Roteiro conveniente, jogos pouco engajantes, e violência pela violência tornam a S3 de “Alice in Borderland” em uma caricatura
Com o fim da segunda temporada, “Alice in Borderland” teve um final redondinho, um tanto enigmático para alguns, mas uma forma bonita de fechar um death game com dignidade. O que poderia ser um gancho para alguns, a carta do Curinga ao vento era uma forma conveniente de deixar os espectadores na cadeira esperando por mais.
É aí que vem a terceira e as coisas desandam — e é em todos os níveis. Fazendo um brevíssimo paralelo, há uma elipse do encontro de Arisu ao fim da segunda temporada com o que imaginamos ser a Morte, ou “Deus” no mangá. Essa é a caixa da Pandora para a descida da ladeira que vem a seguir.
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Nessa nova premissa, descobrimos que houve um salto temporal e Arisu e Usagi casaram-se e estão construindo uma vida juntos, mas ainda lidando com os traumas do acidente. No primeiro episódio vimos uma série de entrevistas conduzidas com os sobreviventes dos jogos, Ryuuji Matsuyama (Kento Kaku) é um professor universitário que estuda as experiências de quase morte e, vendo como as histórias dos “retornantes” bate, acredita que está perto de descobrir o segredo do pós-vida.

Longe de nós criticar liberdades criativas de adaptações — série é uma mídia diferente, afinal, e é um trabalho inspirado, sem comprometimento com o original, mas a season 3 exala conveniência de roteiro, receita para estragar jogos mentais como Alice in Borderland. No saldo do fim da temporada 2, muitos jogos não tinham sido adaptados, ou foram trazidos de forma bem diferente, o universo criado é pano para muita criatividade, curiosamente é isso que faltou — e fez falta — para a sequência, ao menos no que diz respeito às motivações.
A título de curiosidade, o mangá tem uma continuação breve lançada em 2020, da qual a adaptação diverge em 99% das coisas; na nossa opinião, completamente desnecessária, mas fazer o quê? A nova temporada não difere nesse aspecto, porém destoa de modo gritante na comparativa em retrospecto: os roteiristas precisam fazer com que os protagonistas retornem às borderlands, mesmo que estejam encurralados.
Essa é a sensação que fica, afinal, depois de lutarem tanto para escaparem, os showrunners querem nos fazer acreditar que os personagens querem voltar, e usam Usagi como bode expiatório com a morte de seu pai de um jeito que nem termina bem amarrado. Não importa: a audiência quer ver gente se matando.
Mas ok, tudo bem, vamos justificar esse fenômeno como uma atração contemplativa da morte por estresse pós traumático — como até é mencionado no primeiro episódio — mesmo assim não funciona: do ponto de vista da construção de personagens, todo o ímpeto de luta pela vida, as borderlands enquanto metáfora, soa como um retcon muito do preguiçoso; os personagens precisam involuir para produzir mais temporadas, mesmo que não faça sentido pelo que se estabeleceu em tela.
A qualidade dos jogos também caiu. Apesar da produção, que continua com efeitos a par das demandas visuais, o aspecto intelectual deu uma fugida pela janela, seja por ressuscitar burlas aos jogos já trazidas anteriormente (sem spoilers), estratégia e chantagismo barato com bebê (Usagi está grávida) — à última temporada de “Round 6”, quem viu sabe — e, modo geral, games com andamentos previsíveis ou meio chatinhos — como o que eles contam com o auxílio de um railfan enquanto fazem roleta russa com a própria sorte.

O mesmo vale para a empatia pelos personagens. Alice in Borderland traz a mensagem que momentos que nos põe ao limite tiram o pior e também o melhor do ser humano. Já vimos isso, só que dessa vez sabemos o que são as borderlands, estamos com raiva do emburrecimento dos personagens e vamos nos cansando de como o roteiro quer os fazer sofrer de forma rasteira. Não que o “mistério” segurasse a trama num todo, mas a S3 tem menos mística, é tudo muito corrido, nem há espaço direito entre os jogos, também por isso os sonhos e flashbacks ficam todos de lado e, quando aparecem (porcamente), são embolados no último terço da temporada.
Abre-se um parênteses para a necessidade de explicar tudo para a audiência. A S2 fazia isso com os monólogos duvidosos do supercool Chishiya — que virou queridinho do público — no entanto restava salvaguardada a cosmologia desse mundo misterioso. Com a entrada da S3, resta menos lugar para imaginar, as sutilezas e metáforas são jogadas pela janela — conhece-se os personagens, reconhece-se o ambiente, mas se prefere resumir aos nem (mais) tão interessantes assim jogos de carta.
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Não dá para querer que uma história seja sempre um gozo eterno, que seja sempre possível sempre viver de altos — à “Madame Bovary” — e embora tenha tentado subir o sarrafo com os “jogos do Curinga”, chega um ponto que se torna choque pelo choque, e daí… “e eu com isso?”. Para piorar, toda a filosofia de boteco se arrastando como um trem desgovernado nos últimos minutos.
Uma pena o que tenha ocorrido com a série, que deveria ter sido simplesmente concluída antes de se tornar uma franquia — porque, se desgraça pouca é bobagem, os Estados Unidos querem aumentar o seu arsenal de bombas atômicas e já confirmou a sua versão da série; Deus, tende piedade.
Imagem Destacada: Divulgação/Netflix

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