Da bomba chamada “Esquadrão Suicida” pouca coisa pôde ser aproveitada. A principal delas foi, com certeza, Arlequina, a então namorada do Coringa. Com o sucesso, a personagem ganhou popularidade fora do nicho dos quadrinhos e das animações, e sua imagem foi disseminada pelos cosplayers que começaram a abarrotar eventos geeks mundo afora. A partir daí, evidentemente, houve um grande interesse de transformá-la em protagonista de suas próprias histórias no cinema, o que resultou em “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa”, e seguirá com outros projetos planejados pela Warner Bros. Decisão acertada, já que todos queriam vê-la um pouco mais nas telas.
Nesta nova produção, Arlequina (Margot Robbie, uma atriz em estado de excelência) ainda sofre por causa da separação de seu “Pudim”, contudo mantém o rompimento em segredo e usa da influência dele para ser respeitada e ter alguns benefícios em Gotham. A emancipação só vem quando ela percebe que pode se virar sozinha, e quando precisa ajudar a pequena ladra Cassandra Cain (Ella Jay Basco) a escapar do chefão do momento, Roman Sionis (Ewan McGregor, em atuação afetada, mas condizente com seu vilão psicopata metrossexual), que domina a cidade através de seu nightclub, e que teve um valioso diamante roubado por Cain. Para isso, a ajuda involuntária de Dinah Lance/Canário Negro, que é cantora e motorista de Sionis, de Helena Bertinelli/A Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), uma assassina de sangue frio, e da policial Renee Montoya (Rosie Perez), será importante.
São inúmeros personagens, mas boa parte do público vai comprar ingressos sem se importar com seus destinos. Vão ao cinema pela Arlequina. Com isso, já é bom dizer que “Aves de Rapina” se apoia no carisma da protagonista, e de sua intérprete, para entregar seus melhores momentos. No que diz respeito aos temas feministas, é relevante da forma mais pop e divertida possível. Afinal, os homens são massacrados em cenas de ação bem dirigidas por Cathy Yan, com destaque para a invasão de uma delegacia ao estilo Matrix com lantejoulas e uma cena de luta feita em camas de mola e gangorras. Além delas, a cineasta só não se sai melhor porque repete à exaustão a fórmula da ação, cansando os olhos do espectador quando a projeção alcança a metade da sua duração.
Outro fator prejudicial é a montagem de Jay Cassidy e Evan Schiff, que quebra o ritmo do filme ao inserir atabalhoadamente flashbacks de apresentação dos antagonistas, e ao usar o batido artifício de expor a ficha pessoal de novos personagens através de animações que congelam a imagem assim que cada um deles aparece. Esse último até que proporciona boas piadas porque a própria Arlequina comenta em voz over as suas ligações e opiniões sobres eles, mas é mais um elemento que se esgota, tornando-se meramente artificial com o passar do tempo. Além disso, há o problemático roteiro de Christina Hodson, que esbarra em alguns clichês, no desenvolvimento muito curto de alguns personagens e em alguns furos (Canário Negro domina seus poderes, porém só os usa na resolução do conflito em uma cena específica, que se não fosse por eles, não teria solução plausível/ Um personagem reaparece intacto mesmo depois de cair da janela de um prédio, um outro volta, apesar de ter sido soterrado por escombros).
Problemas a parte, “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” consegue divertir e discutir temas importantes como a sociedade machista, e ainda proporciona mais minutos para a louca mais amada da cultura pop fazer seu show. Por ela, vale a ida ao cinema, ainda mais porque é fotografada pelo artesão Matthew Libatique, que consegue pintá-la com o colorido e as sombras dignas das páginas dos quadrinhos.
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