Adentramos no espaço sendo impactados sensorialmente por um agradável cheiro que permeia o ambiente e visualmente pela cenografia, assinada por Cris de Lamare, que estimula a curiosidade. De que se trata tudo isso? Terceiro sinal e uma sonoridade incômoda toma conta do blackout e aos poucos vai sendo revelada a primeira figura/personagem/entidade do espetáculo: O Coveiro.
Impactados já desde o primeiro contato com o espetáculo, já não conseguimos mais tirar os olhos das vidas que estão sendo bravamente expostas ali. Movimentos preciosamente desenhados pelo excelente trabalho de direção de Juliana Linhares, direção de movimento de Natasha Jascalevich e de atuação de Vinicius Teixeira. O ator, que encarna vários personagens, consegue arrebatar o público que mal respira para não perder nenhum detalhe das histórias que serão expostas ali. Elas nos divertem, questionam e convidam a refletir sobre como lidar com o fato de que não podemos fugir do nosso destino: Morrer. No fim, tudo vira bosta. São personagens Ficcionais? Reais? A questão é que se tornam tão verdadeiros e pessoais que reviram nosso interior, nos fazem (re)pensar muitas questões de nosso cotidiano, de nossas vidas e, mais ainda, nos instiga à reflexão de para onde estamos caminhando enquanto humanidade? Nos propõe olhar para realidades que geralmente não estamos tão dispostos ou abertos a enxergar.
A ideia de morte assombra o animal humano de forma tão intensa, que passamos a nos esquivar da vida com medo da própria vida. “Adubo” se propõe a refletir sobre a condição do corpo finito e as angústias sentidas quando entramos em confronto com essa natureza.
Destacamos o trabalho físico desenvolvido por Vinicius Teixeira, sob o olhar atento e assertivo de Juliana Linhares, e que contou com a preparação corporal de Eduardo Rios e juntos conseguem atingir uma potência tal que nos aproximam e traz muita identificação com cada um dos personagens apresentados. É teatro vivo que estamos vendo ali! Um estado de presença completa, com detalhes bem delineados de voz e corpo para cada um daqueles seres em cena, que faz com que o espectador também se mantenha mais presente e atento. Temos ali uma atuação que, para quem acompanha a carreira do ator, ainda não tinha tido o prazer e o impacto de lidar, apesar de todos os trabalhos anteriores terem sido primorosamente realizados e, inclusive, terem lhe garantido o Prêmio Aplauso de melhor ator Coadjuvante por ‘Gabriela – O Musical‘, por exemplo. Para quem não conhece o trabalho dele, pode conferir um pouquinho na entrevista que fizemos.
O desenho de luz assinado por Paulo Cesar Medeiros conversa perfeitamente com toda a linguagem proposta pela direção geral e de arte, intensificando momentos chave do espetáculo. O figurino de Karina Sato dialoga em sintonia tanto com a dramaturgia e com a crítica que cada personagem traz em suas narrativas. O texto que foi criado coletivamente entre Tomas Braúne, Juliana Linhares, Vinicius Teixeira e teve participação de Caio Riscado é repleto de poesia ao mesmo tempo que traz uma crítica forte à sociedade de consumo, à indústria alimentícia, às hierarquias sociais entre outras. E é um chamado à nossa humanidade enquanto habitantes de uma mesma terra compartilhada entre seres humanos, o reino animal e o vegetal. É um apelo à nossa essência mais pura, há nossa conexão com a terra que habitamos e que há tempos vem sendo deixada de lado pela correria do dia a dia.
É um espetáculo necessário e urgente que merece a sua atenção. Finalizou uma linda temporada nessa segunda-feira, mas que já ganhou uma nova na própria Sede das Cias na Lapa. Retornando do dia 10 a 20 de Novembro, sempre de sexta a segunda, às 20 horas. Se você não conseguiu prestigiar a temporada anterior, não deixe passar mais essa oportunidade.
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