Todos possuem curiosidade sobre como as grandes ideias surgem. Como algo que hoje é visto como banal, foi inventado? Os livros de história e agora a internet estão aí para revelar esses mistérios, mas é no cinema que eles são desvendados através de texturas e movimentos. Filmes como “O Jogo da Imitação” e “A Rede Social” contam como os gênios Alan Turing e Mark Zuckerberg (desconsiderando os seus erros posteriores) criaram o computador e o Facebook, respectivamente. Essas histórias fazem sucesso nas telas porque os espectadores querem entrar nas mentes desses homens notáveis. A bola da vez (bom, nem tanto, já que o filme é de 2017), é “A Batalha das Correntes”, curiosamente estrelado pelo mesmo Benedict Cumberbatch, intérprete de Alan Turing.
A obra do cineasta Alfonso Gomez-Rejon mostra os acontecimentos ocorridos no final do século 19, quando Thomas Edison (Cumberbatch) disputa com George Westinghouse (Michael Shannon) o domínio sobre a distribuição da recém-descoberta eletricidade. Os dois são inventores talentosos, mas Westinghouse possui um maior tino comercial, mais carisma e dinheiro do que o engenhoso Edison. A rivalidade entre os dois é o que faz a trama se desenvolver, ainda mais quando Nikola Tesla (Nicholas Hoult) é inserido na equação, já que se trata de outro gênio excêntrico, assim como Edison. Os conflitos entre esses personagens servem para expor os Egos inflados, os orgulhos feridos, e as tecnologias que saem do papel para tirar o mundo das tremulantes luzes das velas e dos lampiões e o empurrar à modernidade.
Além disso, há um subtexto em “A Batalha das Correntes” facilmente desvendado em um momento em que a tela se divide para mostrar a eletricidade sendo usada para um bem comum, como a iluminação de casas e ruas, e para causas menos nobres, como o primeiro uso da cadeira elétrica para a execução de um criminoso. Enquanto as luzes se acendem e iluminam rostos alegres, um fade out apaga o rosto do criminoso assim que sua vida se esvai. Ou, em outras palavras, a dualidade entre criação e destruição empregada pela ciência toma forma através da narrativa. Os protagonistas, ocasionalmente, também representam essa dualidade, pois Edison usa de atos deploráveis para derrotar seu rival, enquanto Westinghouse, na maior parte das vezes, tenta a conciliação e a união.
É nos protagonistas, inclusive, que o filme expõe sua melhor qualidade, já que, evidentemente, há dois grandes atores em cena. Se Cumberbatch cria um Edison irritado, afetado e sempre distraído com o mundo de dentro de sua mente, Shannon faz de seu Westinghouse um sujeito firme em suas decisões, mas afetuoso com a esposa e gentil com os amigos e empregados. As consequências pela disparidade de seus comportamentos são claras quando o primeiro se afasta dos filhos e não percebe a doença fatal da esposa, enquanto o segundo consegue o apoio incondicional de uma satisfeita companheira e a lealdade dos parceiros mais próximos.
Com a intenção de fazer jus a toda categoria das atuações, a direção de Gomez-Rejon tenta ser vista ao usar uma montagem ágil, alguns planos longos seguidos de transições rápidas e ao se aproveitar da fotografia de Chung-hoon Chung, que usa a cor violeta emitida pelas lâmpadas de qualidade inferior de Westinghouse para cobrir Edison ou o cortar em flares em momentos chave da trama, demonstrado o quão dominado pelo adversário ele está. Esse estilo moderno se intromete no cenário de época e deixa o longa mais convidativo, no entanto, no final, Gomez-Rejon acaba fazendo a mesma cinebiografia que se acostumou a ver no cinema comercial. Claro que o roteiro, por sua vez, não oferece tanto em matéria prima para que a direção possa ousar ainda mais, o que eleva “A Batalha das Correntes” ao hall dos filmes que serão apagados da memória do espectador depois de alguns meses.
Imagens e Vídeo: Divulgação/Diamond Films Brasil
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