Batman: Despertar, é a primeira audiossérie do Spotify em parceria com a DC e a Warner Bros — uma aposta num formato antigo, agora repensado para a era dos podcasts. No ar desde 3 de maio, a plataforma promoveu uma intensa divulgação, contando com coletiva de imprensa com os atores da versão brasileira, outdoors pela cidade e decoração do metrô da capital paulista, etc. — e valeu a pena: a série bateu recorde de audiência no streaming e o conteúdo não deixa nem um pouco a desejar.
De herói a zero?
O que faz de um Batman um Batman? Em um primeiro momento, um Bruce Wayne completamente diferente é apresentado ao público de “Batman: Despertar”: patologista forense, workaholic e sem as memórias de ser o — agora desaparecido — homem morcego. Sem informações a mais, inclusive pistas visuais, resta ao ouvinte tentar desvendar também esse mistério tão às cegas e obscuro quanto a mente do justiceiro de Gotham.
Esse não é o único estranhamento que a audiência, ao menos a mais tradicional, deve passar; para além do formato reinventivo, há uma outra barreira essencial que traz por terra tudo que se acredita saber do Batman: tanto Martha quanto Thomas Wayne, seus pais assassinados naquela fatídica noite pelo Coringa, após saírem de um teatro, estão vivos.
O que pode soar uma brincadeira de fazer torcer o nariz, na verdade é uma oportunidade para que o fã se veja obrigado a colocar novamente seu “primeiro tijolo”, sendo convidado a fazer parte dessa trama que acontece viva ao pé de seu ouvido.
Sob encargo de direção dos experientes Daniel Rezende — nomeado ao Oscar por “Cidade de Deus” — e Marina Santana — dubladora em diversas produções e responsável pelo nacional “Lino” — a adaptação para o nacional é uma série nova a parte: se por sua vez os diretores tinham o material original para adaptar (a versão em inglês “Batman: Unburied”), cada uma das outras 9 versões derivadas tinham carta branca para trazer o tom que a versão nacional lhes pedia.
Se a coletiva de imprensa prometeu uma narrativa em colcha de retalhos, entregou ao público como manda o figurino, oferecendo uma narrativa que é ao mesmo tempo interessante para o ouvinte aficionado por Batman, quanto intrigante o suficiente para manter na expectativa aquele mais avesso ao universo de superheróis — mas certamente louco por uma boa fofoca.
Nesse sentido, Rezende se prova mais uma vez um mestre de transitar entre os gêneros: se conseguiu dar naturalidade e uma explosão de sentimentos reconfortantes com “Turma da Mônica: Laços”, aqui, onde a única coisa capaz de tornar a obra crível e atrativa são os efeitos sonoros e vozes dos atores — que não deixam nada a desejar na atuação — não fica nada para trás em fornecer os apertos no coração das telonas.
A produção, entretanto, peca em algumas partes na evolução do roteiro — o que mais parece ligado ao script original que à adaptação em si. No terceiro episódio há um acontecimento que traz o grande momento deflagrador ao público a respeito da identidade de Batman.
Isso, porém, parece ser ofuscado pelo eventual convencimento do público de que passara os últimos dois episódios sendo enrolado, até porque, ao fim e ao cabo, os principais acontecimentos chave se desenrolam muito rapidamente ao fim.
Não há, contudo, em momento algum a sensação de tédio nos ouvintes: cada episódio é importante e revelador dentro de seu próprio universo. Há alguma “barriga” muito sutil na áudiossérie, e que não chega a afetar a experiência geral e imersiva proposta. Fica ao leitor essa que não é apenas uma recomendação cultural, mas também sensorial.
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