“Antologia da Cidade Fantasma” é um nome praticamente perfeito e que define muito bem o que propõe o diretor Denis Côté em seu novo filme. O longa trata de um traumático evento ocorrido numa pequena cidade do interior do Canadá e que muda o cotidiano do local, sua atmosfera. As consequências disso são aquilo que veremos em tela. Aliás, se logo menciono a questão da atmosfera, é importante deixar claro que essa é a principal âncora utilizada por Côté durante toda projeção. Nesse sentido, o termo “cidade fantasma” que aparece no título é muito bem colocado, seja pelas discussões tratadas ou pela estética entregue.
Ainda dentro desse aspecto, o marca logo de cara na obra é o fato de ela ter sido filmada em 16mm e que traga um uso da película tão minucioso e cuidadoso. Tal estética deixa “Antologia da Cidade Fantasma” com tom melancólico e condizente com o rumo que a trama passa a tomar. Há muito branco dominando a tela, que vem em grande parte da neve e dos cenários em que cenas vão se passando, somado aos tons cinzentos e sem muita vivacidade dos habitantes da cidade. O tema do luto e do estranhamento que o acidente que desencadeia os eventos do filme são bastante trabalhados por meio da linguagem estabelecida pelo realizador.
Isso, evidente, sem mencionar características de um thriller que se fazem presentes aqui. O público é provocado e há a insinuação do sobrenatural, sem que haja muita confirmação e o clima do suspense seja mais relevante que quaisquer revelações em si. Nesse ponto, ainda que existam decisões interessantes, “Antologia da Cidade Fantasma” decepciona. Em alguns momentos, fica frágil o equilíbrio entre essa insinuação do terror e o drama que é o principal fio condutor do roteiro, fazendo com que ambas facetas acabem se prejudicando.
Além disso, o longa sofre por ser muito enfadonho. Não há grandes revelações, grandes acontecimentos e tudo depende muito do clima que é colocado em tela. O interesse, que é nas perguntas e nos questionamentos, infelizmente não é suficiente para dar conta de todo o filme. Mesmo que o clima proposto funcione, e funciona bem, como já foi dito, ele fica desgastado por acabar se arrastando demais. Seria mais interessante se a obra fosse mais concisa, o impacto das decisões ganharia bem mais força. A duração nem é muito extensa, o que comprova que o problema é a forma com a qual o enredo vai se desenrolando ao longo do tempo, quais as curvas dramáticas e quais os arcos apresentados.
De conceitos interessantes e prática eficaz, mesmo que um tanto entediante, “Antologia da Cidade Fantasma” é comentário importante sobre assuntos complicados. Até bastante sensível e possui tato dentro disso. Pode até não alcançar odos os méritos que poderia, mas é uma obra com qualidades inegáveis, bem como defeitos pesarosos. De todo modo, vale conferir a crônica da isolada e pequena comunidade que é aqui contada para que então seja possível refletir sobre ela e sobre os debates apresentados.
Imagem e vídeo: Distribuição/Zeta Filmes
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