Na próxima quinta feira, estreia Bernadette, A Mulher do Presidente, uma cinebiografia semi ficcional em forma de comédia mordaz, como o coral cantante e hilário anuncia logo no começo do filme, sobre a esposa do falecido e polêmico Presidente Jacques Chirac, que governou a França entre 1995 e 2007.
Bernadette, foi formada na mesma faculdade de ciências políticas francesa que Jacques frequentou, onde se conheceram, posteriormente se casaram em uma união de sessenta anos, e ela foi parte importantíssima da eleição e reeleição do presidente, tanto pela sua intuição, quanto pela sua astúcia em um meio machista, dominado por homens.
Considerando que se trata de uma comédia divertida, é de se admirar a leveza e ironia com que a diretora e roteirista Léa Domenach, conduz a lendária atriz francesa Catherine Deneuve pelos labirintos do poder no Palácio do Eliseu, batendo de frente com os homens desde os serviçais até os poderosos assessores do marido e estando sempre certa nas suas observações argutas sobre o povo francês, que parece conhecer muito bem.
Leia mais: Ainda Temos o Amanhã | A Luta pela Liberdade Feminina
Leveza essa em termos de filmagem e cinematografia, pois Léa Domenach pega pesado com a estupidez com que Bernadette é tratada pelos homens inclusive pelo seu marido, que se não é totalmente néscio como brinca o filme, deve muito de sua carreira política a Bernadette.
A diretora também pega pesado com as armações de vingança que a própria protagonista impõe aos seus desafetos, pois rancorosa, não perde a oportunidade de devolver na mesma moeda, mas com um pouco mais de classe, todos os desafores que a princípio foi obrigada aturar, inclusive de uma suposta e provável aliada que seria sua filha, assistente direta do pai e presidente.
Mas eram outros tempos, mais simples, em que não havia essa preocupação com a representatividade feminina, sem tantas violentas polaridades políticas, que a cinematografia esperta mistura com filmagens reais, colocando de forma muito clara e fluida todo o contexto da era e do que ocorria na França, com Jacques abrindo o Palácio do Eliseu para todos e oferecendo o que parecia uma abertura aos franceses com mais participação no governo.
E é num dos muitos escanteamentos submetidas pelo esposo, inclusive com mais um relato de traição de Jacques e ser considerada ultrapassada, Bernardette decide se reinventar e começar a mostrar para mídia e os eleitores o que realmente era, uma mulher interessante e um trunfo para o Presidente, mesmo que pelo menos no filme, ele nunca consiga ver ou admitir.
A força dos atores franceses está nas representações e imitações que parecem perfeitas das reais pessoas que existiram.
Michel Vuillermoz está perfeito como um aparvalhado e frequentemente, machista e incompetente Jacques Chirac, que não perde a oportunidade de cometer uma gafe, ou diminuir sua esposa.
Denis Podalydès, como Bernard na futura profissão que viria a ser chamada de media trainning, é um show de ironia e projeção de inteligência, em um meio no qual é considerado um perdedor e foi contratado para falhar ao lado da Primeira Dama.
E o furacão Catherine Deneuve, parece se divertir muito, como uma mulher inteligente, que vai comendo pelas beiradas até chegar ao centro que sempre mereceu estar, o do Poder, mesmo que nos bastidores.
Se há algo que falta, pouca coisa, é somente mostrar um pouco mais de Jacques Chirac, além de um indefensável ogro machista, a história mostra que nas suas memórias ele finalmente reconheceu o trunfo e a sorte de ter Bernadette ao seu lado e embora possa ter dependido e muito da ajuda dela, alguma qualidade política tinha para inclusive ser reeleito.
Leia mais: 48ª Mostra Revela Cartaz da Edição e Primeiros Filmes da Seleção
Desde o primeiro fotograma, o filme se define como uma comédia política e que nem tudo ocorreu conforme o demonstrado, mas apesar de uma farsa modesta, diz muito sobre os bastidores do poder e como se tratam as mulheres nesse meio brutal, porém ensina que uma vez que pessoas observadoras e inteligentes estejam nesse cenário, devem ser ouvidas, independentes de serem a Primeira Dama ou seu media training que estava “jogado” e auxiliou Bernardette a se tornar uma das mulheres mas influentes e importantes da França.
Ou seja, é sempre melhor ouvir as pessoas que realmente tem algo importante a dizer.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.