa, especialmente quando são reveladas as limitações legais e o preconceito dissimulado que ainda persistem.
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“Tiger” configura-se, portanto, como uma obra relevante para expor ao mundo o tratamento desumanizante que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta no Japão. Embora não alcance os níveis extremos de repressão de países como o Irã — onde qualquer desvio do modelo heteronormativo é severamente punido — é surpreendente constatar que uma nação tão avançada em educação e ciência possa ser tão conservadora em questões de identidade de gênero e orientação sexual.
Contudo, apesar da relevância de sua temática, o filme não consegue transcender a simplicidade de seu roteiro, que carece de elementos inovadores ou de uma abordagem que subverta convenções narrativas. Na verdade, o oposto se revela: “Tiger” tende a se diluir na vastidão de produções que abordam o mesmo tema, já lançadas ou ainda por vir. Embora o assunto jamais perca sua importância, esta obra específica dificilmente permanecerá viva na memória coletiva por mais tempo do que a duração do festival de cinema no qual ele eventualmente será exibido.
Este filme foi visto durante a 49 Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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