Nascida e criada no Rio de Janeiro, a artista começou bem cedo na dança e não parou mais. Formada em Comunicação Social na UFRJ, ela que está sempre na busca por ir além, segue trabalhando e acreditando em seus sonhos e projetos para se estabelecer na carreira artística. Amante e atuante do áudio visual, também faz trabalhos como modelo, repórter, mas seu coração e alma transbordam fortemente quando esta nos palcos atuando. A carioca já teve oportunidades maravilhosas fora do Brasil conhecendo novas culturas e também se desenvolvendo pessoal e profissionalmente em Paris, na França onde estudou Teatro e Mídias, Buenos Aires e em Nova York, além de já ter mochilado por outros tantos lugares, incluindo uma trip sozinha pela Ásia que guarda no coração. É outra paixão que traz no peito: conhecer outras culturas, abrir a cabeça para outras possibilidades.
Em suas viagens ela sempre procura conhecer um pouco do mercado no local e buscar cursos interessantes. Em Nova York, ano passado, teve a incrível oportunidade de estar com a Susan Batson (coach há anos da Nicole Kidman e que já trabalhou com grandes nomes do cinema). Ela e o filho dela, Carl Ford, a fizeram experimentar uma liberdade como atriz que ainda não conhecia. “Foi emocionante e transformador. Fora que fiquei apaixonada pela cidade. Meu deus, aquilo lá é a minha cara!” brinca a atriz. Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais dessa artista e você acompanha o nosso bate papo a seguir:
Adriana Dehoul: Como começou sua caminhada no fazer artístico?
Bárbara Bárcia: Meu encontro com a arte aconteceu na dança. Eu não ligava pra bonecas quando era pequena, só queria saber de dançar as músicas da rádio e ficava sozinha me divertindo assim. Minha mãe decidiu então me colocar para fazer aulas de ballet. Antes dos quatro anos eu já estava na Escola de Dança Petite Danse. Foi uma educação que realmente permaneceu comigo na minha vida e me ensinou a ter disciplina em qualquer ambiente profissional. O ballet clássico é muito rigoroso.
Com 13 anos e a chegada da adolescência, percebi que não queria me tornar uma bailarina profissional. Eu deixei a companhia de Ballet e decidi ocupar aquele tempo com outro tipo de arte: o teatro. Comecei no Teatro O Tablado na turma do Cico Caseira. A partir daqueles encontros semanais, eu entendi que aquilo era de fato o meu fazer artístico. O Cico foi o mestre perfeito para esse primeiro contato, ele estimulava todos os alunos de uma forma lúdica e engajada. Cico sempre foi um artista que me inspirou e me emocionou. Tem mestres que nos marcam, né? Logo em seguida, fui aluna da Guida Vianna, que me mostrou a importância da técnica e da inteligência para o ator. A Guida é muito inteligente e até hoje tenho profundo respeito e admiração por ela.
Esses dois primeiros anos foram fundamentais para minhas escolhas e para meu entendimento, ainda adolescente, de que atriz eu queria me tornar. Acho muito importante a maneira como a carreira artística é apresentada aos jovens porque muitos idealizam demais a profissão. Em tempos de celebridades virtuais, é fundamental ter a cabeça no lugar e decidir o seu papel de artista.
A. D.: Dança, Teatro, Teatro Musical, Jornalismo , Cinema o que mais faz seu coração pulsar?
B. B.: Eu sou apaixonada por audiovisual. Optei pela graduação de Comunicação Social pensando em estreitar meus laços com o cinema. Eu fico com a cabeça a mil pensando em projetos de cinema e documentário, é o que me dá mais prazer em criar. Agora estou com as energias em um projeto bem lindo feito com mais duas parceiras jornalistas, é uma série documental sobre mulheres. Estamos em fase de pesquisa e produção.
Apesar dessa paixão, não largo o teatro por nada. Minha base de atriz vem toda do palco. Foi ali que aprendi (e aprendo) o essencial dessa profissão. Acho que todo ator tinha que ter essa experiência. O teatro traz muitas lições importantes: o contato direto com o público, as dificuldades para montar um espetáculo, a preocupação de manter o frescor da cena … é a realidade mais dura do ator aqui no Brasil. O que me atrai hoje em dia é pensar em como podemos aumentar o alcance dessa arte. Numa peça podemos ter 60 pessoas em uma sessão (ok, até mil se for em um grande teatro), mas um vídeo desses de Youtube consegue milhões de visualizações. De que forma nós, “fazedores” de teatro, podemos usar a tecnologia a favor da nossa criação? Como fazer para impactar um maior número de pessoas com o nosso trabalho? Essa é a minha reflexão.
A. D.: Soubemos que você tem um “canal” de poesia. Conte-nos um pouco sobre isso.
B. B.: Sim! O “Ela me fez entrar” é um Instagram de poesia, onde eu, Tainá Nogueira e Ana Moura lemos poemas somente de mulheres. Nós três nos conhecemos por causa do espetáculo “Contra o Vento”, do diretor Felipe Vidal, e tínhamos essa vontade em comum de produzir algo que destacasse o trabalho de mulheres. Depois de assistir ao longa “Cinema Novo”, no Festival do Rio, a Tainá comentou que não tinha nenhuma mulher ali entre os destaques daquele movimento. Ficamos com isso na cabeça e, como ela já tinha um envolvimento maior com a poesia, trouxe a ideia de nos aprofundarmos nesse universo focando na produção artística de Mulheres. A escolha da plataforma “Instagram” foi para experimentar uma nova linguagem mesmo. Nós estamos estudando ampliar nossa pesquisa e incluir outras artistas nesse projeto. Quem tiver indicações e ideias, pode falar com a gente. Sejam bem-vindxs! (elamefezentrar@gmail.com)
A. D.: Quais foram seus trabalhos mais desafiadores no teatro até aqui?
B. B.: Ainda nova, interpretei a Moema, de Senhora dos Afogados, texto de Nelson Rodrigues (que eu amo). Foi uma responsabilidade enorme viver aquele personagem e, felizmente, acabei indicada a melhor atriz no festival que participamos. Anos depois me peguei no desafio de substituir a Julia Bernat na peça “Contra o Vento – Um Musicaos”. Foi prazeroso e desafiador ter que pegar no baixo e no violão no palco, além de ter que cantar. O canto sempre foi um desafio para mim. No musical “O Mambembe” precisei trabalhar a confiança na minha voz. Essa profissão nos engrandece muito como seres humanos, né? A cada trabalho temos que nos superar em alguma coisa!
A. D.: Ano passado você fez uma grande escolha: Deixar um trabalho como jornalista para se dedicar exclusivamente à sua arte. De que forma essa decisão vem impactando a artista Bárbara Bárcia?
B. B.: É impressionante como olho pra trás e penso que foi a decisão certa na hora certa. Eu tinha muito medo. Estava há três anos trabalhando como repórter na televisão e comecei a não ter mais tempo de dividir meu foco. Aos poucos fui me bloqueando na criação e comecei a questionar meu lado artista. Mesmo saindo do Canal Woohoo, onde tive uma equipe muito querida por perto e aprimorei meus conhecimentos audiovisuais, eu não me afastei da Bárbara jornalista/apresentadora. Ainda faço bastante freela de cobertura de evento e produzo conteúdo audiovisual, mas fico com a agenda bem mais flexível para focar na carreira de atriz e nos testes que aparecem pelo caminho. Estou muito feliz vivendo esse momento. Agradeço toda a experiência que tive porque hoje tenho a confiança para produzir e acreditar nas minhas ideias. Somos criadores e pra isso tem que suar e botar a mão na massa mesmo. No dia de apresentar meu TCC, ouvi da coordenadora da Escola de Comunicação da UFRJ que eu era uma “Self-made Woman”. Isso nunca mais saiu da minha cabeça. Se você quer, você precisa acreditar, ter paixão e ir lá fazer acontecer!
A. D.: Existe algo que não perguntamos que você gostaria de nos contar?
B. B.: Ihhhh, tanto assunto para conversamos haha… Mas vou compartilhar uma atitude que está mudando meus hábitos e minha rotina. Comecei a determinar o tempo que vou demorar para realizar cada atividade que decido fazer. Se vou ler um livro, por exemplo, marco no relógio 30 minutos e me dedico inteiramente à essa tarefa. Não tem celular, não tem comida, não tem distração… Foi um jeito de conseguir voltar a me concentrar. Estou sempre muito conectada e isso estava me consumindo a ponto de não conseguir focar em uma coisa só. Isso serve para os exercícios da fonoaudióloga, para escrever meus projetos e também para quando preciso ler e pesquisar. No começo é estranho, depois você cria essa disciplina e fica muito feliz com os resultados. Pode ter certeza, se você começar a fazer isso, você vai conseguir realizar muito mais daqueles planos que ficam só no papel. Comece com 15 minutos (se for difícil ainda focar em uma coisa só) e depois vá aumentando. Você vai ver que vai render muito mais!
A. D.: Que mensagem você deixa para os jovens artistas que como você anseiam poder viver da sua arte?
B. B.: Para você viver da sua arte você precisa acreditar nela, precisa ser ousado, fugir da massa e não ter medo da opinião dos outros e das críticas. Quantos artistas não foram chamados de loucos? Agora, é importante lembrar que a arte é uma experiência a ser compartilhada … você vai oferecer isso a alguém. É preciso ter cuidado com o conteúdo. Precisamos ter mais consciência e levantar mais questões nas nossas produções. Estamos vivendo tempos difíceis, principalmente aqui no Brasil. No Rio de Janeiro então… Vamos falar disso? Vamos trazer mais debates? A arte em muitos momentos nos eleva e nos transporta para longe da realidade, mas há vezes que ela precisa ser um soco no estômago mesmo, precisa mostrar o que está sendo colocado embaixo dos tapetes. É dessa forma que encaro meus projetos hoje em dia. De que forma vou contribuir para melhorar uma situação (ou pelo menos mostrar que ela existe)? Vamos falar de política, de minorias, de injustiça, de desigualdade social, do ser humano… Usem a arte para dar voz aos que não tem, usem a arte para questionar o que está errado em tudo isso. E claro, sejam felizes!
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