O Holocausto foi uma tragédia que, mesmo para os não-judeus, continua chocando a humanidade com novos relatos e descobertas sobre o extermínio de mais de 6 milhões de judeus na Europa. Na Alemanha, palco da Segunda Guerra Mundial, essa memória é exposta o tempo todo. Isso porque, no coração de Berlim – capital alemã -, o arquiteto americano Peter Eisenman projetou um memorial para as vítimas, o famoso Denkmal für die ermordeten Juden Europas ou Holocaust-Mahnmal (em português: Memorial aos Judeus Mortos da Europa ou Memorial do Holocausto), que consiste numa área de 19 mil metros quadrados coberta com mais de 2.700 blocos de concreto de diferentes alturas, simulando uma ondulação de pedras.
Mas o que isso tem a ver com arte?
O artista e escritor israelense Shahak Shapira, que mora em Berlim desde os 14 anos, lançou um projeto chamado YOLOCAUST, que visa explorar a nossa cultura atual, onde pessoas que visitam o memorial posam para selfies e fotos escalando as pedras, fazendo poses de yoga e até mesmo fazendo malabarismos, e posteriormente compartilham em suas redes sociais, sem atentarem para a falta de respeito e até mesmo para o raso ou nenhum conhecimento sobre o que foi o Holocausto.
Shapira expôs 12 fotos retiradas das redes sociais, com sorrisos, paus-de-selfie e fotos cômicas, e fez uma montagem com imagens reais do Holocausto. O choque é tão grande que faz todos os visitantes do site refletirem. O Memorial não oferece um guia de conduta sobre como se comportar por lá, mas é esperado que as pessoas adotem uma postura de respeito, em um local construído para lembrar a morte de mais de 6 milhões de pessoas.
O nome do projeto veio da combinação de YOLO (um termo popular que significa You Only Live Once – você só vive uma vez) com HOLOCAUST (o equivalente em inglês para Holocausto). E isso foi proposital para gerar um debate sobre como você escolhe se comportar diante da lembrança de uma tragédia como essa.
A grande sacada de Shapira foi a forma como as pessoas que tiveram suas fotos expostas no site poderiam pedir para retirá-las. Bastava enviar um e-mail para [email protected] e pedir para retirar, confessando seu arrependimento de ter postado uma foto no Memorial de forma desrespeitosa. O termo douche vem de douchebag, que significa “babaca”, e o endereço de email basicamente é, em seu sentido literal, ‘me desbabaquize”.
Atualmente o site não possui mais as fotos expostas, apenas uma carta do próprio artista (em inglês e alemão), explicando o conceito do projeto e como ele surgiu. Ele conta que o site teve mais de 2.5 milhões de visualizações, e conta, também, que todas as 12 pessoas que tiveram suas fotos expostas foram alcançadas pelo projeto. Shapira afirma que quase todos entenderam a mensagem, se desculparam e decidiram remover suas selfies de suas redes sociais, como Facebook e Instagram. O artista também recebeu muitos feedbacks positivos de pesquisadores do Holocausto, pessoas que já trabalharam no Memorial, familiares que perderam parentes durante a tragédia, professores que queria usar o projeto nas escolas e ainda, curiosamente, pessoas que enviaram fotos de seus amigos ou familiares para que ele fizesse a montagem no Photoshop com as imagens das vítimas reais.
A carta termina com o e-mail de um dos rapazes que teve sua foto divulgada pelo Yolocaust, onde a imagem capta ele pulando de uma pedra para outra no Memorial, e que ele usou a legenda “Pulando sobre os judeus mortos”. O rapaz diz estar muito envergonhado e que é conhecido por fazer piadas de mau gosto. Ele se desculpa repetidamente e afirma que jamais teve a intenção de ofender ninguém. No fim, ele pede para ter sua foto removida. Shapira diz que essa foi a melhor forma dele concluir o projeto.
Por Patricia Janiques
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