Pautado no regime salazarista, “Clandestina” utiliza do anacronismo para abordagem inovadora
Baseado nos escritos de Margarida Tengarrinha, “Memórias de Uma Falsificadora – A Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal”, o documentário “Clandestina” aborda os anos onde a autora viveu isolada com sua família falsificando documentos para a resistência contra o regime salazarista. Entretanto, apesar da narração ditar a passagem dos eventos nos anos 50 e 60, vemos os personagens da trama utilizando equipamentos modernos, como computadores e câmeras fotográficas digitais, para fazer o serviço.

Com uma proposta inovadora, a cineasta Maria Mire pretende fazer um aviso, que pode ser visto em tempos futuros como um presságio. A realizadora afirma para o público: “O interesse na realização deste filme prende-se assim tanto com a urgência de tirar da sombra a acção das mulheres que de modo revolucionário combateram neste período negro da história contemporânea portuguesa, assim como o de pensar na dimensão política presente nos pequenos gestos da vida quotidiana”
Extremamente experimental, “Clandestina” pode não agradar a todos
Com um ritmo de narração bem lento, sem falas por parte dos atores, um visual que remete a uma espécie de “vídeo-arte”. Uso de ângulos de câmera estáticos e montagens com motion de interpretações corporais dos atores com máscaras e roupas luminosas. O documentário com toda certeza não possui uma linguagem convencional.

E por possuir uma linguagem extremamente diferente, pode não agradar a todos os públicos, da mesma forma como não me agradou. Na cena inicial, um homem com guizos entra em cena e o incômodo gerado foi o suficiente para me tirar do filme nos minutos iniciais. A narração lenta, contida, e sem grande variações do tom, com nomes por extenso de todas as personagens participantes, se torna chata.
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Com ótimas ideias e uma base sólida (o texto de Margarida), o resultado final parece confuso. Mas desperta a curiosidade para ler os textos de “Memórias de Uma Falsificadora” para conhecer melhor o contexto em que a personagem estava inserida, tendo uma história de vida trágica, a entregando para a militância e sendo reprimida pelo governo vigente.

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