Filmes ao estilo “sessão da tarde” são aqueles com histórias simples, leves e otimistas. Quase sempre envolvem crianças, cachorros e algum tipo de superação. Bem, dentre esses três elementos, “A Chance de Fahim” só não possui um cachorro, já que o personagem do título, interpretado por Assad Ahmed, é um garoto indiano que vai à França para fugir de uma guerra civil e para entrar na escola do mestre de xadrez Sylvain Charpentier (Gérard Depardieu). Fahim é um talento dos tabuleiros e espera competir o campeonato nacional francês. As barreiras culturais e a dificuldade do pai do garoto em conseguir asilo aparecem como obstáculos nessa jornada.
Baseado em fatos, a obra de Pierre-François Martin-Laval não sai do habitual ao apresentar uma trama previsível e que não gera grandes emoções. Os seus melhores momentos acontecem durante as aulas ministradas por um rabugento Charpentier, que trata seus alunos como se fossem cadetes em um exército infantil. Alunos esses, inclusive, que são adoráveis, já que ganham as interpretações de atores carismáticos. Um acerto, assim servem de contraponto ao arrogante Fahim, e seu complexo de superioridade que pode irritar em algumas ocasiões. Claro, se trata de uma criança, por isso o sentimento de pena e de solidariedade acabam se sobrepondo a qualquer outro.
Não poderia ser diferente, afinal o garoto sofre um bocado. São tantas adversidades que, se não fosse baseado em uma história real, o roteiro, escrito pelo próprio Martin-Laval, poderia soar exagerado ao tentar impedir através de subterfúgios que o protagonista alcance seus objetivos. Mesmo as suas vitórias, na vida e no jogo, podem gerar a pergunta: será que tudo o que está sendo mostrado realmente ocorreu? Parece muito mais com as reviravoltas e resoluções da ficção. Até a crise de imigração enfrentada pela França parece suavizada, mas isso pode ser explicado pela época que se passa a trama: o distante e um pouco mais amigável ano 2000.
Por isso, nada em “A Chance de Fahim” é grave. O tom otimista impera mesmo quando os “vilões” parecem ter saído vencedores. Claro, em tempos de desespero como os vividos hoje em dia, nada como um afago acalentador, o problema é a forma como o filme é conduzido nesse sentido. A estética televisiva empregada pela fotografia de Régis Blondeau atrapalha a imersão do espectador, enfraquecendo a ligação emocional com os personagens. Infelizmente, uma história tão interessante perde a força por causa das escolhas cinematográficas feitas pelos cineastas.
As atuações simplórias completam o pacote de uma obra que logo cairá no esquecimento. Uma pena, já que poderia servir como crítica de uma sociedade onde a cor da pele e o local de nascimento se tornam primordiais para o sucesso de uma pessoa.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Imovision
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