“Macbeth” em pedaços pelo olhar do trio de sucesso: Márcia Zanelatto, Paulo Verlings e Carolina Pismel
“A Peça Escocesa”, livremente inspirada em “Macbeth” de Shakespeare, surgiu no cenário carioca de forma atrativa – realizado pela equipe de ouro de “ELA” – e com uma proposta de encenação um tanto quanto curiosa: dois atores encenam trechos da obra – adaptada por Márcia Zanelatto – utilizando microfones e acompanhados por uma banda (e que banda!), num formato bem semelhante a um show sem canto. Segundo os dizeres da própria dramaturga no programa do espetáculo, a intenção principal era revelar o que não foi dito pelo autor. O resultado final no papel decerto foi primoroso, mas no palco deixou bastante a desejar.
O texto está mais do que recortado, está em frangalhos. Só é possível identificar algumas passagens clássicas da obra pelo o que os atores dizem – quem por ventura não leu, não conseguirá entender – seu maior trunfo é se voltar ao olhar de Lady Macbeth (Carolina Pismel), numa época em que o tema está mais latente do que nunca temos uma peça que dá voz aquela que nunca teve. A conclusão a que se chega é de que Márcia Zanelatto acertou no papel, apenas. O espetáculo em si não diz ao que veio.
Paulo Verlings – estreante na dupla função de diretor e ator – e Carolina Pismel estão engessados declamando solilóquios monocórdios, nenhum dos dois delimita as diferenças entre cada intenção – medo, angústia, vingança, prazer, ódio – tudo se torna uma grande histeria que não diz nada. De fato, uma dupla de bons atores que neste trabalho em específico não se saiu bem, ambos vivem um processo catártico dentro de suas individualidades que não chega nem de perto a quem assiste.
A sensação é de que tudo está muito cortado, a plateia precisa fazer um esforço fora do comum para entender a evolução da trama. Como eles não contracenam muito entre si não fica claro se a peça é ligada de forma cronológica, se são momentos isolados aleatórios dos personagens ou se é só a visão de Lady Macbeth. Tudo vai acontecendo sem ritmo, sem uma conexão profunda e…de….forma…muito…lenta… Os dois entram em cena separados e dão passos infinitos até alcançar o microfone e dizer alguma coisa – o impacto da fala perde todo o efeito com esse buraco que deveria criar expectativa, mas é só chato. Isso se repete de diversas formas, seja Carolina Pismel trocando de plano para dar o texto, ou Paulo Verlings se movimentando com o tripé e uma luminária. É sempre uma grande enrolação que esvazia o que eles tem a dizer.
A sequência entre alternar texto, música e show de luzes, assinado por Fernanda e Tiago Mantovani – o maior trunfo do espetáculo – não demora a se tornar previsível e tediosa, até porque estes elementos se tornam a única justificativa para os atores entrarem e sairem de cena. Ainda que a banda seja um escândalo – palmas para a direção musical de Ricco Viana – e a cenografia de Mina Quental dê o toque final em todo o aspecto de show da peça, o que vemos é um belo visual para pouco conteúdo.
O visagismo de Vini Kilesse e os figurinos de Flavio Souza são incríveis e coerentes com a proposta da montagem, os dreads nos atores é uma escolha de bom gosto, assim como o visual rock’n roll que vestem. O espetáculo como um todo tem elementos felizes e impecáveis que falam a mesma língua, porém teatro é feito por atores e pela palavra – estes, por sua vez, não estavam em sintonia. O resultado final é uma bela intenção, com a faca e o queijo na mão que não chega a lugar algum. Uma passagem do texto diz: “A espera é um fardo muito maior que o ato” – o que, por sua vez, vem a calhar no que diz respeito a própria montagem.
Por Rayza Noiá
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