Esta crítica diz respeito apenas à primeira temporada do anime, “Sword Art Online” (2012)
Continuando nossa série de animes clássicos com plena consciência do polêmico que há soar o título, não há como fugir que “Sword Art Online” (2012) é uma das séries mais influentes do milênio. Originalmente concebida para um concurso, em 2002, o autor Reki Kawahara começou a publicá-la no formato light novel em 2009, onde fez grande sucesso e recebeu sua primeira adaptação para anime, em 2012.
Este não é o primeiro título isekai da história — os próprios limites no conceito de isekai devem ser questionados, com uma premissa tão velha quanto a literatura — mas seu sucesso é um dos principais responsáveis pela enchurrada de títulos que tentaram surfar a mesma onda, incontáveis a essa altura. Atualmente, Sword Art Online é o sexto anime mais popular no ranking do MyAnimeList.
Nesta review, vamos revisitar — agora com um distanciamento razoável — o seu fenômeno e tendar entendê-lo melhor. Vale o lembrete que, apesar do título soar provocativo, um anime clássico precisa ser influente, continuar sendo revisitado, e um título que deve ser assistido por todos aqueles que queiram entender melhor a história da indústria; o que não é um sinal verde, necessariamente, sobre sua qualidade.
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“Alto em meus sonhos eu saltei”
夢で高く跳んだ
(Crossing Field, LiSA; episódios 1–14)
No longínquo ano de 2022, os jogos de realidade virtual se tornaram uma realidade, o grande símbolo disso é a estreia do aguardado game Sword Art Online, onde os jogadores controlam seus personagens através do próprio pensamento, o que é possibilitado por um aparelho que se conecta aos seus cérebros.
Kirigaya Kazuto, ou Kirito, 14 anos, é um dos 10.000 jogadores on-line durante a estreia do game revolucionário no mundo fantástico de Aincrad. Em dado momento, os players não conseguem se desconectar, além disso, seus avatares são substituídos pelas aparências da vida real, o que gera um burburinho nos jogadores, todos reunidos no primeiro piso do jogo.
Esse burburinho então se converte em pânico: o Game Master, um homem chamado Akihiko Kayaba, anuncia que todos estão presos no jogo até que alguém derrote o chefe do 100º andar de Aincrad. Caso morram in-game, isso acarretaria morte na vida real, bem como caso alguém do outro lado tente os desconectar.
Tendo jogado o beta de SAO, Kirito se torna um jogador solitário, preferindo se isolar dos demais pela fama negativa que tem, sendo chamado de beater (uma mistura de cheater, “trapaceiro”, e beta-tester), com seus conhecimentos salvando-no da morte, ao menos durante o início. 2.000 morreram apenas no primeiro mês.
Kirito eventualmente conhece Asuna Yuuki, 15, uma das líderes da guild mais poderosa de Aincrad, com quem forma um grande laço romântico e, eventualmente, se casam dentro do jogo, tornando-se pais adotivos de uma fadinha, Yui, e vivendo uma vida relativamente pacífica no 22º andar.
Em dado momento, o casal descobre que o líder da guild de Asuna é na verdade o próprio criador de SAO, quem enfrentam em uma batalha final para decidir o destino dos cerca de 4.000 jogadores restantes. Após uma difícil vitória, Kirito acorda completamente debilitado em uma cama de hospital, apenas para descobrir que sua amada continua presa junto outras dezenas de players, reféns do rapto de um CEO sádico que quer realizar experimentos igualmente sadistas.
Sem nem ter tempo para descansar, Kirito embarca novamente no mundo virtual para salvá-la, agora dentro de Alfheim Online, um jogo de fadas. O rapaz conhece Leafa (Kirigaya Suguha), uma elfa experiente que o guia na aventura e quem por ele se apaixona, sem saber que o rapaz em questão é seu irmão adotivo.
“Procurando apenas por um milagre”
奇跡だけを求め消えない闇を彷徨う
(Innocence, Air Aoi; episódios 15–24)
Sejamos sinceros: Sword Art Online é uma fanfic.
E que se faça a ressalva que existem fanfics excelentes, com materiais originais ou não muito superiores até mesmo ao próprio trabalho que se baseiam. Mas, puxando o sentido derrogatório que foi construído com os anos, não há uma única peça de ousadia, grandeza estética, ou roteiro magnífico. Como é que Sword Art Online ficou tão popular assim?
Nossa resposta curta: projeção barra self-insert.
Agora a resposta elaborada. Recapitulemos: um garoto adolescente, de cabelos pretos atrai o ódio de seus iguais — por ser simplesmente muito bom — conquista uma bela garota e vão viver uma vida idílica numa casa de campo em um mundo de fantasia. Talvez essa última parte tenha soado especialmente “Spy x Family”, e isso é apenas um recorte de algo maior (de desejo de escape de uma realidade solitária e massificante).
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Kirito é desenhado para ser o indivíduo mais genérico, e insosso, para atrair o maior público possível — a escolha de seu design, particularmente, é uma ideação sagaz e próxima do biótipo médio japonês. Não há um momento específico que o telespectador o pegue cometendo um deslize de caráter, ou um erro que o imbuia de arrependimento. Excelente desde o princípio, ao que seu personagem suba de nível, não há muito espaço para progressão de personagem.
Ao contrário, Kirito pode ser o protagonista e ser peça chave para que o mundo se destrave a sua volta, mas funciona muito mais como um espectador de um mundo maior e cheio de possibilidades; esse é o ponto em que a série mais brilha.
Ao brincar com convenções de RPG, como construção de personagem, em um mundo de fantasia em que tudo é possível, temos diante de nós uma aventura fantástica com classes complexas, pets, desenvolvimento de habilidades, side quests, toneladas de lore e histórias que parecem super empolgantes de serem exploradas em um RPG de mesa.
Há de se dar o braço a torcer que a novel faz o trabalho muito melhor nessa parte, já que o anime teve de cortar grandes porções de desenvolvimento para encaixar os dois arcos da primeira temporada. Seja como for, o saldo é negativo: Kirito e Asuna tem tanta liga como dois gases nobres, há pouco espaço para o casal, e suas cenas brincando de casinha podem funcionar para um adolescente de doze anos, mas soam tão mal quanto o infame capítulo +18, 16.5, da novel.
Terminados os méritos narrativos que lhe cabem, do primeiro arco ao segundo é só ladeira abaixo. Ao que há uma noção de perigo real estabelecida no primeiro episódio, a ida para o ALO para salvar Asuna no melhor estilo donzela indefesa é bem qualquer coisa: nem a construção de mundo é suficientemente interessante — porque é muito pouco explorada — nem há um adversário tão à altura da primeira parte.
Não ajuda que a trama incestuosa dê belíssimos bocejos — dando tempo de fritar um ovo toda vez que Suguha aparece na tela — e toda personagem feminina esteja magneticamente atraída por Kirito; Sword Art Online também assume de vez o espírito de reta final de novela e coloca um vilão maluco para fazer “maldades porque sim”. Ah, vamos lá, podemos fazer melhor que isso!
Se os pontos conectam, este é o mesmo autor de outro acidente nuclear famoso: “Accel World” — sim, o que disse que se arrependeu de ter feito o protagonista gordo quando viu que a obra fez sucesso. Da época que recomendações isekai ainda eram relativamente escarsas, fica o lembrete nostálgico de dias não tão simples assim, em que o mercado não estava inundado com catorze Kiritos toda temporada. Acho que deu para entender a ideia, não é?
Apesar de um material não muito digno de memória, a A-1 Pictures soube sabiamente investir bem na trilha sonora: “Crossing Field” com a hitmaker LiSA e “Innocence” por Eir Aoi são o perfeito lembrete de que para ser clássico não precisa ser bom, mas aberturas bem construídas e chicletes podem ajudar na lavagem cerebral do público — alô, Elfen Lied!
Sword Art Online (2012). Imagem Destacada: Divulgação/Crunchyroll
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