O ano de 2016 começou repleto de especulações sobre o que esperar das famigeradas produções para cinema envolvendo alguns dos personagens mais queridos dos quadrinhos. Enquanto intensas discussões rolavam na internet, os estúdios aproveitaram para finalizarem determinados projetos que já estavam no gatilho e/ou anunciarem novas ideias para loucura dos fãs. Entre todos esses, se encontrava o já aguardado “Doutor Estranho” da Marvel. Um dos heróis mais enigmáticos das HQs, enfim, ganharia vida através de um produto que não só traria alguns dos grandes atores da atualidade, mas vencedores do Oscar.
O ano todo fomos bombardeados por uma campanha de marketing de tirar o fôlego, que mostrava um pouco do que veríamos em novembro desse ano, deixando-nos ainda mais curiosos (mesmo depois da decepção que foi assistir o ótimo trailer de “Esquadrão Suicida” e se deparar com o filme entregue). Sendo assim, o tão aguardado dia chegou e fomos conferir Benedict Cumberbatch viver o seu primeiro protagonista super-Herói e o resultado foi um só: não é o melhor filme do gênero nesse ano, mas passa longe de ser o pior. O fato disso acontecer deve-se a um outro produto Marvel ter sido a grande supresa de 2016, “Deadpool” (leia a nossa crítica e saiba o motivo) é sem dúvida a produção mais irreverente dos últimos anos, ganhando em roteiro, direção e o ritmo acelerado que souberam conduzir muito bem.
Embora isso aconteça, “Doutor Estranho” não fica muito longe e consegue estar entre os melhores do ano (volto a dizer, do gênero), feito esse que posso atribuir também, em grande parte, aos produtos Marvel por jogarem com um estilo extremamente comercial, capaz de agradar o público com facilidade, dosando comédia com ação, sem perder o fôlego e/ou as características das personagens criadas inicialmente para as histórias originais.
No filme, Stephen Strange é um médico egocêntrico, de extrema capacidade e inteligência, características essas que o fazem pensar ser melhor do que qualquer outro em sua profissão. Sua visão e pensamento rápido para solucionar problemas que muitos acham impossíveis, o transformam em uma espécie de estrela dentro de um grande hospital de Nova York. Entretanto, seus conhecimentos são inúteis quando sofre um terrível acidente que o deixa com ambas as mãos destruídas. A dor e a tristeza de perder tudo aquilo pelo qual se dedicou durante anos, torna-se um verdadeiro pesadelo na vida de Strange que, depois de tentar inúmeras vezes a medicina ocidental, aceita um conselho de conhecer a sabedoria presente em um outro lugar. Assim, entre dúvidas e desespero, o médico engole o seu orgulho e parte em uma jornada em busca da cura. Todavia, ele não imaginava que o que ele procurava sempre esteve escondido dentro de si mesmo.
Com uma produção magnifica, muito bem elaborada, o filme coloca no bolso vários outros projetos de heróis lançados nos últimos anos. O trabalho, que envolve nomes como David J. Grant (O Homem Formiga, Thor, Guardiões da Galáxia), Louis D’Esposito (produtor de quase todos projetos da Marvel), é riquíssimo em quanto ao visual, trazendo efeitos especiais de tirar o norte de qualquer um, capazes de transportar o espectador para um outro nível de imaginação e, por assim dizer, loucura. Mas é preciso embarcar na história e nas infinitas possibilidades exploradas por essa.
Falando em roteiro, o trabalho de Scott Derrickson, Jon Spaihts e C. Robert Cargill, a partir da criação de Stan Lee e Steve Dikto, só não é imaculável por fugir bastante dos arcos sombrios existentes na história do mago supremo da terra. Os diálogos acabam caindo no padrão Marvel de conquistar o público e, isso, embora seja realmente bem feito, fica a desejar uma vez que a escrita prosaica de Lee possui uma potência singular. Outro ponto “negativo” fica por conta da reconstrução da personagem principal que perde o verdadeiro tom de sarcasmo e mistério, para ganhar piadas um tanto quanto fracas (se comparadas ao trabalho de Lee). Os roteiristas também quiseram explorar um outro lado em relação ao personagem de Mordo, que aparece no filme sendo uma boa pessoa. O que não deixa de ser interessante, mesmo indo contra a história, pois oferece caminhos para possíveis reviravoltas nas próximas produções. No fim das contas a narrativa foi muito bem arquitetada do início ao fim, principalmente para quem não é fã da obra, sem expor nenhuma barriga que faça o filme desacelerar e/ou perder o ritmo de vez.
A direçao de Scott Derrickson, repleta de câmeras nervosas, em movimento o tempo todo, ângulos extremamente diferenciados e profundamente psicológicos, bem como enquadramentos belíssimos que destacam a fotografia, abraça perfeitamente a história que se passa e proporciona ao espectador uma fantástica imersão nesse universo psicodélico concebido para retratar a aventura mística de Stephen Strange.
Ben Davis, experiente profissional por trás de outras obras sobre super-heróis, nos entrega uma fotografia estonteante e realista, tornando o filme ainda mais interessante. Da mesma forma fazem a direção de arte e figurino, que foram capazes de conseguir captar com perfeição o desenho de cenário e vestimentas idênticas ao feito anterior, mantendo de forma sensata os detalhes e paletas de cores do produto.
A trilha sonora de Michael Giacchino, responsável pelo maravilhoso trabalho em várias animações de sucesso e a inovadora Lost, é polida com esmero e faz com que o público sinta-se cada vez a vontade, sendo atraído pelos personagens, bem como o enredo em questão
Com um elenco de estrelas, o filme se completa. O excelente Benedict Cumberbatch, realiza um dos melhores trabalhos de atores voltado para personagens do tipo. Centrado, Cumberbatch desempenha uma interpretação sólida e verossímil. Chiwetel Ejiofor, encarna Mordo com exatidão (Principalmente nas cenas pós créditos), mostrando a amplitude de seu talento em um trabalho diferente de tudo o que já fez. Rachel McAdams está bem, mesmo dando vida a uma personagem que aparece pouco no filme. Com uma interpretação serena, consegue manter o equilíbrio e não se perder diante os diálogos trocados com o principal. Mads Mikkelsen também realiza um trabalho convincente, mas é possível enxergarmos traços de sua atuação como Hannibal Lecter na série de televisão. Sobretudo, é em Tilda Swinton que encontramos uma verdadeira entrega. Sua construção de personagem, de longe, é a melhor do filme, provando de uma vez por todas que é uma das melhores atrizes da atualidade.
“Doutor estranho” pode até não ser o melhor filme da Marvel desse ano, mas é uma ótima pedida e diversão garantida para todos os públicos. Repleto de ação e cenas cômicas para ninguém colocar defeito (principalmente se não for um fanático pelos quadrinhos), a produção tende a ser um dos grandes sucessos de 2016. Vale a pena assistir no cinema, de preferencia em IMAX.
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