Desde “Karate Kid” a narrativa do “jovem prodígio não reconhecido” vem se refinando e amadurecendo em termos de linguagem. Filmes como “Whiplash”, por exemplo, entendem as convenções de seu subgênero e as transcende, ao se transformar em um embate do talento versus capacidade. Nesse sentido é uma pena que “Espirito Jovem” acabe seguindo uma narrativa mais tradicional.
Elle Fanning (“O Demônio de Neon”) é Violet Vlaenski, uma talentosa, tímida e garota fazendeira que sonha em ser cantora. Após passar na fase preliminar de um programa de talentos chamado “Teen Spirit” ela decide se unir com o excêntrico Vlad (Zlatko Burik), um excêntrico ex-cantor que vê nela um enorme potencial.
O diretor estreante Max Minghella (Conhecido pelo personagem Nicky em “The Handmaid’s Tale”) adota aqui uma abordagem intimista ao mostrar o processo musical da protagonista. Ao longo de primeiro ato ele enfatiza a vida na fazenda e o contato de Violet com a natureza, no intuito de estabelecer uma logica causal na qual uma coisa é fruto da outra . E, apesar das sequências na fazenda correrem o risco de ficarem monótonas para um público mais leigo, é onde o filme encontra sua força motora.
Claro, boa parte disso vem de um trabalho arrojado do elenco. Elle Fanning transita muito bem entre a inocência e aptidão artística que compõem sua personagem. É bem constatado a diferença de seu semblante em variados espaços (basta ver a sua morbidez em casa com a mãe, e a energia que ela emana no palco). Outro que merece elogios é Zlatko Burik que apesar de uma caracterização visual quase cartunesca, consegue imprimir uma melancolia bucólica entrecortada com momentos de humor naturais gerados por seu tamanho e comportamento.
E se a escrita consegue aplicar o humor de uma maneira orgânica, o mesmo não pode ser dito sobre criar uma noção de causa e consequências para as ações dos personagens. Mais de uma vez ao longo da projeção, os protagonistas tomam decisões que parecem ser esquecidas momentos depois (como a decisão da mãe de Violet com o cavalo). Isso quando o roteiro não usa algumas soluções tão preguiçosas que beiram ao deus ex machina (vide como nossa protagonista passa a primeira fase do Teen Spirit).
Isso tudo sem contar os coadjuvantes que mudam de personalidade a cada cena que aparecem. As colegas de classe são um ótimo exemplo, já que durante os noventa e quatro minutos do longa há completas mudanças de comportamento que vão do ódio a admiração simplesmente por incapacidade do roteirista em mostrar o reconhecimento social que personagem vivida por Fanning passa a ter.
O filme opta por essas facilitações prezando pelo apelo estético que tem as sequências musicais. O trabalho da direção de fotografia conseguem dar as cenas um dinamismo que funciona como uma recompensa ao público por ter acompanhado a rotina já citada.
Somada a fotografia está o uso eficiente da montagem, que inclui nas sequências musicais trechos de cenas anteriores em que a protagonista contempla a natureza, criando assim um paralelo bem ilustrativo entre o cotidiano e a evolução na performance e na carreira musical da protagonista.
Entre acertos e erros, “Espirito Jovem” acaba por ser um bom exemplo de que velhas fórmulas ainda tem espaço – desde que sob novas roupagens.
Imagens e vídeo: Divulgação/DiamondFilms
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