Os RPGs (Role Playing Games), ou jogo de interpretação de papéis, são jogos símbolos da cultura nerd/geek e que tem como única limitação das possibilidades de suas aventuras a criatividade dos próprios participantes, que avançavam na história criada como enredo junto com seus personagens. Eles apresentam inúmeras características comuns entre seus diferentes sub-gêneros e estilos, como a criação dos próprios personagens, atributos como ataque e defesa, pontos de vida, a figura do Game-Master, entre outros. Com a popularização e a universalização do RPG de mesa, era de se esperar que acontecesse o mesmo que aconteceu com praticamente todos os jogos que existiam até então: A adaptação do gênero para os video-games. E assim nascia o RPG Eletrônico.
Caso ainda não tenha lido a parte 1, onde falamos sobre o RPG de mesa, é só dar um pulinho lá.
Logo após a criação dos primeiros RPGs na década de 70, não foi surpresa quando as aventuras fantásticas vividas por aventureiros em terras maravilhosas fossem adaptadas para uma versão nova. As mesas começaram a virar telas, as fichas de personagens foram substituídos por códigos de programação em consoles e computadores e os dados substituídos por alguma função de probabilidade e a figura do GM por letras e instruções dadas por um PC. Importante ressaltar que para muitos fãs do RPG de mesa, o RPG eletrônico não é um jogo de RPG, pois ao invés de ter como o seu único limitante das possibilidades do jogo a criatividade dos jogadores, a aventura ficou limitada pelas limitações do código, que não é capaz de cobrir todas as possibilidades que a aventura poderia tomar.
Alguns dos primeiros títulos considerados como RPG eletrônicos foram lançados no começo dos anos 80 para o Apple II, que era o computador pessoal da Apple, tais como Akalabeth, Ultima e Wizardry, que são considerados por muitos como os primeiros games que migravam a experiência da mesa de aventureiros para as telas dos computadores. Estes games faziam o jogador atravessar cidades, tomar decisões e lutar contra monstros em masmorras, porém, tudo ainda era muito limitado pela capacidade de programação da época. Interessante mostrar que mesmo estes primeiros jogos já apresentavam diversas características da maioria dos RPG eletrônicos até hoje, como o mundo ser explorado em 3 tipos de mapa: Mapa Mundo, Cidades e Masmorras.
Porém, nenhum ano foi mais importante para a industria como foi em 1986, em que mercado dos RPG eletrônicos iria mudar para sempre com a Nintendo. No começo do ano, foi lançado para o console o jogo Dragon Quest, que para muitos é considerado até hoje um dos maiores títulos do gênero até hoje. O jogo apresentava uma câmera em terceira pessoa que possibilitava ao jogador controlar toda a ação e os movimentos do personagem de cima e trocava para uma câmera em primeira pessoa nos momentos das batalhas, além de botões de ação que poderiam ser escolhidos pelos jogadores. Esse modelo foi tão bem aceito que até hoje, mais de 30 anos depois, é utilizado em inúmeros RPGs.
Ainda em 86, a lenda da Nintendo, Shigeru Miyamoto, lança seu trabalho que é tido por muitos gamers como uma das maiores revoluções dos Video-Games. The Legend of Zelda não foi só revolucionário por sua história, que apresentava o jovem aventureiro Link, que desbravava castelos e enfrentava monstros para salvar a princesa Zelda das garras do temível Ganon. Utilizando o mesmo sistema imortalizado de visão superior já presente em Dragon Quest, ele quebrou uma das ligações clássicas com os RPGs de mesa ao abolir a mecânica de turnos de decisão e introduziu um esquema de combate dinâmico, onde não haviam turnos e os jogadores deveriam movimentar o pequeno aventureiro pelo mapa para derrotar os monstros, num esquema que é adotado pela grande maioria dos jogos de RPG atuais, tornando o RPG um gênero muito mais dinâmico com batalhas em tempo real.
No ano seguinte, em 1987, a Square Enix, que era uma empresa de games praticamente falida, lançou também para o Nintendo o seu jogo de despedida, como último jogo que eles iriam produzir e o nomearam já como se fosse uma despedida do mundo dos games. Foi então que como um último suspiro da Square, nasceu talvez o maior nome dos RPGs eletrônicos da nossa era, Final Fantasy, que seguiu a mesma mecânica de Dragon Quest, porém, com um mapa muito maior, um enredo mais sério e envolvente e um game-play muito mais complexo e dinâmico.
Claro que o pai de todos os RPGs não podia ficar de fora dessa nova empreitada e em 1988, Dungeons&Dragons lançou a sua versão para PC, intitulado Pool of Radiance, onde o jogador poderia criar 6 personagens dentro das regras de D&D e viver aventuras no mundo fantástico da série. Este foi o primeiro jogo de computador à oferecer uma série de side-quests que revelavam maior parte do enredo e itens adicionais em troca de aventuras que não eram obrigatórias para a conclusão do jogo.
Em 1995 a Nintendo volta a causar com o lançamento de Chrono Trigger, que é tido por muitos (IGN) como o melhor RPG de todos os tempos pela sua história incrível, viagem no tempo, mundo medieval, mundo futurista, e muito mais em uma mecânica inovadora e dinâmica, belos gráficos e ainda por cima o game vinha incluso com o Super Nintendo na versão Japonesa.
Em 1996 a Blizzard se torna mais uma imortal do ramo dos RPGs ao lançar Diablo, que trouxe de volta todo o universo inspirado em D&D para uma temática muito mais adulta e saudosista aos enredos dos eternos RPGs de mesa.
Claro que a história dos RPGs Eletrônicos vai muito além disso, mas para entendermos o que é esse gênero hoje, é necessário entendermos como o RPG de mesa chegou nos computadores e video-games e um pouco da caminhada dele até aqui. Para entender quem é o nerd de hoje, é sempre necessário entender quem foi o nerd de ontem.
Por Yuri de Melo
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