Uma musicalidade que de cara nos leva para uma atmosfera cômica. Mães, irmãs, filhas, cunhadas, criadas, parentes, mulheres. Um espetáculo que nos convida a refletir do início ao fim, entre gargalhadas e tensões. Junto a essa família vamos tentando fazer conexões e desvendar o mistério da morte do único homem que ali vivia. É véspera de Natal nos anos cinquenta e elas estão fadadas a conviver temporariamente presas em uma mansão isolada por uma nevasca no interior da França. Ali inicia-se uma investigação para desmascarar o assassinato. Todas são suspeitas até que se prove o contrário. Divertido e trágico ao mesmo tempo, a dramaturgia do autor francês Robert Thomas traz a cena questões familiares tão atuais que nem nos damos conta de que se trata de um retrato dos anos 50, exceto pelo figurino assinado por Luiza Pannunzio. Outro ponto que chama bastante atenção é a cenografia assinada por PatiFaedo que é bastante grandiosa e ao mesmo tempo funcional nos colocando dentro dessa residência de classe alta.
Amanhã é o último dia dessa comédia policial no Teatro Dulcina as 19:00 horas e você não pode perder. Enquanto isso da uma conferida nessa entrevista linda que conseguimos com as produtoras do espetáculo Lorena Sá Ribeiro e Maria Stela Modena:
1- Como se deu a seleção do elenco e da equipe técnica?
No que se refere à seleção do elenco, tudo se deu de forma muito tranquila e distante das pressões e da competitividade dos tradicionais testes de elenco. Tendo como base o trabalho de algumas atrizes que já conhecíamos, realizamos leituras do texto e, a partir delas, a distribuição das personagens ocorreu de forma natural. À medida que ocorria aquilo que consideramos ser o “encontro” entre a personagem e a atriz, esta passava a integrar nosso elenco – é claro, se ela estivesse de acordo com as condições de trabalho propostas.
Em relação à equipe técnica, fomos diretamente em busca das profissionais com quem gostaríamos de trabalhar, por acreditar que aquilo que elas fazem dialoga estética e ideologicamente com os objetivos de nossa produção. Mas é importante ressaltar que estava decidido a priori que teríamos uma ficha técnica composta essencialmente de mulheres. E isso justamente porque acreditamos que o trabalho de profissionais femininas se aproxima mais daquilo que pretendemos fazer e dizer com nossa arte.
2- Que estratégia a produção utilizou para conseguir os apoios?
Inúmeras foram as estratégias, mas, de modo geral, entramos em contato por e-mail ou telefone e apresentamos o projeto de forma muito honesta, deixando claros seu potencial e também suas limitações. Com alguns dos apoios firmados já tínhamos algum tipo de vínculo – pessoal ou profissional –, e com vários outros a relação se deu por afinidade mesmo. Todas as parcerias estabelecidas têm em comum o fato de partilharem conosco nossa visão sobre a arte e/ou de terem mulheres como líderes ou foco da empresa, do empreendimento.
3- Como surgiu a ideia de estrear no Dulcina?
É muito curioso, porque tão logo começamos a desenvolver o projeto, pensamos no Teatro Dulcina. Queríamos fazer nossa estreia em um teatro que homenageasse uma mulher relevante para a cultura brasileira. Depois de uma longa jornada em busca de uma pauta na cidade do Rio de Janeiro, o edital de ocupação Cena Aberta, da Funarte, abriu e fomos aprovadas em primeiro lugar, com pauta de quatro semanas no Teatro Dulcina. Não poderíamos esperar nada melhor: fazer nossa estreia no teatro que reverencia o talento de Dulcina de Moraes, uma das mais importantes atrizes deste país, no ano em que se recordam os 20 anos de sua morte. E justamente com a peça OITO MULHERES, cuja estreia no Brasil em 1962 ocorreu neste teatro e contou com Dulcina de Moraes no elenco.
4- Como se deu a escolha de realizar essa montagem?
Bom, isso ocorreu há mais de dois anos. Tivemos contato com o filme homônimo, de François Ozon, e ficamos muito entusiasmadas em ver uma obra estrelada por oito mulheres, sem protagonistas, em que todas as personagens têm importância para a construção dramática e sua trajetória é desenvolvida de forma complexa e humana, distante do frequente tratamento da mulher como objeto. Como atrizes iniciantes, sonhamos, então, em representar uma daquelas personagens e decidimos ir em busca desse sonho. Do filme chegamos ao texto que o originou, a peça de Robert Thomas, e, com uma coragem de principiantes, fomos atrás de tudo o que seria necessário para levantar o projeto. Com cautela, honestidade e ousadia fomos dando vida a OITO MULHERES.
5- O coletivo possui uma sede própria ou conta com outros apoios para realização dos ensaios?
Na realidade, não somos um coletivo. Somos uma dupla de amigas-atrizes- produtoras que, diante das dificuldades de entrar no mercado de trabalho e de realizar, por meio da profissão que escolhemos, projetos que estivessem em consonância com nossas concepções artísticas e sociais, decidimos pôr “a mão na massa” e começar a batalhar para colocar nossos sonhos e projetos em cena. Para esta primeira produção, conseguimos juntar um grupo grande que acredita no projeto OITO MULHERES e que conosco trabalhou para realizar nossa temporada de estreia. Até o momento, porém, não possuímos uma sede, e concentramos os trabalhos de produção em casa. Para os ensaios, entretanto, contamos com o apoio fundamental do Colégio Andrews, Humaitá, que, por meio da gentil e calorosa acolhida de André Junqueira, ofereceu-nos um espaço para o desenvolvimento da peça.
6- Como se dão as relações dentro do coletivo no sentido de trabalho? Cada uma atua somente na sua função ou todas acabam dando apoio nas outras áreas também?
Nós, Lorena e Maria Stela, como idealizadoras do projeto, que está sendo realizado de forma independente – por meio da venda de rifas e de financiamento coletivo –, acabamos concentrando muitas funções. Mas contamos com uma equipe de profissionais competentes que, cada uma em sua área, aceitaram juntar-se a nós e fazer o seu melhor, mesmo ganhando valores abaixo dos praticados no mercado.
7- Já possuem uma próxima temporada confirmada?
Ainda não. Estamos aguardando os resultados de alguns editais e, em paralelo, continuamos buscando pautas aqui no Rio de Janeiro e também em cidades para as quais temos interesse em levar a peça. Nosso objetivo é que OITO MULHERES tenha uma longa e bela carreira.
8- Quais os próximos passos desse coletivo? Já tem uma próxima montagem em vista?
Como dissemos, não somos um coletivo, somos duas amigas que se juntaram para começar a produzir e a concretizar suas aspirações artísticas. Para este primeiro trabalho, conseguimos reunir um grupo de mulheres talentosas, que acreditam em OITO MULHERES e que toparam levantar este espetáculo conosco. No teatro, queremos seguir com OITO MULHERES e fazer com que o projeto se desenvolva ainda mais e de forma a traduzir cada vez melhor nossos anseios artísticos. Por isso, ainda não temos outra montagem em vista. Mas, no cinema, temos projetos de curtas-metragens bastante desenhados e que pretendemos desenvolver já no início de 2017.
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