Capítulo ignorado na história, extermínio do povo armênio ganha retrato em forma de épico
Considerado o primeiro do séc. XX, o genocídio armênio – ocorrido em 1915 – é até hoje tratado como “Guerra Civil” pela Turquia, sua principal responsável. Ao contrário de outros massacres igualmente ignorados, este chega aos cinemas no dia 11 de maio no filme “A Promessa”, de Terry George.
A trama parte da história de Mikael Boghosian(Oscar Isaac), boticário armênio que sai de sua aldeia natal para estudar medicina em Constantinopla, usando o dote recebido em seu casamento para custear os estudos.
Na capital, Mikael se envolve com a artista franco-armênia Ana Khesarian (Charlotte Le Bon), comprometida com Christopher Myers, repórter da Associated Press. A situação se complica com o inicio da Primeira Guerra Mundial e do extermínio sistemático da população armênia pela Turquia.
Assim como em “Hotel Ruanda” – longa anterior de George sobre o massacre da minorias tutsi em Ruanda, nos anos 90 – “A Promessa” é construído a partir dos olhos de seu trio de protagonistas – com enfoque em Mikael. E do mesmo modo que em “Hotel Ruanda”, os dramas particulares não sufocam o verdadeiro drama humano em questão.
O desejo de se abordar o genocídio já é antigo em Hollywood. Mas por diversas razões – entre elas, evitar o conflito com o governo turco – vários projetos foram engavetados. Financiado pelo já falecido empresário Kirk Kerkorian (de origem Armênia), o longa-metragem em questão, enfim, concretiza essa empreitada.
Sendo assim, não é a toa que “A Promessa” assume ares de um épico. Somos conduzidos numa jornada inicialmente romântica, que não demora para se transformar em miséria. A fotografia e a trilha sonora estonteantes, acompanham o aspirante a médico desde sua vida na região rural, até Constantinopla – então capital do Império Otomano, além de um centro econômico e cultural -, a prisão e a resistência.
Todos esses aspectos são pensados para fascinar a platéia e reforçar o impacto do massacre e suas perdas humanas e culturais. Embora alguns momentos soem excessivamente melodramáticos, o conjunto funciona, e consegue de fato cativar quem assiste.
Alguns dos acontecimentos e diálogos soam um tanto forçados (a sequência com o embaixador dos EUA, por exemplo, é bastante ingênua, mas nada diferente do esperado por um longa de produção estadunidense). O roteiro, entretanto, mantém o foco em sua premissa e consegue desenvolver personagens interessantes.
O elenco, de uma forma geral, trabalha muito bem e passa credibilidade. O grande destaque vai para Isaac, que tem provado cada vez mais sua versatilidade e ganhado um merecido reconhecimento. Mas tanto Bale quando Le Bon abraçam a jornada de seus personagens e entregam o prometido. Em um filme com uma mensagem tão forte, esse tipo de comprometimento é fundamental.
Do roteiro, outro ponto a ser destacado é a clareza com que desenrola o aspecto histórico. Para os leigos – que provavelmente não serão poucos – fica claro o contexto da época e o desenrolar dos fatos. Embora o início e o fim do longa soem um tanto didáticos, com vinhetas e uma narração em off desnecessária, essa característica não se mantém no decorrer do filme, e este não sai prejudicado.
Mesmo caindo em alguns maneirismos do cinema hollywoodiano, “A Promessa” passa longe dos dramalhões de época vazios. Talvez acabe soando um tanto prepotente em seu objetivo. Porém, é um filme mais do que necessário, já que episódios como este continuam sendo ignorados, e a postura imperialista de grandes potências não mudaram muito nos últimos cem anos (vale lembrar que, apenas 24 anos depois, a Alemanha nazista criou os campos de concentração para judeus e outras minorias).
Um filme não é capaz de reverter o genocídio de um povo ou impedir que outros aconteçam. Mas ao menos, fica como lembrete.
https://www.youtube.com/watch?v=U3ZwKVnpah4
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