Patriota demais para bom gosto
Desde o atentado sofrido no dia 11 de setembro de 2011, os Estados Unidos mudaram e o mundo inteiro, de alguma maneira, mudou junto. Foram criadas novas politicas para o turismo e residência no país. Invadiram outros países com o pressuposto de se proteger e/ou proteger o país invadido. Dogmatizaram as pessoas de descendência/aparência árabe e tudo que se fala e tem medo de novos atentados.
Obviamente, essas mudanças também são refletidas no mercado audiovisual. Não só na maneira de se trabalhar como na produção de novas histórias. E então, eis que o terrorismo, ou melhor, eis que os ataques sofridos pelos americanos se tornaram roteiros e viraram filmes. Para o bem ou para o mal, essas histórias reais renderam alguns filmes bons e outros bem questionáveis. Se tratando de “O Dia do Atentado” (Patriots Day), a nova parceria entre o diretor Peter Berg e o ator Mark Wahlberg, ele acabou indo para o segundo caso.
A trama apresenta diferentes personagens que constroem a teia de todo o acontecimento. Tommy Saunders (Mark Wahlberg) é um policial, casado com Carol (Michelle Monaghan), que detesta vestir-se de guarda durante a tradicional maratona de Boston. Nela, no dia 15 de abril de 2013, um atentado terrorista acontece e o FBI, sob o comando de Richard DesLauriers (Kevin Bacon) assume a investigação com o apoio do Comissário Ed Davis (John Goodman) e do governador Deval Patrick (Michael Beach).
Porém, antes que ocorra tal acontecimento, conhecemos um jovem casal formado por Patrick Downes (Christopher O’Shea) e Jessica Kensky (Rachel Brosnahan), e o pai Steve Woolfenden (Dustin Tucker) com seu filho Leo (Lucas Thor Kelly) que também presenciam o atentado. Além dos responsáveis por tal ato, os irmãos Dzhokhar (Alex Wolff) e Tamerlan Tsarnaev (Themo Melikidze), esse sendo casado com Katherine Russell (Melissa Benoist).
Outros personagens também nos são apresentados, para os acontecimentos posteriores ao ataque terrorista. O policial Sean Collier (Jake Picking), que tem um interesse amoroso em uma estudante da faculdade onde faz seus turnos. O chinês Dun Meng (Jimmy O. Yang), um empreendedor e desenvolvedor de aplicativos. E o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons), responsável pela polícia de uma pequena cidade vizinha, e sua mulher Connie (Martine Assaf).
A história desenvolvida por Eric Johnson, Paul Tamasy, Matt Cook e Peter Berg foi roteirizada por Berg, Cook e Joshua Zetumer consistindo na coleta de dados para uma narração até simplória. A força, se é que podemos chamar assim, está no contexto. Os diálogos são triviais, cotidianos, e cercados e polimentos funcionais de operação policial e governamental. O real acontecimento afetou a todos de diferentes maneiras, mas criar tantos personagens a serem mostrados fez com que perdesse o verdadeiro foco.
Não conseguimos sentir empatia pelos personagens porque suas vidas dentro e fora do atendado são rasas. O que, muito provavelmente, queriam mostrar é como diferentes pessoas que sofreram e, direta ou indiretamente, ajudaram a evitar outros ataques terroristas. Mas se analisar bem, é possível perceber que o pouco que mostram sobre eles é tão simples que contar ou não sobre eles antes do acontecido não faria a menor diferença.
A todo momento o roteiro da a intensão de “nós sofremos com isso, mas somos melhores que isso”. Bom, qualquer país que tem um ataque do tipo sofre e ser melhor é uma relatividade. Melhores em quê? Não há dramaticidade suficiente para ser exposta, é uma especie de filme clichê entre o bem (EUA) e o mal (qualquer árabe de qualquer país). Mas sabemos que as coisas são bem mais profundas se tratando de políticas de segurança e sócio-econômicas.
Não suficiente, ao final da parte fictícia há breves depoimentos das reais pessoas que se tornaram personagens. Tentando exercer sobre o espectador uma nova tentativa de se emocionar, quando um dos entrevistados diz que depois do atentado a Boston tocou a consciência de todos sobre o que é viver harmonicamente em sociedade, em união, amando e desejando o melhor ao próximo, o tiro sai pela culatra. É preciso que você e/ou sua cidade sofre uma ataque terrorista para pensar sobre isso? Talvez esses conceitos devessem ser aprendidos em casa, com a educação que os familiares deveriam ensinar e explicar.
Apesar de uma péssima imagem patriota, o longa tem seus pontos positivos. A trilha original de Trent Reznor e Atticus Ross é bem executada e encaixada somente quando necessário. Ela cria uma atmosfera de tensão enquanto em outros momentos consegue dar mais dramaticidade que o próprio roteiro. Junto a eles, ainda nos pontos positivos, temos a direção de fotografia de Tobias A. Schliessler praticamente executada sem nenhuma estabilização direta assim como uma coloração muito próxima ou igual em algumas partes, as imagens reais usadas na dinâmica, embora extensa, edição de Gabriel Fleming e Colby Parker.
A direção de Peter Berg é o que podemos chamar de diligente. Ele que já havia trabalhado com Wahlberg em“O Grande Herói”(2013) e no recente e interessante “Horizonte Profundo“ (2016) sabia o precisava extrair de seu protagonista e o fez. Porém, nem Mark nem qualquer outro ator consegue ser o destaque da produção. Se por um lado não temos um melhor ator/atriz na trama, por outro temos um elenco preparado, em sintonia e com desenvolvimentos palpáveis. Outro excelente trabalho do diretor foi construir visualmente planos e ligações que lincavam os videos reais do atentado a sua decupagem. A mistura entre o documental jornalistico e a ficção tiveram um ótimo casamento.
“Patriots Day” é uma tentativa frustrada se tratando de se colocar como uma nação sofredora por ataques. Quase uma pregação de “A América (do Norte) é a minha casa, minha religião e vida e o resto é fanatismos e ideologias absurdas”. O filme entrega a proposta, uma produção sobre atentado terrorista, mas fica bem longe da realidade dramática necessária.
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