Muito antes dos RPG’s se popularizarem dentro da indústria de videogames com “Final Fantasy”, “Warcraft”, “Elder Scrolls”, “Chrono Trigger”, entre outros conhecidos das plataformas, o gênero já era algo muito popular entre os jovens nerds de todo o mundo muito antes sequer do primeiro videogame ser comercializado. Estamos falando aqui do RPG de mesa, ou como é conhecido no Brasil, RPG de papel. E se você nunca jogou esse tipo de RPG e achava que um exemplo do gênero era só seu “The Witcher III”, vamos te dar uma ótima notícia: você está redondamente enganado!
A sigla RPG significa Role Playing Game, que significa “Jogo de Interpretação de Papéis”. Possui este nome porque a essência do jogo é assumir o papel do seu personagem e construir colaborativamente com os outros jogadores a história da aventura em que estes participam. Cada personagem possui características, habilidades, atributos e histórias diferentes que definem suas ações e tudo o que ele pode fazer.
Este modo de jogo nasceu como uma adaptação dos jogos de guerra de tabuleiros, onde os jogadores comandavam exércitos. Mas só isso não era o suficiente para os jovens nerds da época. Foi aí que, influenciados por inúmeras obras de literatura fantástica como “O Senhor dos Anéis” – talvez a grande referência nerd do século XX – alguns deles começaram a adaptar estes jogos de tabuleiros para o universo fantástico de monstros e dragões que existia em suas mentes. Com tantas adaptações, começaram a nascer jogos totalmente novos.
Sabemos que nenhum jogo é um jogo se não possuir regras. Em 1971 foi publicado o livro “The Fantasy Game”, que ensinava as pessoas a jogar estes tipos de jogos e é considerado por muitos como o primeiro manual de RPG da história, que viria a se tornar alguns anos depois em 1974 o imortal “Dungeons&Dragons” (D&D), que é o sistema de RPG mais famoso do mundo. “Dungeons&Dragons” é o RPG mais popular de todos os tempos, nele, os aventureiros interpretam personagens de uma temática medieval, inspirada nos clássicos de fantasia de dragões, masmorras e heróis. Foi nesse sistema também que foram criados inúmeros conceitos presentes em diversos RPGs, tais como masmorras, uso de dados variados, a interpretação espontânea dos personagens pelos jogadores, toda a utilização de regras e mecânicas do jogo, profissões, a colaboração entre os personagens e até a criação da figura do Mestre, ou Narrador, que é aquele que conta a história e interpreta todos os outros personagens secundários da aventura. Cada personagem é constituído de um conjunto único de habilidades, atributos, características e fraquezas que são comumente descritas nos manuais dos jogos. Pois como bem sabemos, se não tem regras, não tem jogo. E seguindo essa lógica, não foi só D&D que criou suas regras de RPG.
Além de D&D, existem ainda outros sistemas de RPG muito famosos, como o “Storyteller”, que nasceu com o jogo “Vampiro: A Máscara”, que tinham como protagonistas clãs rivais de vampiros, ao invés dos clássicos de temática medieval de D&D, e que foi uma febre nos anos 80. Outro sistema de RPG muito famoso foi o “GURPS” (Generic Universal RolePlaying System), que diferentemente dos anteriormente citados, não possuía uma história e nem um cenário pré-definido, podendo ser usado de base para praticamente qualquer história que os jogadores quisessem adaptar, de aventuras nos tempos das cavernas, para aventuras no velho oeste e até viagens no espaço, trazendo dentro de um único jogo, uma possibilidade infinita de histórias. No Brasil ainda foi muito comum outro sistema chamado “Tormenta”, que nasceu da “Dragão Brasil”, que era uma revista de RPG muito popular entre os nerds no século passado e que misturava temática medieval com o universo dos Animes, possuindo seguidores até hoje.
Durante o final do século XX, os RPGs de mesa sofreram forte repressão e preconceito por conta das igrejas (para você ter ideia do tamanho da coisa), que apontavam o jogo como uma brincadeira satânica e que desviava as crianças das morais cristãs. Isso fez, inclusive, com que D&D fosse obrigado a parar de utilizar demônios como personagens e inimigos em suas aventuras, para tentar fugir da repressão, fazendo com que o jovem nerd que já era mal visto pela sociedade, por simplesmente não se encaixar nela, fosse ainda visto como um perigo para a família e para a sociedade – por rolar um dado de 20 lados e matar alguns goblins. Da pra acreditar nisso!? Durante os anos 90 ainda, diversos crimes que aconteciam no Brasil eram associados a jogos de RPG, que de acordo com os repressores do gênero, influenciavam os jogadores a cometer de delitos menores, como um roubo, até a assassinatos de entes queridos. Quando eram encontradas evidências de que o criminoso jogava RPG, estes eram associados ao jogo. E você achou que a perseguição dos videogames era coisa nova?
Com tudo isso, a história dos RPGs, em especial os de mesa, está intimamente ligada à história da cultura nerd. Sendo muito importante para entendermos como começou esse universo nerd do qual fazemos parte. O RPG de mesa era o jogo mais popular entre os jovens nerds que se encontravam para viver aventuras por terras fantásticas e enfrentando monstros épicos. E não há nada mais importante para entendermos quem é o nerd de hoje do que entender quem foi o nerd de ontem. Antes de sermos nerds de frente para os vídeo games, éramos nerds em volta de mesas, jogando dados de 20 lados e interpretando cavaleiros, elfos e magos em terras fantásticas, muito além de tudo que existia até então.
Ao RPG de mesa, um sincero obrigado, de todos os Nerds!
Por Yuri de Melo
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Fala Yuri,
Você sabe informar fontes, se existem boas fontes, ou conhece algum livro bom que explica toda esta história que você falou, da origem do RPG ? .
– será que conhece algum material para nos indicar como fonte desta história –
– achei massa –