“A vida após a vida” (título original: Zhi fan ye mao) é um longa-metragem chinês, dirigido por Zhang Hanyi, que traz uma temática importante, mas com uma ideologia um tanto diferente do nosso habitual. Afinal, será que nós conseguiremos, um dia, tratar da morte com a mesma intensidade e naturalidade que tratamos sobre a vida?
Com Zhang Mingjun e Zhang Li como pai e filho, respectivamente, a narrativa é traçada com tamanha tranquilidade, mesmo logo no início da obra ocorrer a morte de um parente próximo a ambos os personagens principais. E, por mais que, de fato, tenha uma história a ser tratada, não é exatamente esse o propósito deixado por Hanyi.
Após uma ida a floresta a procura por lenha, Leilei e seu pai Ming Chun entram em uma discussão sobre diferentes pontos de vista, típico em qualquer conflito de gerações sobre tecnologia. Sem entender os motivos do pai, o personagem de Zhang Li cisma em correr atrás de uma lebre para dentro da floresta seca – devido à estação. Com a demora do menino, o pai vai atrás e o encontra. Contudo, quem está presente no corpo do menino é sua falecida esposa Xiuing. Sem entender o motivo de sua volta – como se fosse algo normal de acontecer –, a mãe de seus dois filhos explica que precisa de um favor do marido para que ela possa ir embora dessa vida: retirar a árvore plantada há 20 anos, como presente do pai de Xiuing, para ser replantada em outro lugar mais distante. Apesar de desconfiar desse motivo, Ming Chun realiza todos os desejos de sua mulher, inclusive, levando-a, ainda no corpo do filho, para visitar os pais e irmãos deixados para trás.
Mesmo com a ficção tendo como finalidade realizar a vontade de Xiuing e, simultaneamente, ir mostrando o dia a dia da família de três pessoas, mas que, durante os oitenta minutos, só apareceu pai e filho, o filme estrangeiro demonstra vir com uma intenção diversificada. Não que a história seja irrelevante, mas todo o conceito por trás é que merece o maior foco de todos.
A morte do quinto tio de Ming Chun já era esperada e sentida pelo falecido, que pôde avisar de sua chegada ao sobrinho e ainda compará-la com a morte de todas as suas árvores já plantadas. No fim das contas, se suas árvores estavam morrendo, havia também chegado a sua vez. Da mesma forma que os parentes não se assustam com a volta de Xiuing e assistem um membro da família sacrificar uma cabra sem nenhuma piedade, é retratado como a vida e a morte, para esse grupo de pessoas, possuem o mesmo peso e significado. Ambas são partes do ciclo do que todos nós vivemos e, mesmo com a partida de uma, ainda teremos outras muitas experiências pela frente, seja em um corpo humano ou em qualquer outro ser vivo.
Quanto ao aspecto técnico, há algumas ressalvas. A ausência de uma trilha sonora, em muitos casos, consegue dar certo. Contudo, no longa de infinitos Zhang, causa alguns impactos ruins. Isto é, algumas cenas serem deixadas com o som ambiente, como nos momentos mais afastados da cidade, fazem com que a paisagem converse com o clima entre os personagens; em contrapartida, as que aparecem os dois se locomovendo em estradas e avenidas, o barulho alto de outros carros bem maiores exerce um incômodo ao ouvido, além de não deixar explícito o porquê dessa escolha.
Sobre os diálogos, há uma certa contradição: por mais que a relação entre pai e filho seja, claramente, mais distante, sendo o motivo a cultura diferenciada ou não, há algumas deixas simbólicas sendo ignoradas. O “delay” entre uma pergunta e uma resposta, inicialmente, causa um impacto artístico, mas, ao longo do filme, vai caminhando mais para uma monotonia desnecessária.
Agora, no que diz respeito à paisagem, na maior parte dos cenários escolhidos, a predominância oscila entre cores pastéis e acinzentadas. Em certos momentos, como ocorre na panorâmica por cima da cidade, há alguns aspectos esverdeados, porém, não sendo muito característicos da época do ano em que eles viviam.
Na conclusão da narrativa, há alguns questionamentos passados aos espectadores, incluindo, a não explicação completa para a importância de se transferir a árvore de local. Além disso, por mais que existam alguns rodeios e cenas facilmente descartáveis, a premissa do título é trabalhada e desenvolvida, mesmo que como um segundo plano. Ocorre, em uma boa dosagem, a demonstração de que, nas crenças de lá, há múltiplas vidas, que podem se cruzar com as antigas. Ou seja, o nome dado ao produto é plausível ser lido de duas formas: como o assunto a ser tratado, o que acontece depois de vivermos essa existência ou, se olharmos por um lado mais poético, como uma afirmação de que, sim, há vida após a vida. Acredite no que quiser, mas, como um representante de um grupo muito maior, Zhang Hanyi aposta nessa fé e a concretiza em seu produto.
“A vida após a vida” estreia no dia 25 de maio. Confira o trailer:
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