Para além de James Bond, Jason Bourne e Ethan Hunt, de quantos agentes secretos carece o cinema hollywoodiano? Provavelmente de mais nenhum. No entanto, esta lista majoritariamente masculina revela-se desconfortante em um contexto onde as mulheres aspiram cada vez mais a conquistar um lugar de destaque, e o filme da Netflix “Agente Stone” fundamenta-se em Gal Gadot, uma das maiores estrelas do cinema da atualidade, para tentar entrar no hall dos sucessos dos filmes de superespiões. Contudo, a “tentativa” anteriormente mencionada merece ênfase, visto que o trabalho empreendido pelos roteiristas Greg Rucka e Allison Schroeder, com o intuito de conceber algo inovador, é digno de louvor, porém lamentavelmente insuficiente para rivalizar de modo efetivo com produções como “007” ou “Missão: Impossível”.
Evidentemente, é injusto comparar o primeiro exemplar de uma provável franquia a séries de filmes que já arrastam multidões aos cinemas por décadas. Consequentemente, será preciso que mais histórias protagonizadas pela agente Stone sejam feitas, a fim de possivelmente conferir maior maturidade à proposta e ao artesanato cinematográfico. Afinal, seus primos mais famosos já passaram por isso, basta comparar a qualidade de alguns filmes de James Bond do passado com os mais atuais, e o empenho de Tom Cruise em transformar, com o passar do tempo, “Missão: Impossível” em um produto mais aprazível aos cinéfilos exigentes (ele vem conseguindo, mas com algumas ressalvas).
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Efetuadas as devidas comparações, é plausível afirmar, portanto, que este primogênito “Agente Stone” não é inteiramente descartável, visto que serve de introdução à personagem e às suas motivações, e para formar a equipe para os próximos capítulos, que já tem a boa inserção da hacker Keya Dhawan, uma espécie de Benji em carisma e humor, mas com um pouco mais de charme, principalmente por causa da competência da atriz indiana Alia Bhatt em criar uma personagem cativante. O filme de Tom Harper também ostenta algumas reviravoltas engenhosas durante a jornada de Rachel Stone (Gadot) para derrotar um antagonista que ambiciona a aniquilação de “A Carta”, uma organização internacional e não governamental composta por agentes de elite como Rachel, sob a tutela de uma inteligência artificial. Sequências de ação bem engendradas também precisam ser mencionadas, como uma envolvendo um zepelim high-tech, um helicóptero e saltos de paraquedas.
O problema, infelizmente, é que um bom filme de espionagem não é apenas feito com cenas de ação criativas: ele precisa de um certo grau de subversão para quebrar expectativas, e “Agente Stone”, em determinado ponto, cai em um abismo repleto de clichês, predispondo o espectador a abandoná-lo em prol de outras tarefas. Ou seja, há o típico vilão/capanga mudo dos filmes de James Bond, uma Inteligência Artificial que pode destruir o mundo (eu sei, o tema está na moda), as típicas piadinhas em momentos de tensão, perseguições de carros em ruas estreitas de uma capital europeia, etc. Além disso, o filme ainda possui um vilão unidimensional, cujas motivações superficiais tornam difícil compreender a origem de sua intensa raiva da humanidade.
Em síntese, a recém-empreendida investida da Netflix para lançar mais um sucesso, com o propósito de angariar novos assinantes, tropeça em suas próprias limitações cinematográficas, apesar de ter como protagonista uma atriz capaz de arrastar muita gente para a frente da telinha.
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