Aqueles que conhecem o cinema sul-coreano já se familiarizam bem com a sua qualidade, tal qual seu estilo único e de características facilmente reconhecíveis; podemos entender um pouco da mentalidade asiática e de questões referentes à ela, algo bem interessante para ocidentais. Os temas que são frequentemente retratados, são de abordagens bem diferentes do que vemos do nosso lado mundo, o que gera um contraste forte, mas que vale a pena ser visto. É também curioso notar que, embora singular, a influência de obras de outros locais do mundo tem conjecturado com produções coreanas e isso acaba gerado resultados de alto nível.
“A Vilã” narra a saga de uma menina que, treinada desde nova como assassina, recebe um acordo de um trabalho que a liberará de tal sina depois de dez anos. Mesmo depois de tal fato, seu passado volta a assombrá-la, por homens que tem ligação com ele e que a afrontam com isso. Temos um filme de ação, que contém traços significativos de mundo distópico. Não seria exagero dizer que somos remetidos à “Oldboy”, tanto em termos estéticos quanto em temática, e também à popular série “Black Mirror”.
Impressiona a forma com a qual as cenas de ação são dirigidas e pensadas. O ritmo é frenético, o que é auxiliado com a montagem e movimentação de câmera, que muitas vezes não conseguimos sequer acompanhar. No que parece caótico, há boas coreografias e atuações de personagens, trazendo um ordenamento relativo da estruturação desses momentos. Planos-sequência são bastante usados e de muito bom gosto, com ênfase para aqueles do início do filme, praticamente nos apresentando a proposta do mesmo. A violência se faz presente também, sendo quase sempre gráfica, não existe pudor ou receio de mostrar sangue jorrando e tripas. E não podemos deixar de mencionar sobre de câmeras subjetivas, que inserem quem assiste naquele universo de violência crua, como se fôssemos a própria protagonista.
Acontece que nada faria muito sentido se não houvesse profundidade na história, boa e instigante. Felizmente, o roteiro nos entrega densidade e uma narrativa que nos deixa a todo tempo interessados, compramos aquilo que é mostrado em tela. Algumas tramas se desenrolam em paralelo, o que pode parecer um pouco complicado. Mas na realidade, é um tipo de quebra-cabeças que vai sendo montado na cabeça do espectador durante a projeção, e que só vem a se completar no terceiro ato.
O que é apresentado de negativo é a montagem, que confunde um pouco com múltiplas linhas do tempo, mas não chega a prejudicar. Dificilmente temos momentos expositivos, muita coisa é mostrada do jeito que se deve. Mesmo com os elementos de ação comentados anteriormente, o segundo ato é mais contido, dá espaço para o drama e para o desenvolvimento dos personagens. Dessa forma, nos envolvemos com o que está ali, não temos um filme genérico de ação que seria normalmente vazio. Os atores, somado a isso, estão muito bem e dão conta de mostrar essa dimensionalidade dos personagens, que é essencial para o que está sendo contado e o progride.
Assim, “A Vilã” surpreende! Consegue realizar com mérito aquilo que pretende, e não faz isso de forma despretensiosa ou que subestime quem o assiste. Cru, violento, ousado e denso. É por obras como essa que o interesse pela produção audiovisual asiática é despertada, atentando-nos para o que ainda vai vir a ser lançado pelo cinema coreano. Com sorte, o Ocidente pode aprender muito com peças como essa, e é esperar para que Hollywood não faça nenhum tipo de remake com ela como tem feito nos últimos tempos. Saber admirar e valorizar o que vem de fora é preciso, sobretudo em casos espetaculares como é com esse filme.
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