Quando materiais de divulgação de “A Divisão” começaram a aparecer, muitos pensaram se tratar de mais um filme feito para aproveitar a onda ainda presente de “Tropa de Elite” e sua sequência, já que o novo longa de Vicente Amorim também se passa nas favelas do Rio de Janeiro, possui traficantes, policiais e políticos corruptos. Realmente, os detratores dirão que é apenas mais uma história “de favela”, como são conhecidos popularmente essas produções brasileiras. No entanto, o erro de pré-julgar a obra por causa de seu tema, pode tirar de muitos espectadores, e até de alguns críticos, a oportunidade de conferir uma ótima trama, cheia de tensão e reviravoltas.
Até há (boas) similaridades entre “A Divisão” e os populares filmes de José Padilha: as competentes sequências de ação dirigidas pelo experiente Amorim. Os tiroteios são bem coreografados e contam com uma produção digna de Hollywood, o que proporciona um senso de realismo importante para manter o espectador preso à história que tem como base a série homônima exibida na plataforma de streaming globoplay. De resto, são propostas totalmente diferentes.
Aqui, ao invés de uma tropa de guerra da polícia, há uma divisão responsável pelo combate à epidemia de sequestros ocorrida no Rio de Janeiro na década de 90. É neste cenário que os investigadores corruptos Juliano Santiago (Erom Cordeiro), Roberta (Natalia Lage) e Antônio Ramos (Thelmo Fernandes), aliados ao explosivo Delegado Mendonça (Silvio Guindane), tentarão resgatar a filha de um deputado das mãos de um grupo de sequestradores. Como dito acima, cenas de ação estão presentes, mas são com os quebra-cabeças da investigação que o roteiro de Vicente Amorim, Aurélio Aragão e Gustavo Bragança se preocupa.
Como em um bom filme policial, os investigadores precisarão vasculhar documentos, ver e rever gravações de câmeras de segurança e contar muito com a intuição. Lembrando que a tecnologia mostrada na obra não é avançada, já que ela se passa na década de 90. Ou seja, nada de imagens em alta definição e smartphones. Cenas interessantes, inclusive, são criadas a partir dessa falta de recursos, como a ideia de cortar os cabos de quase todos os “orelhões” de uma região onde provavelmente se encontram os sequestradores, deixando apenas um em operação. Como os bandidos usam os telefones públicos para entrar em contato com a família do sequestrado, só haverá uma opção, e ela será vigiada.
Outros momentos de destaque são os embates entre os investigadores corruptos e o correto Delegado Mendonça. A dúvida de Mendonça e, por consequência, do espectador, é se eles estão na jogada porque querem salvar as vítimas dos sequestros ou por algum lucro pessoal. O próprio delegado, na verdade, é correto até certo ponto, pois apela a soluções nada humanas, como a tortura ou mesmo o assassinato. Todo esse conflito de caráteres e intensões é reforçado pela expressiva fotografia de Gustavo Hadba. Nela não há cores vivas, elas são desgastadas e amareladas para externar os valores pessoais de seus personagens.
Aliando os ótimos elementos cinematográficos citados com as boas atuações do elenco, “A Divisão” reforça a qualidade do cinema brasileiro para além das celebradas e premiadas produções autorais. É possível, assim como outras cinematografias do mundo, discutir temas sociais importantes de várias formas possíveis, inclusive através de filmes de gênero. Com isso, a arte nunca morre, já que haverá públicos de variados gostos dispostos a pagar o ingresso.
Video e Imagens: Divulgação/Downtown Filmes
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