Crianças são, em sua essência, seres munidos de uma criatividade exuberante, porém, é perto da adolescência onde passamos a fantasiar histórias tão absurdas que a deixamos tomar conta de nosso próprio sonho e apenas somos conduzidos por ele a algum lugar mágico ou assustador. Em Sobre Estômagos e Borboletas esse tema é tratado de forma peculiar e criativa, fazendo-nos refletir sobre como é ser criança.
Sobre Estômagos e Borboletas narra a história de uma menina com uma imaginação fértil, que encontra em sua irmã mais nova uma companheira para todas as aventuras, além do melhor amigo atrapalhado. A fotografia do curta é essencialmente bela e perspicaz, dando tons claros a momentos infantis, ingênuos e divertidos, e escurece a medida em que o tom da história passa para as descobertas pré-adolescente das personagens.
Da mesma forma, a trilha sonora funciona de maneira a pontuar cada instante da narrativa. Ela é estonteante na medida certa, mudando de tom de acordo com o desenrolar da história, ainda utiliza – de maneira acertada – momentos em que a música surge para gargalhar junto da cena, lembrando os clássicos filmes mudo.
Os atores mirins também fazem bonito. Maria Júlia dá um show a parte interpretando a personagem principal, é através dela que acreditamos em sua imaginação. Sua segurança no texto que tem em mãos é essencial para o desenrolar da trama e vinculo público-personagem. Ana Clara, a irmã mais nova, não tem muito tempo em cena, mas sua fofura e química com a Maria Júlia dão um ar de verossimilhança a história. Já o Xande, melhor amigo, não esconde seu divertimento em relação ao personagem e exagera em todos seus atos destrambelhados, porém, funciona deveras como um pequeno alívio cômico para o curta.
Contudo, a movimentação de câmera e a montagem são problemáticas. A diretora Angela Rechia decide rodar praticamente todo projeto em plano fechado, uma solução que além de prejudicar essencialmente todo o tema do curta, ainda o faz perder um senso de beleza que resultaria em um melhor impacto sobre a obra. Também existem falhas em alguns planos e contra planos que prejudicam a construção da mise-en-scène. A montagem, por sua vez, provavelmente foi prejudica por falta de mais material, resultando assim em algumas ligações de uma cena para outra ficarem comprometidas em sua passagem de tempo.
Por fim, Sobre Estômagos e Borboletas é uma obra extremamente ingênua e bonita, falando sobre imaginação, descobertas e primeiro amor. Tudo isso fugindo dos acontecimentos tristes da maioria dos filmes infantis sobre o tema. Um curta para crianças e adultos.
Por Will Bongiolo
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Parece que o DNA dos críticos está programado para só encontrar defeitos nos filmes. Quando eu assisto um filme ou espetáculo de teatro, eu espero, apenas, que a história me cative e me prenda até o fim. Foi assim, que, como leigo, assisti ao curta Sobre estômagos e borboletas. De tal forma, que mal percebi o tempo passar. Quando acabou, acabou. Bati palmas, porque assim a obra fez por merecer.