“Bate Coração” é simples e direto naquilo que quer passar enquanto mensagem. É um filme que fala de preconceitos e da importância da doação de órgãos, ambos bastante importantes e atuais. Não existe nenhuma pretensão de tratá-los com muita profundidade ou densidade, de forma que, mesmo sendo temáticas centrais aqui, são colocadas de modo superficial e ao redor de muita comédia e tom leve. Acaba sendo frustrante que discussões tão fundamentais se façam presentes em filmes fracos como esse, que poderiam alcançar grande público e ser eficiente no que gostariam de passar. E é tão esquecível quantas outras comédias nacionais que, mesmo sendo comédias, pouca graça possuem. Na realidade, quase nenhuma graça, de fato.
O maior problema talvez apareça logo aos primeiros minutos de projeção, que é a semelhança com qualquer filme brasileiro feito para televisão, sem muita preocupação estética ou artística. Há obras ótimas feitas para a televisão, mas é inegável que outras tantas são genéricas e feitas em proporção industrial, sem muita alma, que parece ser o caso de “Bate Coração. Mesmo que seja perceptível nele a qualidade de imagens e algumas sequências com linguagem mais cinematográfica que televisiva, existe uma falta muito grande de ousadia no que diz respeito à linguagem audiovisual.
Bons exemplos disso são os personagens estereotipados, que parecem ter saído de programas humorísticos e que não acrescentam muito para a trama. A maior parte deles, para não dizer todos, é bidimensional e sem nenhum tipo de carisma ou apelo. Aliás, muitos personagens aparecem e geram expectativa de guiar o roteiro por caminhos interessantes, como é o caso de Davi (Brenno Leone), filho da travesti Isadora Sunshine (Aramis Trindade). É alguém colocado como mero acessório e que não parece exatamente se encaixar na discussão central do filme. Sua raiz, que é sobre preconceito e tolerância, parece a única que se firma com mais assertividade, sem espaço para debates paralelos tão importante quanto esse.
Ainda tratando do roteiro, é possível detectar diálogos expositivos em todo momento. Ao invés de revelar informações de jeitos mais criativos e sutis, “Bate Coração” opta pelo caminho mais fácil e ingênuo, sem apostar muito no poder de dedução e raciocínio de seu público. Tudo é muito bem explicado e cai sempre dentro do lugar comum. Fora sua previsibilidade que é alta e faz com que todos saibamos exatamente para onde a história caminha e qual será seu final. Não apenas ingênuo, como já foi dito, mas também insosso e sem graça.
É bem decepcionante, como já foi dito, assistir a um longa-metragem como “Bate Coração”, ainda mais sendo produto de origem nacional. Certamente outros títulos brasileiros lançados em 2019 devem marcar mais do que esse, sem dúvida. Ele acerta em temas que quer abordar e é certeiro nisso, mas não dá espaço para que se faça isso com qualidade e com a atenção devida. Infelizmente é uma obra que não marca, que não é inesquecível, enquanto sua mensagem deveria ser o contrário. “Bate Coração” é uma mistura de novela com propaganda publicitária e e esquete humorística.
Imagem e vídeo: Divulgação/Downtown Filmes
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