Humanidade à flor da pele
As relações humanas são a base principal para qualquer obra, independentemente do tipo de artista que a realize. Se tratando da Sétima Arte, não é diferente e, talvez, seja o exemplo mais perfeito para expor essa humanidade. Contudo, já havia algum tempo que não nos deparávamos com um exemplar significativo, como o drama, e podemos dizer romance, “A Luz Entre Oceanos”, que está para estrear no Brasil.
Após a Primeira Guerra Mundial, o militar Tom Sherbourne (Michael Fassbender) se muda para uma pequena e isolada ilha para cuidar temporariamente do funcionamento de um farol, após a morte repentina do profissional que tinha esse trabalho. Tom assume o posto, vivendo isoladamente enquanto troca cartas românticas com Isabel Graysmark (Alicia Vikander), uma moça que conheceu a pouco na cidadezinha mais próxima, do outro lado do mar. Após um certo tempo, eles assumem o relacionamento e casam-se, passando a morar juntos na ilha. Após dois abortos naturais, um dia eles encontram um barco com um homem morto e um bebê com poucos meses de vida. Tom decide reportar o acontecimento, mas ao ver o sofrimento de sua mulher e a pedido dela, se mantém calado. Porém, anos depois eles descobrem que tomaram a decisão errada e que isso poderá afetar para sempre suas vidas.
O filme é baseado na obra de mesmo nome, Light Between Oceans (título original), escrita por M.L. Stedman, publicada em 2012, e sua adaptação foi realizada pelo próprio diretor, Derek Cianfrance. Nele é possível perceber que houve uma preocupação em silenciar as ocasiões dando foco aos diálogos que fossem relevantes à construção dos personagens e às escolhas feitas por eles. Existem poucos momentos triviais de convivência e se estabelece uma delicadeza importante ao se expor temas como perda e a maternidade.
A direção de Derek, que já nos apresentou os interessantes “Namorados Para Sempre” e “O Lugar Onde Tudo Termina”, resulta numa construção de quadros enriquecidos pela beleza natural da ambientação e a exposição de emoções fortes e íntimas de seus personagens centrais. É como se estivéssemos a observar os mais diversos quadros na parede de um museu, onde pode se perder nas formas que ali se apresentam, porém, sem a delicada Direção de Fotografia, feita por Adam Arkapaw, o resultado poderia não ser tão gratificante.
Para compor o desenvolvimento e lincá-lo à estrutura dramática há a trilha sonora de Alexandre Desplat, que consegue ser graciosa, intensa e romântica, mas em alguns momentos, infelizmente, torna-se desnecessária, dando mais do que deveria ao espectador, fazendo uma dramatização exagerada para uma história que toca por si só.
Em um filme de época dificilmente veremos um departamento de arte desqualificado e/ou despreparado para nos agraciar com um impecável trabalho. A escolha de cores mais neutras alinhadas à escolha das peças usadas pelos personagens consegue dar-lhes suas próprias características. Os objetos de cena alinhados à cenografia não estregam a atmosfera fria de uma Austrália ainda em desenvolvimento, tentando ter sua identidade pelo legado deixado pela colonização, e ainda forte presença, inglesa.
Ainda que o protagonista seja Michael Fassbender, com uma ótima interpretação para o calado Tom Sherbourne, os destaques são as mulheres com toda a presença e força dramática necessária para dar vida às figuras maternais. Talvez esse não seja o melhor trabalho de Alicia Vikander, mas não podemos deixar de reconhecer o quão palpável é o sofrimento de sua Isabel e o quanto é extraordinariamente fácil se emocionar com sua interpretação. Em paralelo, Rachel Weisz, que estava meio sumida dos holofotes hollywoodianos, vem com uma aura delicada e memorável na pele de Hannah Roennfeldt, contrabalançando com a personagem de Vikander, que nos induz a não saber qual posição tomar sobre determinada situação.
Muitos de nós talvez ainda não saibamos o que é ser mãe/pai ou mesmo não sentimos o que é a perda de um filho, mas não deixamos de nos sentir tocados por narrativa dramática. “A Luz Entre Oceanos” possui sim problemas de ritmo, que poderiam ser resolvidos se tivesse um tempo menor de duração, mas o filme se torna tão tocante que suas duas horas são deixadas de lado e imergimos na história, tocados por seu tema. Não se emocionar é quase impossível.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.